[Coluna] BBB 18: A edição que tentou se reinventar e caiu nas graças da internet

A 18ª edição do Big Brother Brasil começou, no final de janeiro, já chamando atenção pela seleção de participantes. Ficou claro que a produção escolheu a dedo perfis de pessoas que poderiam engajar a internet, colaborando para o aumento da audiência. Personagens que, pelo menos à primeira vista, representassem estereótipos de figuras da própria internet, como a influenciadora digital, a que filosofa sobre a vida, o hipster, o engraçadão que vira meme ou o que faz “textão”.

Mais do que envolver a audiência no espetáculo do reality show ou nas clássicas tramas de novelas com romance e intriga, essa edição do BBB conseguiu também aderir aos conflitos virtuais típicos das novas gerações. Talvez esta tenha sido a edição com menos barracos na história do Big Brother, mas foi a que teve mais confronto de ideais e de posicionamentos.

Logo na primeira semana, por exemplo, o sexólogo Mahmoud se ofendeu ao ser chamado de “viado” por Ana Paula, já que a “bruxinha”, como ficou apelidada, nem o conhecia e não tinha intimidade para tratá-lo assim. O atrito levou à grande primeira briga e dividiu a casa em grupos. O grupo de Ana Paula também desmereceu a participante Gleici inúmeras vezes, além de serem enfáticos ao criticarem a integrante Paula, dizendo que ela estava no programa apenas para flertar e mostrar o corpo.

Todas essas situações logo geraram revolta no público e a internet instituiu quem seriam os vilões da edição. A partir de então, não havia mais apenas um show da vida real com pitadas de novela, havia um embate ideológico direto entre tudo que se discute intensamente no virtual e o que é retrógrado – representado pelas colocações de certa forma preconceituosas de muitos “brothers”.

Outros posicionamentos do elenco do BBB18 também repercutiram negativamente nas redes, como quando alguns participantes opinaram que seria melhor que um brasileiro ganhasse o programa e não Kaysar (refugiado da Síria), ou quando Jéssica colocou um “bigodinho de Hitler” e fez uma saudação nazista.

No entanto, o conflito que permeou quase todo o programa foi a amizade e parceria que nasceu entre Gleici e Ana Clara, duas mulheres de 20 e poucos anos que nunca abaixaram a cabeça para ninguém e, por isso, foram atacadas e chamadas de soberbas e arrogantes – principalmente por participantes homens.

Ana Clara e Gleici /Reprodução: Big Brother Brasil – Rede Globo

Ana Clara e Gleici (ou Gleiciana, como foram “shippadas” pelos internautas) representam exatamente a geração de pessoas que, hoje, usa muito mais a internet do que assiste TV. O companheirismo delas virou pauta justamente porque é na internet que se fala, cotidianamente, sobre sororidade e união entre mulheres.

Ali, num jogo espetacular da TV aberta, onde pessoas competem por dinheiro, elas representavam, juntas, as demandas e posicionamentos das novas gerações. Ao serem atacadas, parte da internet se sentiu também atacada, e isso fez com que a dupla se destacasse como favorita ao prêmio.

Desde a edição passada, em 2017, o programa vinha tentando aumentar sua presença online. Na época, foram criados programas que eram exibidos exclusivamente nos sites Gshow e Globo Play. Antigamente os eliminados saiam “da casa mais vigiada do Brasil” e começavam sua jornada pela programação da Rede Globo (Mais Você, Domingão do Faustão), porém, desde o ano passado, eles saem já produzindo conteúdo original e exclusivo para a internet.

Nesta edição, esse tipo de conteúdo foi mantido, mas com algumas alterações. A principal delas tem a ver com a votação: a partir desta edição só é possível votar no site do Gshow. Ou seja, inegavelmente, se o participante for querido pela internet suas chances no jogo são muito maiores.

A Rede BBB, composta por boletins diários, mesas-redondas e bate-papo com os eliminados, passou a ser comandada pelas ex-bbbs Fernanda Keulla e Vivian Amorim. As duas ficaram responsáveis por intermediar as interações entre elenco do programa e público – que participou ativamente via redes sociais. Os sites também foram alimentados 24 horas do dia – e ao longo de toda a duração da edição – com pequenos vídeos de tudo que acontecia na casa. Uma espécie de quase Pay Per View gratuito.

Rede BBB / Reprodução: Gshow

Além disso, o próprio programa, exibido na TV e apresentado por Tiago Leifert,  passou a adotar uma linguagem mais virtual. Toda terça-feira um VT chamado de Big Treta Brasil era exibido. Ele resumia a semana simulando um grupo de whatsapp formado pelos participantes, e contava até com memes enviados pelo público. Às quintas-feiras, o novo líder da semana também ganhava o direito de ver alguns memes seus feitos pelos espectadores.

Apesar das novidades divertidas, o ápice de audiência do BBB18 foi o retorno de Gleici. Eliminada em um falso paredão, a acreana ficou alguns dias isolada num quarto com o direito de ver tudo que todos faziam e falavam na casa. Ela mesma comparava a reviravolta de sua trajetória com o enredo da personagem Clara, de O Outro Lado do Paraíso, novela global das 21h. A internet, claro, comprou a narrativa e produziu diversos memes e gifs.

No dia em que Gleici foi liberada para sair do quarto e voltar ao jogo, o reality apresentou o maior pico de audiência em anos e a produção não só comprou a comparação com a novela de Walcyr Carrasco, como também a trilha sonora da personagem e os memes da internet. A hashtag do momento, #GleiciDoRetorno, conseguiu ficar entre os Trend Topics do Twitter. Gleici, então, retornaria ao jogo e se vingaria dos inimigos que antes ela não sabia ter, mas que tentaram eliminá-la.

De acordo com matéria do Uol, essa edição do programa global conseguiu alcançar sua melhor audiência desde 2010. Além disso, a melhor semana, em relação ao Ibope, foi a da falsa eliminação de Gleici, entre 5 e 11 de março.

De fato, a comoção gerada tomou proporções de final de novela e Gleici passou a ser considerada protagonista da edição e forte candidata ao prêmio final, o que culminou em outro efeito interessante: briga de torcidas.

No BBB 17, a campeã Emily já contava com a enorme movimentação de fãs nas redes sociais, uma torcida que, com certeza, a ajudou a levar o prêmio. Mas, na edição deste ano, as torcidas dos participantes se portaram como torcidas de futebol no campo em pleno dia de final entre times rivais. Antes do retorno de Gleici, Kaysar era um forte candidato ao prêmio por sua história de vida e por sua personalidade extrovertida, mas, quando Gleici retornou, o favoritismo ficou dividido.

Com todos esses elementos, o BBB 18 conseguiu se consolidar como uma mistura de tudo que o entretenimento tem a oferecer. Desde briga de torcidas, passando pelas semelhanças com a novela exibida no horário nobre da emissora, até uma prova de resistência absurda realizada na última semana, que durou mais de 40 horas e nos fez lembrar, assustadoramente, de Jogos Vorazes.

Assim, a atração, que misturou – literalmente – , novela, jogo, reality, internet e ação, conseguiu abandonar a fama de fórmula em decadência e, como demonstram os dados de audiência, voltou a figurar com força na agenda do público brasileiro.

 

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