Missão H2O, longa-metragem infantil dirigido e roteirizado por Álvaro Cáceres, tornou-se um marco por ser a primeira animação digital do cinema venezuelano. Resultado de uma coprodução entre Venezuela, Cuba e China, o filme chegou às telas de seu país de origem no final de 2018 e passou pelo Brasil na programação do Festival Anima Mundi 2019.
Os personagens de Missão H2O são reciclados de Samuel y las Cosas, seriado educativo transmitido na televisão local. A trama, entretanto, é inédita. Aqui, Samuel, Sara e seus amigos precisam salvar o país fictício Buenaventura – cuja bandeira oficial leva as cores da bandeira venezuelana – de um roubo de água.
A PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA
As desventuras começam quando o presidente do lugar assina um contrato que entrega o controle da água a uma empresa privada. Em seguida, a tal empresa seca todos os reservatórios e transfere a água do país para um lugar misterioso chamado Antares.
Em meio ao caos da insatisfação popular, as crianças embarcam numa jornada de aprendizagem que lhes permite enfrentar a malvada M, representante dos interesses de corporações internacionais, e recuperar a água de Buenaventura.
Tal premissa retoma, de forma lúdica, a tentativa de privatização da água boliviana, que aconteceu em 2000 e foi barrada graças a uma revolta popular, conhecida como “a guerra da água da Bolívia”.
CONHECIMENTO
A todo momento, o filme incentiva os pequenos a buscarem conhecimento, revisitando o passado, refletindo sobre o presente e visando o futuro. Para salvar Buenaventura, por exemplo, as crianças protagonistas contam com uma máquina do tempo chamada de motor do saber. É com ajuda desse equipamento que elas viajam por períodos importantes da história latino-americana, descobrindo como os antepassados de Buenaventura se relacionavam com a água e como a riqueza natural da região é cobiçada internacionalmente.
Há um forte viés didático na obra, que, além de enaltecer o papel da educação e do discernimento, se preocupa em falar com o público infantil sobre economia de água, consumismo, preservação da natureza, valor dos bens comuns e coletividade.
Por outro lado, a trama deixa levemente a desejar quando atribui a responsabilidade do colapso ambiental somente às grandes corporações internacionais, como se governos ditos progressistas também não tivessem, com suas estatais, tomado decisões equivocadas sobre a exploração do meio ambiente nos últimos anos.
De qualquer forma, deve-se levar em conta que estamos falando de um filme infantil. Transpor tais questões políticas para a narrativa seria um desafio. Por isso, o longa se limita a abordar seus temas sob a perspectiva da conscientização. Assim, ao longo de toda a história diversos personagens fecham torneirinhas pingando, quase que como numa campanha de economia.
O FILME
Missão H2O é um filme simpático, recreativo, musical e até engraçado, porém muito, muito desordenado; principalmente aos olhos do público que não teve contato anterior com a série Samuel y las Cosas.
Os personagens apresentam-se de maneira unidimensional. Há crianças com um objetivo, um presidente arrependido, pessoas revoltadas pelo sumiço da água e uma vilã que o tempo todo solta risadas perversas. Além disso, a trama aposta em uma sucessão acelerada de cenas de ação e caos para mascarar suas inúmeras facilitações narrativas.
A união desses fatores torna-se um problema maior porque a produção parece depender demais de personagens que já são conhecidos por outras atrações- e, via de regra, um longa-metragem deveria funcionar por si mesmo, sem depender do lugar de onde deriva.
No geral, Missão H2O demonstra sofrer de algumas fragilidades e deve encontrar dificuldade para encantar adultos, mas é fácil perceber que, de fato, o filme pode estabelecer diálogos fundamentais com crianças pequenas. Também é importante reconhecer – e comemorar -, acima de tudo, a relevância do filme para o cinema venezuelano.
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Ficha técnica
Direção: Álvaro Cáceres
Duração: 1h35
País: Venezuela, Cuba, China
Ano: 2018
Elenco: Manuel Bastos, Laura De la Uz, Melanie Henriquez
Gênero: Animação
Distribuição: ainda sem distribuidora no Brasil.
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