Cafona chamar um filme romântico de Ricos de Amor. Mais cafona ainda por se tratar de uma produção cujo personagem principal é o típico filhinho de papai rico e mulherengo, que se apaixona pela moça inteligente e dedicada e precisa mudar seus comportamentos para conquistá-la. Quando se fala em comédias românticas, no entanto, cafona não precisa ser necessariamente interpretado como um adjetivo ruim.
Apostando em todo tipo de clichês de gênero, o novo filme brasileiro original Netflix se diferencia especialmente por investir mais na comédia do que no romance, desenrolando, assim, alguma coisa dos arcos paralelos ao enredo do casal principal com competência.
Teto (Danilo Mesquita) e Paula (Giovanna Lancellotti) são os protagonistas desse trabalho do diretor Bruno Garotti (Cinderela Pop) . Ele é um playboy mimado filho do “Rei do Tomate”, importante empresário do interior. Ela, uma residente de medicina prestes a se formar na cidade do Rio de Janeiro. O encontro dos dois se dá por acaso, em uma festa. Depois, sabendo que não teria chances de conquistar a garota, Teto decide fingir que é pobre.
ENREDO SURRADO, PORÉM SIMPÁTICO
Com jeitão de Sessão da Tarde, Ricos de Amor conquista o espectador ao demonstrar-se habilidoso em criar boas situações cômicas sobre as trocas de identidade provocadas por Teto e os choques de realidade que o rapaz mimado vai levando ao longo da trama. Claro que em pleno 2020, com tantas redes sociais disponíveis, fica difícil acreditar que nenhum dos personagens pesquisaria sobre Teto na internet e colocaria fim às confusões causadas por ele. Por outro lado, também é difícil não se divertir com a fanfarronice da narrativa ou comemorar que Teto não sofra mudanças por Paula, mas, sim, pelas novas experiências que vivencia.
Além do mais, o filme decide tocar, mesmo que superficialmente, em questões como desigualdade social e assédio no ambiente de trabalho. A abordagem de temas sérios não pretende – e nem conseguiria – levantar grandes questões sobre sociedade, mas serve para dar complexidade a um conjunto de personagens que poderiam ser muito mais batidos do que são. Aqui, destaca-se Monique, interpretada por Lellê.
No geral, a leveza da comédia, o entrosamento do elenco, a química do casal protagonista, os assuntos que dialogam com o presente do país e a trilha sonora brasileira (que vai da música eletrônica do DJ Alok até o sertanejo, passando obrigatoriamente pelo funk carioca) são artifícios que de certa forma compensam a mediania da trama e dão identidade ao filme.
Em outras palavras, Ricos de Amor não é do tipo de obra que conta com roteiro impecável ou finais emocionantes; muito menos desponta como novidade no gênero comédia romântica. Mas trata-se de um filme que tem seus encantos, funciona como entretenimento e surpreende, vejam só, pelo desfecho reservado às plantações de tomate premium. Aliás, o inusitado plano geral final, que une romance e reinvenção do plantio de tomates, é único.
Trailer:
Ficha técnica:
Direção: Bruno Garotti
Duração: 1h44
País: Brasil
Ano: 2020
Elenco: Giovanna Lancellotti, Danilo Mesquita, Ernani Moraes, Fernanda Paes Leme, Jaffar Bambirra, Lellê, Caio Paduan
Gênero: Comédia, Romance
Distribuição: Netflix
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