Nas atuais circunstâncias políticas, em que as compreensões acerca das ideologias de esquerda e de direita estão muito em voga, o lançamento de um filme com o tema de A Espiã Vermelha – em exibição nos cinemas desde a última quinta-feira (16) – é muito bem-vindo. Isso porque o longa-metragem estrelado por Judi Dench é inspirado em fatos reais, e explora os limites entre moral e posicionamento político em tempos de guerra.
Nas proximidades da Segunda Guerra, a inglesa Joan Stanley (Sophie Cookson), uma estudante de física da Universidade de Cambridge, conhece os jovens comunistas Sonya (Tereza Srbova) e seu primo Leo Galich (Tom Hughes) – este último, por quem se apaixona perdidamente. À medida em que Joan torna-se mais íntima do rapaz, sua crescente admiração pela ideologia do governo soviético compromete sua lealdade para com a própria nação. E consequentemente, a intelectual é convocada pelo Comitê de Segurança Russo (KGB) para servir como espiã de Stalin, líder da União Soviética, no Reino Unido.
Já no início deste século, uma Joan idosa (Dench) relembra seu passado angustiante e – já não tão – secreto, enquanto é interrogada por agentes do Serviço de Inteligência Britânico (MI5). Assim, a juventude da protagonista é mostrada em flashbacks, que se intercalam continuamente com a linha temporal mais recente. Diversos personagens relevantes compõem a história de Joan nas duas épocas, o que auxilia no entendimento do espectador do filme quanto ao que a britânica realmente esconde. Posteriormente, nos é revelado o papel direto da personagem em um dos maiores eventos históricos do século XX.
Por mais interessante e exagerada que essa história possa se mostrar, a trama de Joan – adaptada do romance de mesmo nome do longa e escrito por Jennie Rooney – é um reflexo da vida de Melita Norwood, uma real espiã britânica da KGB. Daí, o aparente romance agridoce de A Espiã Vermelha cede lugar à representação de uma figura feminina extremamente importante da História Contemporânea.
Independentemente do caráter de Joan (ou de Melita), sua história é muito mais sobre humanidade do que sobre traição política. Para além de suas ideologias, as motivações da protagonista para tanto gradualmente apresentam uma mulher em conflito quanto às suas melhores opções, não apenas a uma nação ou a uma base aliada, mas para o bem comum em âmbito mundial. Isso fica evidente no diálogo da Joan de Dench, na última cena do filme, que, humildemente, pondera as consequências de suas atitudes passadas.
É válido apontar, também, que a produção jamais coloca as ideologias políticas da personagem como errôneas ou descabidas; mas deixa, na verdade, abertura para que o público decida por si próprio de que lado ficar; e enxergue Joan como uma simples mulher, mas posta em uma situação delicada e perigosa – a todos os envolvidos, aliás. Mesmo que o longa dê bastante enfoque à vida pessoal e romântica de Joan, ainda é possível justificar tais interferências na trama e, ademais, encontrar sua relação com o meio profissional da protagonista – o que é o centro do filme.
De formato convencional, A Espiã Vermelha pode ser muito mais do que um romance e é, simultaneamente, um drama com bastante suspense – ainda que sua verossimilhança possa ser injustamente tida como desconfiável por alguns. Afinal, tanto drama e reviravoltas foram inspirados em fatos reais; o que torna a experiência de assistir ao filme em algo bastante proveitoso (tanto informativo quanto agradável).
Ficha técnica
Direção: Trevor Nunn
Duração: 1h42
País: Reino Unido
Ano: 2019
Elenco: Judi Dench, Sophie Cookson, Stephen Campbell Moore
Gênero: Drama, Suspense, Espionagem
Distribuição: California Filmes
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