Em cartaz nos cinemas desde a última quinta-feira (24), Boi de Lágrimas, longa-metragem nacional de Frederico Machado, é uma síntese de um grito sufocado. Grito, este, que vem de uma frustração para com a atual situação política do Brasil. Assim, buscando algum significado na arte, Machado entrega-nos um filme essencialmente poético – e simbólico.
Mais parecido com um videoclipe do que com um longa convencional, Boi de Lágrimas conta a(s) história(s) de personagens sofridos, e através de um silêncio questionador. Sem diálogos e, por vezes, em preto e branco, o filme aborda a relação de uma jovem da periferia de São Luís, no Maranhão, com o ativismo político. Além disso, uma mulher grávida, um tocador de pandeiro e um homem misterioso fazem parte do enredo singular da produção brasileira.
A perspectiva crítica de Machado, quanto ao governo do país, é evidente. Dentre gritos de “fora, Temer!” (ao ex-presidente da República Michel Temer) e trechos documentados de manifestações de diferentes épocas, a direção marcante de Boi de Lágrimas revela-se sob o domínio da câmera. Dessa forma, a poesia cinematográfica presente, que deslumbra os olhos perdidos dos espectadores, é a base da experiência sensorial que é assistir ao filme.
Se você espera por um enredo altamente elaborado e uma trama envolvente, pode frustrar-se com a produção de Machado; já que obviedade e literalidade não são características da mesma. Ao mesmo tempo, a intensidade e a entrega das atuações são um ponto forte do longa-metragem. Talvez, a subjetividade pouco pretensiosa do diretor possa atrapalhar a clareza das relações entre os personagens. Mas, ainda assim, o trabalho de Machado parece ser totalmente autoconsciente.
Longe de querer ser entendido – mas, sim, sentido – Boi de Lágrimas mistura, também, o simbolismo presente na figura das formigas com o proletariado humano brasileiro. E, essas cenas, sim (de filmagens de formigueiros), podem ser mais facilmente absorvidas por espectadores perspicazes. Pequenas e extremamente fortes, as formigas deixam bem claro o seu papel.
Boi de Lágrimas é, portanto, uma junção de ideias distintas de seu diretor, numa tentativa de trazer significado àquelas imagens – aparentemente – desconexas. Talvez, por isso, o longa-metragem tenha apenas cerca de cinquenta minutos. E, durante seu (contado) decorrer, buscamos por uma resposta; que nunca vem. Assim, a produção brasileira traz-nos mais perguntas do que as que já tínhamos antes dar o play – e tudo bem, com isso.
(Assista ao teaser abaixo):
Ficha técnica
Direção: Frederico Machado
Duração: 1h05
País: Brasil
Ano: 2019
Elenco: Hilter Frazão, Auro Juriciê
Gênero: Drama
Distribuição: Lume Filmes
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