Você pode nunca ter notado, mas o catálogo da Netflix não costuma contar com muita variedade de curtas-metragens. Por isso, quando algum filme de curta duração estreia, vale a pena dar uma conferida para saber que tipo de produções estão sendo disponibilizadas pelo serviço. O mais recente lançamento foi o documentário Cartas de Dunblane: Sua Escola, Seu Massacre, Nossas Lições.
Dirigido por Kim A. Snyder, o filme usa seus 22 minutos para falar sobre as consequências de tiroteios em escolas sob uma perspectiva um tanto quanto inesperada: a de dois padres responsáveis por enterrar as vítimas de massacres em suas comunidades. Trocando cartas, eles conversam sobre os impactos que esse tipo de tragédia provoca na vida e na rotina das pessoas de suas cidades.
Logo nos primeiros momentos somos transportados à Escócia de 1996, quando um homem armado invade uma escola na pequena cidade de Dunblane e mata quase todas as crianças e a professora. Na época, o padre Basil O’Sullivan foi quem enterrou as vítimas e lidou com toda a dor e sofrimento que pairava no ar.
Quase duas décadas depois, O’Sullivan fica sabendo de um outro massacre, cometido em uma escola infantil dos EUA. Ele decide, então, enviar cartas ao padre Bob Weiss, responsável pela paróquia local. Nas cartas, o padre escocês tenta descrever ao americano como tragédias desse tipo abalam a comunidade e como ele vai precisar se esforçar para carregar o peso da dor de tantas famílias.
No geral, Cartas de Dublane não se aprofunda nas questões que envolvem desarmamento. A produção parece se preocupar mais em buscar a empatia do público revelando o pós de grandes atos de violência, a partir do olhar de pessoas que não estão envolvidas diretamente, mas que também sentem os acontecimentos com pesar porque fazem parte da mesma sociedade – a princípio uma sociedade limitada ao tamanho da cidade palco do massacre e, depois, sociedades separadas por oceanos que demonstram que, independente do país, os danos da violência são os mesmos.
Contrariando possíveis expectativas, o filme não dialoga diretamente com as discussões brasileiras recentes sobre permitir ou não o porte legal de armas a civis e nem oferece dados para enriquecer esse tipo de discussão. O que Cartas de Dunblane faz, na verdade, é delicadamente demonstrar que nada de positivo pode sair de um cenário de violência. Não importa quem atira, o resultado catastrófico sempre será o mesmo.
Através dos processos de luto em comum, os dois padres delineiam uma espécie de perfil de comunidades abaladas por massacres. Assim, o filme dedica apenas dois momentos para dar algumas poucas informações sobre a importância de esforços em prol do desarmamento. Além disso, somente os letreiros usados no final do curta chegam a falar sobre como Europa e EUA lidam com essa questão de formas diferentes e sobre como permitir armas tem relação indissociável com o aumento de casos de massacres de jovens e crianças.
Se você procura por obras que abordam com mais profundidade a temática do armamento de civis, essa pode não ser a mais eficiente para contemplar suas necessidades. No entanto, a produção funciona bem como material de apoio complementar para os interessados no assunto.
Ficha técnica
Direção: Kim A. Snyder
Duração: 22 min
País: EUA
Ano: 2018
Gênero: Documentário
Distribuição: Netflix
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