Vaga Carne e Sete Anos em Maio: dois representantes da excelência do cinema mineiro

Programados para estrear em sessão conjunta nos cinemas, somando 86 minutos de duração, os médias-metragens mineiros Vaga Carne, de Grace Passô (Temporada, 2019)  e Ricardo Alves Jr, e Sete Anos em Maio, de Affonso Uchôa, têm muito em comum. Primeiro, por abordarem questões de extrema relevância para a esfera pública brasileira: ambos se desenrolam como potentes monólogos sobre o existir dos corpos negros numa sociedade fundada em racismo, violência e invisibilização. Além disso, são filmes de média duração, formato pouco exibido em circuito comercial.

“Os médias-metragens geralmente têm dificuldade para serem exibidos até mesmo nos festivais de cinema. Estes dois filmes, além de serem produzidos por importantes artistas da cena mineira, possuem diversos pontos de diálogo e me pareceu que a reunião dos dois, numa mesma sessão, faria muito sentido, para além de permitir a estreia comercial, em salas de cinema.”, explica Daniel Queiroz, diretor da Embaúba Filmes, a distribuidora responsável pelo lançamento das duas obras.

VAGA CARNE  

Uma voz ocupa um corpo vago. Fluindo por suas entranhas, ela tenta entender como movimentá-lo; como conviver com ele. Com roteiro, codireção e interpretação principal de Grace Passô, Vaga Carne transporta para o cinema um monólogo teatral homônimo também escrito e interpretado por ela.

‘Vaga Carne’/ Divulgação

Nos primeiros instantes, tela preta. Apenas áudio. A voz se apresenta num fluxo de pensamentos. Depois, a atriz performa o encontro entre voz e carne. Começamos então a compreender os dilemas existenciais de um fenômeno aparentemente metafísico e surrealista – mas profundamente conectado com a materialidade da vida das mulheres brasileiras.

Enérgico, o texto excepcional de Passô se comporta como um manifesto sobre o ser mulher negra; sobre o encontrar e projetar da própria voz; e sobre corpo, política, afeto e sociedade.

SETE ANOS EM MAIO  

Dedicado ao preto que morreu cedo demais, Sete Anos em Maio trata, inicialmente por meio de alegorias e depois através de depoimento, da história da noite em que Rafael dos Santos Rocha foi brutalmente torturado pela polícia de Contagem. E quem conta essa história é o próprio Rafael.

‘Sete Anos em Maio’/ Divulgação

Negro e periférico, o personagem representa vivências e vulnerabilidades de uma enorme parcela de homens marginalizados na sociedade brasileira. Aqui, porém, Rafael não surge como estatística. Como no longa-metragem Arábia, de 2018, o diretor Affonso Uchôa permite que seu personagem fale; que ele construa narrativa sobre si mesmo – e dessa vez, por se tratar de um filme documental, o protagonista também leva o nome creditado no roteiro. 

Então, conforme relata uma traumática experiência pessoal, Rafael denuncia o Brasil da violência, da segregação, do racismo, da desigualdade e do fascismo; o país cujas engrenagens massacram gente. 

Juntos, portanto, Vaga Carne e Sete Anos em Maio dão conta de questionar os lugares políticos dos corpos de mulheres e homens negros no Brasil contemporâneo; além de serem dois importantes representantes da excelência do cinema que tem sido realizado em Minas Gerais.

Trailer:

(Fonte: Embaúba Filmes/ YouTube)

Ficha Técnica – Vaga Carne

Direção: Grace Passô, Ricardo Alves Jr.

Duração: 45 min

País: Brasil

Ano: 2019

Elenco: Grace Passô

Distribuição: Embaúba Filmes

Ficha Técnica – Sete Anos em Maio

Direção: Affonso Uchôa 

Duração: 42 min

País: Brasil

Ano: 2018

Elenco: Rafael dos Santos Rocha

Distribuição: Embaúba Filmes

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