Adaptado do livro homônimo escrito por Emily M. Danforth pela diretora Desiree Akhavan, O Mau Exemplo de Cameron Post estreia amanhã (18) nos cinemas brasileiros já com certa popularidade. Isso porque desde a ascensão de forças políticas conservadoras e religiosas no país, a falácia da “cura gay” tem circulado como polêmica na esfera pública brasileira.
O filme de Akhavan, ambientado na década de 1990, acompanha Cameron Post (Chloe Grace Moretz), jovem que é flagrada pelo namorado tendo relações sexuais com a melhor amiga Coley (Quinn Shephard). Depois desse episódio, a garota, órfã, é enviada pela tia cristã (Kerry Butler) para uma espécie de acampamento religioso para jovens com desvios de conduta. Coordenado por um reverendo “ex-gay” (John Gallagher Jr.) e uma terapeuta (Jennifer Ehle), o lugar nega a existência de diversidades de orientação sexual e identidade de gênero e promete curar jovens que sentem atração pelo mesmo sexo.
Cameron é uma adolescente em pleno processo de autoconhecimento, de descobertas sobre sua sexualidade, personalidade, vontades e lugar no mundo. Mas enquanto passa por esses processos que naturalmente já são complicados para qualquer pessoa, a jovem vê a própria família lhe negando o direito de existir tal como é e a abandonando num lugar que diz curar o que não é doença.
A protagonista, então, fica confusa. Ela não entende qual o problema com sua orientação sexual e muito menos sabe se quer ser “curada” ou se é cristã como a tia. Das incertezas sobre si mesma nasce uma aparente apatia diante da brutalidade das imposições alheias.
Cameron não passa fome e nem sofre agressões físicas ou fica mal instalada. As violências cometidas pela instituição que a interna são mais sutis. Por isso, ela, a princípio, não acredita estar sofrendo abusos. E daí a importância do filme. Os preconceitos velados, afinal, abrigam as violências que a sociedade acha aceitável cometer. Os jovens do internato são tratados com educação e simpatia pelos responsáveis do lugar, mas têm seus direitos à própria individualidade negados por crenças outras, que não as deles. Por ordens e verdades que nada têm a ver com eles.
O Mau Exemplo de Cameron Post crava personalidade própria ao não achar necessário investir em grandes momentos de dor e sofrimento. Com uma equipe majoritariamente formada por mulheres e roteiro escrito por Akhavan e Cecilia Frugiuele, o filme aposta numa suposta normalidade para expor hipocrisias e cravar bons e singelos momentos de ironia e acidez. Nem sempre representações sobre as vivências de minorias sociais precisam ser trágicas ou dramaticamente carregadas para transmitir mensagens. E às vezes não sentir também opera como mecanismo de defesa, perspectiva escolhida pelo longa.
A certa altura, a protagonista finalmente indaga: “fazer as pessoas odiarem a si mesmas não é considerado abuso emocional?”. Mais do que demonstrar que a cura gay não faz o menor sentido e que ser diferente não é pecado ou doença – sem nunca debochar levianamente, e sempre tratando o assunto do ponto de vista das pessoas que são oprimidas por diferentes tipos de violência homofóbica -, o filme provoca ao denunciar a dissimulação de gente que se faz de cordial mas que é, na verdade, absolutamente autoritária, truculenta e intolerante com a diversidade.
Aos poucos, Cameron se aproxima dos amigos Adam (Forrest Goodluck) e Jane (Sasha Lane), também internados por “desvios de conduta” e por terem pais que os condenam por serem quem são. Dessa união surgem laços de parceria, afeto, empatia e respeito que vão além de vínculos de sangue e ressignificam o que é família e amor, palavras que nada deveriam ter a ver com abandono e agressão.
O Mau Exemplo de Cameron Post chega aos cinemas distribuído pela Pandora Filmes e tem circuito garantido em vários estados do país graças ao projeto Caixa de Pandora, parceria firmada entre a distribuidora e a rede Cinépolis, cujo objetivo é viabilizar uma maior circulação de filmes independentes no circuito comercial brasileiro.
Além disso, o longa terá pré-estreia seguida de debate em São Paulo. O evento acontecerá nesta quarta-feira (17) às 19h30, no Cine Belas Artes, e contará com a presença de Alice Mello, da editora Harper Collins Brasil, responsável pela tradução e edição do livro em português, André Fischer, criador do Festival MixBrasil, Fernanda Soares, diretora de cinema e integrante do Canal das Bee, no Youtube, e a artista e documentarista Mayara Afe.
Ingressos da sessão especial à venda na bilheteria do Cine Belas Artes ou pelo site.
Trailer:
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Ficha técnica
Direção: Desiree Akhavan
Duração: 1h31
País: EUA
Ano: 2019
Elenco: Chloë Grace Moretz, Sasha Lane, Forrest Goodluck, John Gallagher Jr., Jennifer Ehle
Gênero: Drama
Distribuição: Pandora Filmes
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