Depois da estreia de Superlópez, chega ao catálogo da Netflix uma outra produção espanhola sobre super-heróis duvidosos. Trata-se de O Vizinho (El Vecino), série original protagonizada por Quim Gutiérrez e Clara Lago.
Na trama, criada e escrita por Miguel Esteban e Raúl Navarro e dirigida por Nacho Vigalondo (Colossal), Gutiérrez interpreta Javier, um homem narcisista, egoísta e bastante acomodado que do dia para a noite torna-se super-herói em fase de adaptação.
Por uma grande ironia do destino, é ele o escolhido para herdar as pastilhas de poder e o uniforme de um guardião das galáxias excêntrico que cai na Espanha em um meteorito, morrendo logo em seguida.
Já Lago interpreta Lola, a ex-namorada de Javier; uma jornalista frustrada com a profissão e nada popular nas redes sociais. Quando é encarregada pela revista onde trabalha de descobrir quem é o homem fantasiado que voa por Madri, Lola vê uma oportunidade imperdível para sua carreira – sem imaginar, claro, que o tal misterioso herói é seu ex.
O único que sabe do segredo de Javier é José Ramón (Adrián Pino), um rapaz que chega a Madri com a intenção de se concentrar nos estudos, fazer uma prova e virar juiz. Ele não esperava, porém, que um vizinho voador entrasse por sua janela desgovernado e lhe revelasse ser um herói aparentemente muito pouco apto às exigências da função. Cabe a José, então, ajudar o novo amigo a treinar suas habilidades e a esconder seus poderes da curiosa e obcecada Lola.
O Vizinho é uma adaptação dos quadrinhos de Santiago García e Pepo Pérez; produzida pela Zeta Audiovisual, mesma empresa responsável por Elite, e distribuída internacionalmente pela Netflix.
HUMOR, AÇÃO E COMENTÁRIOS SOCIAIS
A série, acima de tudo, se preocupa em quebrar expectativas sobre o perfil convencional esperado de um humano digno de receber superpoderes. Para tanto, seus primeiros episódios são dedicados a desenvolver o universo de mediocridade da vida dos personagens.
Javier, Lola e José são pessoas comuns; cheias de frustrações e defeitos. Nenhum deles se encaixaria exatamente no modelo de benevolência, coragem e altruísmo das histórias clássicas de super-heróis. Bem e mal, em O Vizinho, não são opostos; eles coexistem, como na vida real.
Nesse universo, de uma Madri contemporânea também afetada pela instabilidade econômica global, algumas pessoas perdem tudo em casas de aposta, e outros tantos trabalhadores – incluindo o protagonista herói- recorrem aos serviços precarizados de entregas por aplicativo.
Os comentários sociais, portanto, estão presentes na série; e servem, principalmente, para localizá-la em seu tempo, estabelecendo diálogos de maior proximidade com o espectador.
Por outro lado, o roteiro tende a pesar a mão nos conflitos de relacionamento e acaba perdendo uma porção de oportunidades de humor afiado. Tem-se, como consequência, uma introdução mais longa e arrastada que o necessário.
É somente lá pelo episódio seis, quando Lola deixa de ser “a ex-namorada” e finalmente começa a interagir como jornalista com o herói autointitulado Titã, que a série engata. A partir daí, as cenas de humor ganham força e entram em sintonia com os “momentos de ação” – que não deixam a desejar no quesito efeitos especiais.
Fica para o final da temporada a reviravolta mais empolgante e surpreendente da produção. Ao apresentar uma perspectiva inédita de origem de super-heróis, O Vizinho vai além do retrato caricatural do sujeito incompetente com a vida adulta que ganha poderes ao acaso – algo já apresentado em Superlópez – e alcança uma janela de possibilidades muito valiosas. Vejamos o que possíveis próximos episódios nos reservam.
Trailer:
Ficha técnica :
Direção: Nacho Vigalondo
País: Espanha
Ano: 2019
Elenco: Quim Gutiérrez, Clara Lago, Adrián Pino, Catalina Sopelana
Gênero: Comédia
Distribuição: Netflix
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