Guerra Fria: as micropolíticas da vida pessoal

É numa tela quadrada que o filme Guerra Fria, dirigido pelo polonês Pawel Pawlikowski, conta, em preto e branco,  a intensa e sinuosa história de amor entre a cantora Zula (Joanna Kulig)  e o músico Wiktor (Tomasz Kot).

Essa história começa no final da Segunda Guerra Mundial, quando o comunismo e o capitalismo se estabeleciam no mundo como forças contrastantes. Na Polônia desse período, o Stalinismo emergia como regime autoritário e mudava, aos poucos, as micropolíticas cotidianas.

Viajando pela zona rural do país, Wiktor e sua companhia de espetáculos procuram cantores regionais para trabalharem em uma montagem de música e dança. Em uma das audições, ele se encanta pela espontaneidade de Zula. Assim, a jovem é contratada e os dois passam a viver um romance furtivo.

Zula (Joanna Kulig) / Divulgação

A certa altura, os protagonistas tomam caminhos opostos. Wiktor deixa a Polônia e seu grupo para partir em busca de liberdade pessoal e artística, mas Zula não consegue abrir mão de certo grau de segurança que conseguiu como cantora no espetáculo onde trabalhavam juntos. De tempos em tempos, os dois voltam a se cruzar pelas rotas da vida, em países e situações diferentes, mas sempre muito apaixonados.

Entre encontros e desencontros, a relação do casal se mantém, atípica e arrastada por 15 anos de uma jornada de descobertas sobre o que significa ser livre e realizado em diferentes regimes políticos ou sob quaisquer condições pessoais.

Pawel Pawlikowski opta por usar a macropolítica mundial dos anos 1950 como pano de fundo de seu longa-metragem. Nele, o importante são as idas e vindas. Causas e consequências das chegadas, partidas e passagens de tempo nunca são completamente delineadas; assistimos aos fragmentos dos anos de Wiktor e Zula compreendendo apenas que eles funcionam como ímãs potentes que se atraem, independente de suas localizações geográficas ou emocionais.

Zula e Wiktor (Tomasz Kot) / Divulgação

Os protagonistas de Guerra Fria são rebeldia, raiva, alegria, desesperança, liberdade, frustração… Tudo que acomete o ser humano em períodos de conflitos dualistas. Seu romance é como um encontro entre potências de sim e não, de possibilidades que, assim como os ciclos históricos, repetem-se exaustivamente e nunca oferecem muito mais do que um dia já ofereceram.

Pawlikowski se vale da micropolítica da vida pessoal de dois artistas para retratar – com certa melancolia poética – uma época de incertezas e dúvidas sociais. Wiktor e Zula vivem um relacionamento com o mundo, nunca uma relação entre duas pessoas somente. Às vezes se conhecem profundamente, outras vezes não se reconhecem mais. O ciclo funciona assim até a exaustão, quando os sentidos de continuidade, interrupção e liberdade são ressignificados.

Guerra Fria está indicado ao Oscar 2019 de Melhor Diretor, Melhor Fotografia e Melhor Filme Estrangeiro, e estreia no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (7).

Assista ao trailer:

(Fonte: Califórnia Filmes/ YouTube)

Ficha técnica

Direção: Pawel Pawlikowski

Duração: 1h28

País: Polônia, França, Reino Unido

Ano: 2019

Elenco: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc

Gênero: Drama, Romance

Distribuição: Califórnia Filmes


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