Anjos de cachinhos dourados, virtuosos, poderosos e que voam não existem. Em Ninguém Tá Olhando, nova série brasileira original da Netflix, os anjos chamam-se angelus. Eles têm cabelos laranjas, são funcionários de repartições de proteção aos humanos extremamente burocráticas e sucateadas e vivem uma rotina de trabalho mecânica; quase sempre sem grandes emoções.
Há 300 anos sem receber um novo empregado, o Distrito 5511º, comandado por Fred (Augusto Madeira), é pego de surpresa com a chegada de Ulisses (Victor Lamoglia), um novato cheio de personalidade e objeções ao funcionamento do Sistema Angelus.
Supervisionado por Chun (Danilo de Moura) e Greta (Júlia Rabello), Ulisses deve aprender a cumprir regras fundamentais impostas por um chefão que ninguém sabe quem é. Logo, porém, o calouro rebelde faz descobertas que colocam todo o precário sistema de cuidado com humanos em xeque.
O SIMPLES BEM FEITO
Com direção geral de Daniel Rezende (Bingo – O Rei das Manhãs), Ninguém Tá Olhando faz humor consistente com simplicidade. A graça da temporada reside, essencialmente, no desmonte completo de imagens que associamos ao angelical; bem como na aproximação de “funções divinas” a atividades administrativas profundamente mundanas e enfadonhas.
Ninguém imagina, por exemplo, que um departamento de anjos da guarda seja semelhante a uma repartição pública; que anjos sejam seres insatisfeitos e imperfeitos; ou que um sistema celestial de proteção aos humanos funcione em regime de escala e sobrecarregado, sem funcionários suficientes para cobrir as necessidades de todas as pessoas.
Ágil e perspicaz, portanto, a série desenvolve suas nuances de humor a partir dos detalhes do universo que constrói ao longo da temporada. Como em The Good Place, os dilemas humanos aqui são o foco da trama – apesar de serem tratados principalmente sob a perspectiva dos angelus. A diferença, no entanto, é que enquanto a produção norte-americana explora conceitos filosóficos de bem e mal num contexto de pós-morte, a brasileira foca no cotidiano do “proletariado divino” que tenta salvar vidas: os tais seres de cabelo laranja.
Criticando a burocratização das crenças e, por que não, o pragmatismo da vida em sociedade, a série amarra bem suas subtramas e dá espaço justo para todos os personagens – com exceção de Richard (Projota), que entra e sai de cena em todos os episódios com a mesmíssima cara de chateação.
Divertida, debochada e sem pretensões de apresentar-se como superprodução mirabolante, a primeira temporada de Ninguém Tá Olhando acaba bem sucedida em fazer rir, introduzindo uma história promissora e cativando a audiência para uma próxima temporada.
Leia também: O Escolhido (Netflix) parte de boas ideias, mas falta carisma
Trailer:
Ficha técnica
Direção geral: Daniel Rezende
País: Brasil
Ano: 2019
Elenco: Victor Lamoglia, Kéfera Buchmann, Júlia Rabello, Danilo de Moura, Augusto Madeira, Projota
Gênero: Comédia
Distribuição: Netflix
COMENTÁRIOS