Crítica: ‘Aniquilação’ (Netflix) é regado de metáforas sobre o ser humano

Aniquilação, o novo filme de ficção científica do diretor Alex Garland (Ex-Machina, 2014), estreou na Netflix no último domingo (12). O longa-metragem, distribuído pela Paramount Pictures, foi lançado diretamente na plataforma de streaming – ou seja, sem passar pelas telas de cinema –, mostrando-se, desde o lançamento de seu trailer no ano passado, uma super produção digna de atenção especial.

Inicialmente, somos apresentados à protagonista Lena (Natalie Portman), uma bióloga que já serviu ao Exército norte-americano, e a seu marido, Kane (Oscar Isaac), um militar que saiu em uma misteriosa expedição há 12 meses e nunca mais deu notícias. Em determinado momento, Kane, de maneira muito estranha, retorna à sua casa e reencontra a esposa.

A partir disso, Lena é apresentada a um fenômeno desconhecido. Denominada pelos cientistas de Brilho – que seria uma espécie de efeito de luz prismático, e em um estado aparentemente líquido –, a divisão delimita um campo de energia concentrada. O Brilho tem um aspecto semelhante ao de uma bolha de sabão: ele absorve luz branca e a transforma em reflexos coloridos. Próxima à área demarcada pela redoma do Brilho, graças à queda de um meteoro em um farol, encontra-se um centro de pesquisas chamado de Área X.

O Brilho / Divulgação

Lá, a protagonista é apresentada a outras profissionais – todas mulheres, e muito bem representadas, por sinal –, que se arriscarão a cruzar o perímetro da região modificada. Adentrando na área em questão, Lena, Anya (Gina Rodriguez), uma paramédica; Josie (Tessa Thompson), uma física; Cass (Tuva Novotny), uma topógrafa, e a Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh), psicóloga e líder do grupo, descobrem um “novo mundo”, onde há mutações genéticas em todas as plantas, minerais e animais – incluindo no DNA de humanos.

Na área, as flores, os bichos selvagens, a atmosfera e as nossas próprias células reagem de forma diferente. Isso faz com que as cinco mulheres comportem-se de maneira igualmente distinta ao normal. Assim, o espectador passa a questionar a filosofia e as teorias por trás dessa história.

Muitos acreditam que um bom filme é “aquele que te faz refletir” por um longo tempo. Aniquilação faz exatamente isso conosco. Os recursos, poucas vezes usados em produções blockbuster, faz com que a trama, em seu decorrer, seja mais difícil de ser compreendida. Dessa forma, o longa de ficção científica pode dividir bastante o gosto do público.

Da esq. p/ dir.: Lena (Natalie Portman), Cass (Tuva Novotny), Josie (Tessa Thompson), Dr. Ventress (Jennifer Jason Leigh) e Anya (Gina Rodriguez) / Divulgação
SIMBOLISMOS E COMPLEXIDADE INDIVIDUAL

As atuações são todas competentes e os efeitos visuais e sonoros foram muito bem executados. Além do que, o design de produção encontra, nas cores vibrantes, uma estética extraordinária aos filmes do gênero. O roteiro, entretanto, não pode ser facilmente caracterizado, pelo simples fato de que sua construção narrativa é baseada em simbolismos sutis (a respeito da autodestruição humana).

Há grande riqueza de símbolos nesse filme; algo que instiga a curiosidade do espectador, como em todo bom filme de ficção científica. Isso, com certeza, valida ainda mais a experiência que é assisti-lo. Mesmo assim, a impressão que fica é a de que a história, por si só, não carrega o peso dramático que deveria.

É difícil sentir empatia pelos personagens, a não ser nas cenas de pura tensão, é claro. Apesar das ótimas atuações, parece não haver quase nenhuma profundidade sentimental no filme. Afinal, por mais que o longa-metragem contenha alguma ação, seu foco não é esse. Portanto, não haveria quaisquer razões para excluir a retratação da complexidade individual humana em uma produção como essa; ou melhor, através de seus personagens.

Josie (Tessa Thompson) / Divulgação
LIQUIDAÇÃO AUTOIMPOSTA

Em certos momentos, Aniquilação assemelha-se bastante à notória – e incrível – ficção científica de Denis Villeneuve, A Chegada (2016). Neste último, a linguista Louise (Amy Adams) é convocada a participar de uma investigação sobre um objeto de origem alienígena. No filme, há a questão do desbravamento de elementos desconhecidos, protagonismo feminino, suspense e hipóteses científicas – tal como no primeiro.

Em A Chegada, a mensagem principal talvez seja quanto à reflexão sobre a linearidade (ou não) do tempo. Enquanto que, em Aniquilação, temos o tópico da capacidade de liquidação humana, ou simplesmente terrena, e autoimposta. No entanto, ambos os filmes têm algo em comum: a ideia de ciclo (de algo infinito) inerente ao nosso modo de vida. No primeiro longa, por exemplo, temos a organização do raciocínio lógico através da ideia de tempo. Já no segundo, a própria aniquilação.

Lena (Natalie Portman) / Divulgação

A maior diferença entre os dois filmes citados, ainda assim, diz respeito à qualidade de cada um. Apesar de sua fraqueza dramática, Aniquilação continua a ser um bom filme; o que é ainda melhor, se considerarmos o conteúdo inédito do gênero que vem sendo liberado na Netflix nos últimos tempos – como a série Altered Carbon e o inclassificável filme Mudo –, de qualidade altamente duvidosa.

Em suma, a ficção de Alex Garland apresenta-se de maneira bem produzida. E, para os fãs do gênero, dar o play é totalmente válido. Vá de cabeça aberta, porque você pode se surpreender. Bom filme!

 

Ficha técnica

Ano: 2018

Duração: 1h55

Direção: Alex Garland

Elenco: Natalie Portman, Gina Rodriguez, Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson

Gênero: Ficção científica, Suspense

Distribuidora: Netflix

País: EUA

 

COMENTÁRIOS

1 comentário em “Crítica: ‘Aniquilação’ (Netflix) é regado de metáforas sobre o ser humano”

  1. O êxito do filme se deve muito ao grande elenco que é bastante conhecido pelo seu grande trabalho. Natalie Portman é ótima. Adoro os filmes de ficção cientifica, são muito emocionantes! Li que iam lançar o filme Fahrenheit 451, e o tema não me interessou, mas um dia vi um trailer e fiquei intrigada. Além, ouvi dizer que o filme é baseado em um livro, nunca tinha escutado dele, mas li uma resenha e me chamou a atenção. Também tem um ótimo elenco, como Michael Shannon e Michael B. Jordan. Acho que será um dos melhores filmes lançamentos espero muito do filme, espero que seja umas das melhores adaptações para ver, não posso esperar para vê-la. Acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas.

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