Desejo Sombrio: a novela mexicana versão thriller erótico da Netflix

Em Desejo Sombrio (Oscuro Deseo, no original), nova aposta mexicana da Netflix, Maite Perroni interpreta Alma Solares, prestigiada advogada e professora universitária; mãe da adolescente Zoe (Regina Pavón) e esposa do estimado juiz Leonardo Solares (Jorge Poza).

‘Desejo Sombrio’/ Divulgação

A série, criada por Leticia López Margalli e amplamente divulgada como thriller erótico, tem início quando Alma decide viajar a Cuernavaca para passar algum tempo com Brenda (María Fernanda Yepes), sua melhor amiga recém divorciada. Em plena crise conjugal e incentivada pela amiga necessitada de distrações, Alma acaba indo a uma festa. Durante a noite, ela conhece e se envolve com Darío (Alejandro Speitzer), um jovem estudante de 25 anos.

O que prometia ser apenas uma aventura ocasional, porém, acaba dando início a uma paixão ardente e perigosa, que revirará o passado dos Solares e arrastará a protagonista para o centro de uma espiral de obsessões e segredos.

APELO POPULAR

Com uma primeira temporada composta por 18 episódios, maior, portanto, do que a maioria das temporadas de outras originais Netflix, Desejo Sombrio mistura erotismo, suspense policial e uma boa dose de drama familiar novelesco numa trama intrincada. 

Tal receita de combinação de gêneros, aparentemente infalível no quesito apelo popular, estreou com o suporte de um amplo trabalho de marketing, alinhado às demandas do espectador que, mesmo que por curiosidade, apertou o play e fez de filmes como 365 Dias um sucesso. Mas ao contrário do que a divulgação possa sugerir, a série mexicana tem mais do que cenas ardentes a oferecer.

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Não se trata exatamente de uma obra inovadora no cenário mexicano, é verdade.  Em 2008, a Televisa colocava no ar seu remake da série argentina Mujeres Asesinas, produção que também assumia o formato de novela compactada para coordenar investigações policiais com o drama de mulheres atravessadas pelas mais diferentes manifestações de misoginia. Na época, aliás, Maite Perroni protagonizou um dos episódios da série. 

Isso não significa, claro, que o formato “novela policial maratonável” de Desejo Sombrio  seja um problema ou se apresente de maneira desgastada.  De roteiro arrojado e um grande esmero técnico,  além do notável compromisso do elenco com a contação da história, a produção dispõe de reviravoltas suficientemente envolventes para manter o espectador engajado até o final da temporada. 

Talvez esse seja o motivo, inclusive, de as cenas de sexo perderem relevância narrativa ao longo dos episódios. De início, a identidade erótica de Desejo Sombrio parece inerente à trama. Depois, no entanto,  o bom enredo dramático sobre conflitos familiares e a boa condução do trato dado a relações tóxicas e corrompidas ganham espaço junto ao arco policial, relegando a um lugar de quase insignificância o que parecia ser parte fundamental da produção.

GÊNERO E VIOLÊNCIA

Felizmente, Desejo Sombrio não romantiza paixões conturbadas. Sem forçar frases de efeito, a trama dedica alguns momentos ao entendimento da natureza nociva das complicadas manifestações de masculinidade dos homens que rodeiam a protagonista.  Assim, as violências que atravessam experiências femininas  figuram como constante pano de fundo temático da produção – mesmo que se trate de um recorte padrão cis e elitizado, a partir de uma advogada e acadêmica que estuda justamente crimes de gênero, mãe e esposa numa família que vive de aparências.

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Logo, ainda que não abra mão de seus moldes de produto de entretenimento e nem de suas estratégias em certa medida apelativas de recrutamento de audiência, a série demonstra energia ao subverter expectativas tratando todo tipo de violência de gênero, incluindo feminicídios (e é importante que uma série latino-americana diga a palavra feminicídio), não como crimes de amor, passionais, mas como crimes de poder.

Da mesma forma, quando Alma e Zoe, duas mulheres independentes, cheias de personalidade e discernimento, são tragadas pelos jogos de gato e rato dos homens à sua volta e assumem uma postura racional diante dos conflitos, sem as clássicas idas e vindas romanticamente tolas das novelas, a narrativa dá um passo além do esperado folhetim recheado de tragédias, traições, investigações, vilões, sexo, violência e reveses.

No fim, o resultado do conjunto de 18 episódios pode até não ser nada revolucionário, mas Desejo Sombrio certamente se beneficia do frescor do movimento de reinvenção das novelas mexicanas nas plataformas de streaming – no âmbito da sátira, A Casa das Flores é um ótimo exemplo de tal movimento. Nesse sentido, quem espera por um “thriller raíz” ou por uma produção que pura e simplesmente apela para conteúdos sexuais, pode se frustrar ou se surpreender. Aqui estamos diante, essencialmente, de uma novela repaginada, que flerta com diferentes gêneros narrativos.

Trailer
(Fonte: Netflix Brasil/ YouTube)

Ficha técnica 

Criação: Leticia López Margalli

País: México

Ano: 2020

Elenco: Maite Perroni; Erik Hayser; Alejandro Speitzer; Regina Pavón; Jorge Poza; María Fernanda Yepes; Paulina Matos

Gênero: Drama

Distribuição: Netflix

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