Big Mouth (Netflix): 3ª temp. é ainda mais divertida

Uma das principais animações adultas – originais – da Netflix, Big Mouth está de volta com dez novos episódios. Disponível na plataforma de streaming desde a última sexta-feira (04), a terceira temporada da série traz histórias ainda melhores que as anteriores; tal como investe no aprofundamento das características de seus personagens.

Os pré-adolescentes Nick (Nick Kroll), Andrew (John Mulaney), Jay (Jason Mantzoukas), Jessi (Jessi Klein) e Missy (Jenny Slate) permanecem inseguros quanto aos seus processos de puberdade. Nick, que passara por algumas trocas de Monstros Hormonais – seres fantasiosos que comandam a transição da infância para a adolescência dos humanos –, agora está sob os cuidados de Connie (Maya Rudolph), uma Monstra de hormônios femininos.

Connie (Maya Rudolph) e Nick (Nick Kroll) / Divulgação

E, por mais estranho que isso pareça, já que Nick é um menino, a situação rende discussões pertinentes; como a de que alguns garotos são mais sensíveis do que outros, tanto física quanto psicologicamente; ou como a de que cada corpo desenvolve-se de uma maneira, e em seu próprio tempo.

Além de Nick, Connie resguarda a maturação sexual de Jessi, a menina empoderada e sagaz que enfrentara um quadro depressivo na temporada anterior. Ainda afetada pela separação dos pais e pelo relacionamento lésbico da mãe, Jessi demonstra, cada vez mais, seu potencial de liderança e um autoconhecimento surpreendente. Assim, a jovem encabeça um protesto contra a repressão à vestimenta feminina em sua escola, logo no início da temporada; e, também, começa a descobrir o próprio corpo com o incentivo de Connie e da personificação de sua vulva – com quem a menina conversa através de um espelho de mãos.

Maury e a masculinidade tóxica

Enquanto isso, do outro lado da história, o Monstro Hormonal masculino, Maury (Nick Kroll), influencia Andrew em decisões impulsivas e pouco assertivas. Ou seja, ao mesmo tempo em que é necessária à evolução sexual do pré-adolescente, a malícia indiscriminada de Maury faz com que Andrew constranja-se em excesso. Um momento que exemplifica isso é a insistência que o menino nutre em declarar-se para Missy, que já não mais corresponde ao sentimento.

A partir daí, aliás, um tema importantíssimo é explorado em Big Mouth: a masculinidade tóxica. Todos os meninos da série contribuem, ainda que ingenuamente, na manutenção do patriarcado. Então, quando esses personagens criam listas das meninas mais atraentes da escola, por exemplo, ou ao posicionarem-se contra a “Marcha das Vadias” das mesmas, eles mostram a naturalização do machismo nas sociedades modernas.

Falar mal de mulheres, objetificá-las e incentivar comportamentos LGBTfóbicos vêm desde a primeira infância. Portanto, ainda que de forma cômica, a produção da Netflix retrata essa realidade de maneira responsável e consciente.

Connie (Maya Rudolph) e Maury (Nick Kroll), os Monstros Hormonais / Divulgação

Orientação e vícios

Ademais disso tudo, outras questões comuns à adolescência são evidenciadas em Big Mouth. Uma delas é a confusão psicológica quanto à própria orientação sexual, através da figura bissexual de Jay; e, outra, refere-se à aproximação romântica de um casal homoafetivo, como é exposto a partir de Matthew (Andrew Rannells).

Mas, nem sempre os temas discutidos na série resumem-se a sexo e relacionamentos. Paralelamente, as contradições da tecnologia digital – graças à popularização de smartphones e ao fácil acesso à internet – também aparecem na terceira temporada. Durante a adolescência, o uso excessivo de aparelhos tecnológicos é ainda mais comum, visto que pessoas muito jovens têm dificuldade de disciplinarem-se em prol da própria saúde. Por conseguinte, a manifestação da dependência nesses aparelhos é mote de um episódio inteiro.

Por fim, há mais um vício que recebe o devido destaque na produção. Após descobrir seu déficit de atenção, Jay, que inicia um tratamento medicamentoso, torna-se traficante da droga na escola – em plena semana de provas. Sendo assim, a ingestão inadequada do medicamento, realizada por Nick, Jessi e, até mesmo, pela certinha Missy, deixa os pré-adolescentes neuróticos e hiperativos.

Da esq. à dir.: Lola (Nick Kroll), Jessi (Jessi Klein) e Missy (Jenny Slate) / Divulgação

Entretenimento inteligente

Divertida e espinhosa, Big Mouth brilha pela coerência com sua proposta inicial, além de avançar na história e na contextualização de seus personagens. Embora seja direta e pouco autocensurada, a pertinência dos assuntos abordados é fundamental a todos.

Pela classificação indicativa de 16 anos, o conteúdo pode ser restrito, mas as reflexões propostas pela série são de fácil disseminação. Isso significa que aprender com a produção da Netflix é algo totalmente possível, assim como o entretenimento está garantido.

Missy (Jenny Slate) e sua Monstra Hormonal, Mona (Thandie Newton) / Divulgação

Ficha técnica

Criação: Nick Kroll, Andrew Goldberg, Mark Levin, Jennifer Flackett

País: EUA

Ano: 2019

Elenco: Nick Kroll, John Mulaney, Jessi Klein, Jason Mantzoukas

Gênero: Animação, Comédia

Distribuição: Netflix

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