Camocim: a dualidade política do interior do Brasil sob o olhar engajado de uma jovem

Camocim de São Félix é uma pequena cidade do interior de Pernambuco, habitada por aproximadamente 18 mil brasileiros. Ali, a atmosfera pacata dura somente até a chegada dos períodos de eleição, quando a cidade se divide em duas, como torcidas de futebol em dia de jogo. Nessa época, a maioria das pessoas deixa a racionalidade de lado para disputar os conceitos de certo e errado.

É no meio da agitação política e praticamente bipartidária que toma Camocim de São Félix na eleição municipal de 2016, que o diretor Quentin Delaroche encontra, em Mayara Gomes, a personagem central do documentário Camocim. A jovem,  de 23 anos, surge na lente do cineasta como alguém que, no meio de tanta confusão, consegue manter sua motivação para lutar e tentar eleger seu amigo e candidato César Lucena.

‘Camocim’ / Divulgação

Em Camocim (no filme e na cidade), Mayara se destaca por estar disposta a debater ideias com quem quer que seja, indo além da disputa entre “vermelhos” e “azuis” – denominações usadas para não revelar nomes de partidos. Este é o primeiro documentário realizado pelo francês Delaroche no Brasil. O diretor gravou num período difícil. Em 2016, se desenrolava o golpe que culminou no afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Os ânimos estavam aflorados e o país dividido.

Entre tantos sentimentos de desesperança e incerteza, tornou-se comum ouvir por aí que “política não dá em nada” e coisas do tipo. Camocim é, então, a confirmação, a partir de um recorte feito no interior do Brasil, longe de centros e longe de Avenidas Paulistas, de que política é feita por cada indivíduo, para a coletividade.

O filme se atreve, em tempos de “8 ou 80”, a caminhar pelas zonas cinzentas e renegadas da política do Brasil. Lugares por onde simplismos partidários não são o suficiente para explicar as complexidades da vida real. E essa caminhada se dá através do olhar de uma mulher, jovem, lésbica, negra, evangélica e disposta a se posicionar politicamente.

Mayara Gomes / Divulgação

Delaroche teve a sorte de encontrar em Mayara a cara do Brasil que foge às expectativas e que contribui tanto para o tom de seu filme. Ao tê-la como protagonista, Camocim ganha ares contemporâneos importantes, fazendo contraponto à velha engrenagem política defeituosa e “manjada” que impera no Brasil – principalmente em relação a cargos mais regionais, como o de vereador.

A data de estreia do documentário também não poderia ter sido mais oportuna. Justo nesta semana, diversos veículos de comunicação publicaram notícias sobre um grupo formado no Facebook por mulheres dispostas a, juntas, barrarem o avanço da candidatura de um presidenciável cuja campanha é misógina, homofóbica, racista, violenta, intolerante e irresponsável. Na madrugada do dia 12, o grupo já somava mais de 1 milhão de mulheres reunidas, quebrando recorde como grupo que mais cresceu no Facebook em menor tempo.

Mayara trabalhando na campanha de César Lucena / Divulgação

Talvez Quentin Delaroche perca um pouco da força de seu filme ao transitar rápido demais pelas diversas temáticas que se propõe a abordar – como o voto nulo, campanhas que contam com carros de som tocando músicas bregas e jingles improvisados, comícios absurdos e compras de votos. Mas, ao deixar Mayara como fio condutor da narrativa, seu filme definitivamente envia um recado singelo e claro: o futuro não se fará sem a presença das mulheres, principalmente da juventude. Em ano de eleição, o recado cai como uma luva.

 

*Camocim será exibido pela Sessão Vitrine Petrobras, com ingressos a R$ 12 (inteira). Procure pelas sessões da sua cidade na página da Vitrine Filmes.

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Assista ao Trailer:

(Fonte: Vitrine Filmes/ YouTube)

 

Ficha técnica

Direção: Quentin Delaroche

Duração:1h16

País: Brasil

Ano: 2018

Gênero: Documentário

Distribuição: Vitrine Filmes

 

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