(ATENÇÃO: Este texto contém spoilers de Capitã Marvel!)
O mais recente blockbuster de super-heróis é sobre uma mulher – e os ânimos não poderiam estar mais aflorados. Capitã Marvel, em cartaz nos cinemas desde a última quinta-feira (07), é a aposta da Marvel Studios para seu primeiro filme solo de super-heroína. No longa-metragem, somos apresentados à Carol Danvers (Brie Larson), que, depois de retornar por acidente à Terra, em plena década de 1990, desenvolve sua personalidade e torna-se a personagem título da produção.
Capitã Marvel é o quarto filme solo de uma super-heroína da “díade” Marvel e DC Comics. As produções anteriores resumem-se em Mulher Gato (2004), Elektra (2005) e a mais recente Mulher-Maravilha (2017) – cuja qualidade é inigualável às duas primeiras. A partir deste último título, e após o lançamento de séries de TV protagonizadas por mulheres – como Jessica Jones (2015 – presente), Supergirl (2015 – presente) e Agente Carter (2015 – 2016) – a representação das heroínas dos quadrinhos em telas modificou-se bastante.
FEMINISMO COMERCIAL
Diferentemente da hipersexualização pela qual passam a Mulher-Gato de Halle Berry e a Elektra de Jennifer Garner, a Diana Prince (Mulher-Maravilha) de Gal Gadot apresenta-se como uma mulher doce, mas empoderada; ingênua, mas profundamente sábia e forte. Além do que, tal como Capitã Marvel, o filme solo da Mulher-Maravilha é o primeiro protagonizado por uma mulher – do atual universo cinematográfico da DC, no caso.
Ainda que ambas Carol e Diana dividam a alcunha de “super-heroínas do momento” na cultura pop, o feminismo comercial de seus filmes é uma das poucas semelhanças entre eles. Em Capitã Marvel, a personalidade da protagonista assemelha-se à de outra heroína dos quadrinhos Marvel: Jessica Jones. Isso, basicamente, porque Carol Danvers não performa (tanta) feminilidade, é direta e não leva desaforos para casa.
Danvers é um ser humano com poderes, que usa-os para lutar contra forças do mal e que, por acaso, é também uma mulher – mulher esta que não nega o próprio gênero e exige respeito, independente de qualquer coisa.
Simultaneamente, para que o espectador não se esqueça de prestar atenção na contextualização da super-heroína – de relevância fundamental ao universo cinematográfico da Marvel, por sinal –, a origem da personagem é contada rapidamente e de modo alinear – segundo alguns flashbacks de sua vida antes de deixar a Terra. Dentre lapsos de memória e algumas elucidações de Carol, sua história é quase que inteiramente comprável.
ESSÊNCIA
Mas, retomemos à figura de Danvers no longa-metragem. Ela faz careta para seu algoz – e ao espectador –; bebe cerveja em um bar norte-americano rústico; pilota aviões; veste jeans e jaqueta nas horas vagas, e também uma armadura que cobre todo o seu corpo, quando em ação (uniforme bem diferente do da Mulher-Maravilha, inclusive).
Dessa forma, mesmo que fora da ordem cronológica – e tal como a própria narrativa do filme –, todas as situações e características descritas compõem a essência da Capitã; ou seja, daquela que nunca precisará da opinião de maliciosos para fazer qualquer coisa.
Ainda que caia no chão diversas vezes, Carol sempre levanta-se, em busca do sucesso de seus projetos e do investimento em si mesma. Logo, a capacidade de resiliência de uma personagem feminina como essa é ponto fundamental na construção de sua representatividade. A Capitã está ali; dando porrada em homens e voando pelos céus, mas, para além disso, o seu comportamento mais contido já é o suficiente para enfatizar sua força.
RESISTÊNCIA
Evidentemente, a falta de interesse amoroso de Danvers auxilia na lógica empoderadora da produção. Sem insistir em clichês românticos, Capitã Marvel aposta na amizade mais espontânea e sincera, a partir da relação da protagonista com Nick Fury (Samuel L. Jackson) e Maria Rambeau (Lashana Lynch). É realmente satisfatório assistir à sororidade recíproca que existe entre Carol e Maria, tal como ao desenvolvimento do afeto entre a super-heroína e Fury – o que reforça a naturalidade de uma amizade entre gêneros opostos.
A trilha sonora surge como um reforço à lógica “girl power” dos anos 1990 no longa-metragem. Bandas como Garbage, No Doubt, Hole, Salt-N-Pepa, Elastica e TLC embalam as cenas de ação com seus vocais femininos.
Mesmo que o filme represente muito pouco na escala de produtos artísticos com impacto efetivo, ele pode ser a ponta de um iceberg que esconde muitos outros avanços na cultura pop, em geral. Carol Danvers é um ótimo exemplo às meninas, cujas noções de sucesso normalmente estão atreladas ao amor romântico e heteronormativo.
Em Capitã Marvel, a protagonista mostra-nos que uma mulher independente e poderosa pode vir de caminhos totalmente ignorados (e mascarados) pelo patriarcado. Ao final, a contenção de Brie Larson pode ser vista como um sinal de antipatia por olhos menos atentos; mas, para muitas mulheres e demais pessoas familiarizadas com a causa feminista, a expressividade que a atriz, direção e produção do filme constroem para Danvers é sinal de resistência.
Ficha técnica
Direção: Anna Boden, Ryan Fleck
Duração: 2h04
País: EUA
Ano: 2019
Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Jude Law
Gênero: Ação, Fantasia
Distribuição: Disney / Buena Vista
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