[Coluna] BBB 18: a polarização das redes sociais na tela da Rede Globo

Começou, no último dia 22, mais uma edição do Big Brother Brasil. Sim, é a 18ª temporada do “BBB”. São 18 anos de Big Brother Brasil na tela da TV, no meio do povo. Em 18 anos, muita coisa aconteceu. Teve casal, triângulo amoroso, barracos, traições, Bambam e a boneca Maria Eugênia, fofocas, mais barracos, e as preocupantes denúncias de pedofilia, assédio e agressões contra participantes mulheres. Nem Pedro Bial (ex-apresentador do programa) resistiu ao tempo, sendo substituído por Tiago Leifert em 2016.

Naturalmente, depois de tantas edições, o formato se esgota. Nas primeiras vezes em que o reality show foi ao ar, a produção tentava recrutar participantes “gente como a gente”. Depois, houve edições nas quais todo mundo parecia um modelo fotográfico, e, em seguida, acabaram voltando a procurar gente “real”. Agora, a última moda é selecionar participantes com comportamentos específicos que, se bem manipulados no dia-a-dia da atração, funcionam como personagens de uma novela.

Não que antes não houvesse essa intenção, mas, se agora o Brasil está visível e politicamente polarizado, por que não atender descaradamente à demanda da polarização? Colocar várias pessoas diferentes na mesma casa, isoladas e sem roteiro, para observar como elas convivem, tem lá suas limitações. E, se você selecionar cuidadosamente o perfil de quem vai entrar na casa mais vigiada do Brasil, a trama pode se desenrolar “melhor” do que novela das nove.

Existem muitos relatos de pessoas que tentaram fazer parte do programa Global e alegam que as várias etapas do processo seletivo visam determinar que função tal pessoa ocuparia. Ou melhor, qual seria seu papel na novela da vida real. Assim, são selecionados aqueles que demonstram talento para os papéis pré-estabelecidos. Afinal, um bom enredo novelístico precisa da vilã ou da mocinha.

E qual seria a novela da vez? Bem, o BuzzFeed publicou, na semana passada, um pequeno dossiê elaborado a partir das redes sociais dos novos “brothers”. Foi aí que algo inédito saltou aos olhos. Se antes o programa havia buscado audiência via polêmicas que colocam pessoas em papéis opostos, – como “a feminista” e “o machista”, por exemplo –, agora, ele traz as diferentes personas das redes sociais. Sabe a sua timeline do Facebook? Ela foi parar no BBB!

Nessa lista de participantes consta: o cara que compartilha posts da página Orgulho de Ser Hétero e é anti-Lula, a garota mística e bruxa, a outra que colabora com o site dos Jornalistas Livres e ama um showzinho no Sesc (e quem não ama?), o mocinho fitness, a moça do Acre que tem fotos com Lula e Dilma, e, por fim, mas não menos importante, o cidadão que se veste de Homem-Aranha e faz dancinhas divertidas – um verdadeiro meme.

Participantes do ‘BBB 18’ / Divulgação

Curioso mesmo é perceber tantos perfis de gente, aparentemente de esquerda, selecionados para um dos programas mais conservadores do Brasil. Isso é que é capitalizar a polarização do país. Se apenas 5% da população brasileira aprova o governo Temer, que venham a nós os “Fora Temer”. E que rendam boa audiência, já que esse tipo de briga sempre rende um bafafá nas redes sociais (e fora delas).

Essa nova edição do Big Brother Brasil – que coloca, confinados na mesma casa, o homem branco privilegiado anti-Lula e a garota que só pôde fazer sua faculdade graças aos programas do Governo Lula – é a mais pura espetacularização dos impasses sociais do país. E, ao mesmo tempo em que traz esse tipo de conflito, também complementa o elenco com o pessoal “de humanas”, que gosta de astrologia e acessa portais de mídias alternativas.

De cara, a internet amou a escalação do elenco do BBB 18. Muita gente saiu pelas redes sociais dizendo que, pela primeira vez, foi fácil gostar de vários participantes logo no início. Claro que foi fácil. A própria internet já os conhece, e ela própria produz essas figuras. No ambiente online, já convivemos com essas personas.

Por outro lado, pessoas são mais do que seus personagens virtuais. Os participantes podem ter sido escolhidos a dedo para cumprirem determinadas funções estratégicas de narrativa no programa de entretenimento, mas ainda eles são seres que possuem suas subjetividades. Ninguém esperava que o participante Kaysar, refugiado da guerra na Síria, fosse dizer, em rede nacional, que é melhor ganhar o “monstro da semana” do que acordar com o barulho das bombas em seu país de origem.

Mesmo assim, estamos falando de um programa que se sustenta através da exploração midiática e da espetacularização de vidas. Se essas pessoas vão ou não cumprir à risca o papel a que foram destinadas – sendo elas pró ou anti-Lula, machistas ou feministas, de direita ou de esquerda, místicas ou céticas –, ainda não sabemos. Mas, por melhores ou piores que elas sejam, esse formato de programa segue sendo muito questionável.

 

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