Estreia: ‘Chega de Fiu Fiu’ mostra por que o feminismo é tão necessário

Após quatro anos de produção, o documentário brasileiro Chega de Fiu Fiu, inspirado na campanha de combate ao assédio da ONG Think Olga, teve sua primeira sessão de exibição em São Paulo, na última terça (15). Previsto para entrar em circuito comercial, o longa-metragem – que só foi possível graças à arrecadação de mais de 1200 contribuintes no site do Catarse – conta com diversas entrevistas e três personagens principais: Teresa Chaves, de São Paulo (SP), Rosa Luz, de Brasília (DF), e Raquel Carvalho, de Salvador (BA).

Pensado para ser um curta-metragem, o crowdfunding do documentário teve início no final de 2014 e se encerrou no começo de 2015, triplicando a meta de produção. Devido ao sucesso da campanha, as diretoras Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão puderam trabalhar em um longa sobre o assédio sexual em espaços públicos.

Raquel Carvalho, participante do documentário / Divulgação

Chega de Fiu Fiu é, acima de tudo, uma ferramenta de estudo sobre a dinâmica feminina em centros urbanos. Além de filmar o dia a dia de três mulheres completamente diferentes – uma jovem transexual e periférica, uma professora de História de classe média e uma estudante pertencente a todos os grupos oprimidos (negra, gorda, nordestina, pobre e casada com uma mulher) –, o filme destaca o discurso de especialistas no assunto.

Há momentos especiais em que a prática da documentação é levada ao extremo; enquanto assistimos a um grupo de homens discutindo a questão do assédio, presenciamos, através de óculos com microcâmeras, as protagonistas serem vítimas de abuso em plena luz do dia. Dentro de ônibus, vagões, a pé, de bicicleta, sentadas ou correndo…nos deparamos, em peso, com a cruel realidade dessas – e de todas as – mulheres.

Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão, as diretoras do filme / Divulgação

Até mesmo para quem vive o assédio sexual diariamente, enxergar com os olhos de Raquel, Teresa e Rosa, mesmo que por alguns minutos, é chocante. É terrível saber que Teresa opta por não usar uma saia confortável ao andar de bicicleta pela cidade. É nauseante ter de acompanhar o percurso que Rosa faz da faculdade até sua casa, no meio de um matagal deserto e já escurecido pela noite. E é devastador saber que Raquel sorri para seus assediadores, todos os dias, com medo de que lhe façam algum mal por raiva.

Segundo uma pesquisa realizada pela Think Olga em 2013, de 7762 mulheres, 99,6% afirmam já terem sido assediadas. Da quase totalidade de participantes vítimas de assédio, 83% dizem não gostar de receber cantadas. Isso indica a urgência de um sistema de ensino que priorize a educação de gênero em nosso país. Ao mesmo tempo em que temos homens abusivos em situações de poder, temos mulheres sequer conscientes de seu próprio direito ao espaço público.

Ilustração de Gabriela Shigihara / Divulgação

Através da fala de profissionais, vamos a fundo na história da urbanização e de como as cidades, do modo que as conhecemos hoje, se transformaram em locais de imposição dos homens sobre as mulheres. Enquanto andamos de cabeça baixa, o sexo masculino sente-se livre ficar sem camisa, vestir shorts curtos ou assobiar para uma de nós. Uma simples buzinada pode ter um significado completamente diferente para os dois gêneros; como a sinalização de um mero conhecido ou uma tentativa de abuso.

Chega de Fiu Fiu (o filme) instiga, informa, ensina e educa. Nossa sociedade precisa estar à par de que assédio é o oposto de cantada, e de que é, sim, possível fazer uma denúncia mediante diferentes tipos de constrangimento sexual. Consentimento é somente o que falta para alguém ser assediado. Assim, daremos um pequeno passo dentro da luta pela equidade entre os gêneros, para, futuramente, conseguirmos lançar pautas tão ou mais urgentes do que a proposta pelo filme.

Trailer original:

(Fonte: YouTube / Think Olga)

 

Ficha técnica

Ano: 2018

Duração: 1h13

Direção: Amanda Kamanchek, Fernanda Frazão

Elenco: Rosa Luz, Raquel Carvalho, Teresa Chaves

Produtora(s): Think Olga, Brodagem Filmes

Gênero: Documentário

País: Brasil

 

*Próximas exibições de Chega de Fiu Fiu

 

Sessão especial em São Paulo

CineSesc, 23 de maio, quarta-feira, às 21h.

Seguida de debate com as diretoras do filme e Think Olga.

* Entrada gratuita | ingressos distribuídos 1h antes da sessão. Capacidade da sala: 273 lugares.

Classificação indicativa: livre.

 

Sessão especial em Brasília

Cine Brasília, 27 de maio, domingo, às 11h.

Bate-papo com a diretora do filme Amanda Kamanchek; a artista visual e personagem do filme Rosa Luz; Jaqueline Fernandes, Subsecretária de Cidadania e Diversidade Cultural e representante do Coturno de Vênus (Associação Lésbica Feminista de Brasília); e de Luana Ferreira, representante da AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras.

* Entrada gratuita; ingressos distribuídos 1h antes da sessão.

Classificação indicativa: livre.

 

Sessão especial em Cachoeira (BA)

Encerramento do Festival MAR – Mulher, Ativismo e Realização. Orla da Praia da Faceira – Cachoeira (BA), 20 de maio, domingo, às 19h30.

Bate-papo aberto com as diretoras do filme Amanda Kamanchek e Fernanda Frazão, e com Raquel Carvalho, estudante de enfermagem e personagem do filme.

* Entrada aberta e gratuita.

 

(Algumas sessões previstas mediante quórum de 60% do público:)

 

Sessão especial em Porto Alegre

• 22/5, 19h – Espaço Itaú POA.

 

Sessão especial no Rio de Janeiro

• 22/5, 19h – Espaço Itaú Botafogo/Rio.

 

Sessão especial em Salvador

• 22/5, 19h – Espaço Itaú Salvador.

 

Sessão especial em Belo Horizonte

• 22/5, 19h – Usiminas Belas Artes Cinema.

 

**Taturana – como se tornar um(a) exibidor(a) do filme

O filme está disponível, gratuitamente, na plataforma Taturana, para qualquer pessoa ou organização que queira levá-lo para seu espaço em uma exibição coletiva.

 

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