Dirigido por Juliana Rojas e lançado comercialmente em 2016, Sinfonia da Necrópole agora está disponível no catálogo da Netflix. A trama, ambientada quase inteiramente dentro de um cemitério paulistano, é protagonizada por Deodato (Eduardo Gomes), um aprendiz de coveiro que não leva muito jeito para o ofício e vive desmaiando, impressionado pela proximidade com a morte.
A rotina de trabalho o aflige, e, por isso, mesmo com o emprego por um fio, o rapaz prefere passar o tempo tocando o órgão da capela às escondidas. Quando a administração do cemitério decide começar um recadastramento de túmulos, com o intuito de lidar com a lotação do lugar, Deodato ganha uma nova oportunidade de mostrar serviço: caberá a ele auxiliar com as burocracias o agente do serviço funerário que está para chegar.
Mas o tal agente é Jaqueline (Luciana Paes), a independente, corporativista e enérgica Jaqueline. Suscetível, Deodato logo se deixa envolver platonicamente por ela; o problema é que a mulher sequer cogita viver um romance. Além disso, as decisões práticas tomadas por ela a respeito do trabalho são diretamente opostas à sensibilidade de Deodato em relação ao outro – ainda que os outros, neste caso, sejam os mortos perturbados pelas obras.
Na superfície, uma anedota sobre o amor platônico. De fundo, uma crítica sobre a verticalização dos cemitérios. Assim podemos descrever Sinfonia da Necrópole.
“A NECRÓPOLE É UM ESPELHO DA CIDADE”
Tendo como conjuntura os dilemas da superlotação no sistema funerário da megalópole que é São Paulo, portanto, esta crônica de Juliana Rojas mistura elementos do horror com cenas musicais originais para comentar a burocratização de todas as esferas da vida e o empilhamento dos corpos nos centros urbanos – os corpos mortos, aqui, como espelho dos vivos.
O resultado é um filme pitoresco, tão autoral quanto popular. Um filme de personagens encantadores; absolutamente cotidianos e, ao mesmo tempo, insólitos. Habilidosa na combinação de gêneros cinematográficos, a diretora e roteirista encontra no realismo fantástico seu espaço preferido de exercício do registro atento das dinâmicas humanas mais singelas.
Surpreendentemente leve, embora ligeira e estrategicamente mordaz, Sinfonia da Necrópole tem como essência o melhor do estilo Juliana Rojas de fazer cinema – estilo também presente em As Boas Maneiras, longa-metragem dirigido em parceria com Marco Dutra, e na série Boca a Boca, de Esmir Filho.
Trailer:
Ficha Técnica:
Direção: Juliana Rojas
Duração: 1h25
País: Brasil
Ano: 2016
Elenco: : Eduardo Gomes, Luciana Paes, Hugo Villavicenzio
Gênero: Romance, Comédia Dramática
Distribuição: Vitrine Filmes
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