Crítica: As Telefonistas (4ª Temporada)

Atenção: Este texto contém spoilers!

Quando estreou em 2017, As Telefonistas, primeira série espanhola original Netflix, tinha um propósito muito claro: apresentar-se como uma novela com quatro protagonistas mulheres que enfrentariam, juntas, o machismo da Madri do anos 1920; transformando-se nas primeiras operadoras de telefonia da Espanha. 

‘As Telefonistas’ / Divulgação

Agora tendo sua quarta temporada recém-disponibilizada pela plataforma, a produção começa a apresentar sinais de desgaste. Trata-se de uma série que certamente cativou um nicho de público, tornou-se sucesso de audiência e garantiu espaço como uma das precursoras das “séries feministas originais Netflix”. Os resultados vieram: em apenas três anos, quatro temporadas foram lançadas. 

A essa altura, porém, já estamos profundamente familiarizados com Lídia (Blanca Suárez), Marga (Nadia de Santiago), Carlota (Ana Fernández García) e Ángeles (Maggie Civantos). Conhecemos suas personalidades, questões e ambições; torcemos por elas. Precisamos, então, de mais do que conflitos estendidos desde os primeiros episódios. Não há evolução nesta temporada. O que há, na verdade, são arcos repetitivos e despropositados. 

A NOVELA

O dramalhão de As Telefonistas nunca foi um problema. Se for boa a novela, a abordagem de temas importantes consegue conviver perfeitamente com sequestros de crianças, desencontros amorosos e vilãs megeras. As próprias personagens da série já provaram ser suficientemente eficientes em conduzir a trama com um ótimo equilíbrio entre entretenimento e relevância de conteúdo. Nesta nova leva de episódios, no entanto, falta ao roteiro ir além; falta possibilitar que essas mulheres respondam a novos desafios e apresentem outras características.

O triângulo amoroso de Lídia, Francisco (Yon González) e Carlos (Martiño Rivas), por exemplo,  já deu voltas à exaustão. O relacionamento “complicado” de Óscar (Ana Polvorosa) e Carlota também já foi usado convenientemente diversas vezes; bem como as dificuldades de Carlota com a política.

Imagem: divulgação

A família Cifuentes, completamente disfuncional, parece agora incapaz de render além do que já rendeu. Ángeles, após se livrar do marido abusivo, ficou à deriva na trama e a solução foi um quase envolvimento com Cuevas (Antonio Velázquez). 

Além disso, há a apelativa recuperação de Francisco. Baleado ao final da terceira temporada, o personagem passa um ano em coma para depois acordar saudável e proativo;  sem memória, mas plenamente disposto a ajudar a amada com um plano mirabolante.

No fim das contas, Marga aparenta ser a única que ainda consegue seguir em frente e driblar as ideias duvidosas do roteiro, que dessa vez sufocou todas as outras personagens. 

É verdade que muitas vezes o bom dramalhão pede certa dose de excesso e exige que façamos algumas concessões em nome da emoção e do envolvimento. Por outro lado, recorrer a facilitações repetitivas e narrativamente precárias sob o respaldo de ser uma novela, simplesmente para lançar mais episódios o mais rápido possível, é no mínimo injusto com a audiência fidelizada no início da jornada.

PARA ONDE VÃO AS GAROTAS DO CABO?

Apesar das várias debilidades dos novos episódios, o desfecho da temporada dá a entender que alguns ciclos viciosos finalmente encerraram-se.

Lídia partiu com Francisco e a filha para os EUA. Marga abriu uma consultoria de contabilidade. Óscar e Carlota foram para Paris. A época da companhia telefônica, que as uniu no início, parece ter chegado ao fim.

Imagem: divulgação

Pela primeira vez desde o primeiro episódio em 2017, as amigas estarão separadas. Basta saber se isso será usado como respiro para o crescimento individual de cada uma delas, colaborando com a evolução do coletivo, ou se logo as telefonistas serão reunidas e lançadas de volta ao centro dos mesmos conflitos de sempre. 

Em suma, a quarta temporada erra ao não explorar o que tem de melhor: a diversidade de personalidade de suas protagonistas e a possibilidade de, justamente por ser uma novela de época, apostar em cargas dramáticas mais complexas e integradas com o período. 

Fica a expectativa, então,  de que a ambientação dos próximos episódios na Guerra Civil Espanhola, como é indicado nos últimos minutos desta temporada, traga novidades tanto para a trama e as personagens quanto para a identidade da série. Veremos a Guerra Civil sob a perspectiva das mulheres? 

Crítica da 5ª Temporada – Parte 1 aqui.
Crítica do final de ‘As Telefonistas’ aqui.
Leia também: A Casa das Flores reinventa o dramalhão mexicano na Netflix

Ficha técnica – 4ª temporada

Criação: Gema R. Neira, Ramón Campos, Teresa Fernández-Valdés

País: Espanha

Ano: 2019

Elenco: Blanca Suárez, Yon González, Maggie Civantos, Nadia de Santiago, Ana Fernández, Ana Polvorosa

Gênero: Drama

Distribuição: Netflix

COMENTÁRIOS

4 comentários em “Crítica: As Telefonistas (4ª Temporada)”

  1. Eu sempre torci pelo Carlos , ele já e pai da filha dela , enfrentou a família e perdoou varias mancadas dela. A Lidia é muito instavél emocionalmente o que foge ao contesto de mulher determinada.

  2. A bem da verdade, a série vinha bem até o assassinato do marido violento (Mário). Depois, daquilo, o charme inicial de perdeu e o enredo enveredou num folhetim policial cheio de situações esdrúxulas que viraram regra especialmente à partir da 3ª temporada. Por exemplo, aquele resgate da Sara da clínica médica foi muito ridículo. OK. É uma obra de ficção, mas poderaim ter se dado ao trabalho de fazer algo um pouquinho mais elaborado.

  3. Queria deixar um comentario, achei a serie um novelão, confeso que as 2 primeiras temporadas me deixaram muito empolgada, queria ver mais e mais, porém quando cheguei as ultimas duas achei que ficou meio chato, mas não desisti de ver pois sempre amei Francisco e sempre quis que ele e a Lidia/Alba ficassem juntos. Sempre achei Carlos muito submisso as chantagens e mentiras da Mãe, depois de tudo que a bruxa da Mãe dele fez, ele sempre acabava cedendo e mentido pela mãe dele, claro a Lidia/Alba também errou por diversas vezes mas não justifica. Francisco sempre esteve ao lado do grande amor dele, sempree ajudou e fez tudo por ela,e mesmo quando tentou engar ela não conseguiu porque o amor dele sempre falou mais alto, torci muito por eles. Cheguei ao fim e espero pela proxima.

  4. A série tem pontos altos e baixos como em qualquer outra, mas achei uma falta de criatividade em relação ao persogem Francisco um dos melhores. Começou como alto executivo que conquistou seu espaço com seu próprio esforço e entre a 3 e a 4 temporada se torna um homem comum demais para o personagem. O Carlos que na minha opinião continua um menino mimado pela mãe transformasse em um executivo respeitado. Desculpa mas não entendi esse desfecho. Por mas que Lydia insista em ficar com Carlos por conta da filha e de uma paixão inexplicável por ele o personagem Francisco se perde em meio das indecisões da mesma. Uma pena isso. Esperava bem mais do personagem!

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