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[Estreia] O Futuro Adiante e uma reflexão sobre amizades tóxicas
Amizade. Uma relação tão fundamental e comum em nossas vidas, mas tão poucas vezes explorada pelo audiovisual. Esse é o foco principal de O Futuro Adiante, longa-metragem argentino que estreia nesta quinta (04) nos cinemas, e que mostra a relação instável entre duas amigas de infância.
Florencia (Pilar Gamboa) e Romina (Dolores Fonzi) são próximas desde sempre. Quando crianças, ainda duas meninas dos anos 80, adoravam assistir a novelas e dançar na sala da casa de Romina. Esta última, reclusa e tímida, era constantemente deixada sozinha pela mãe solteira – que ia trabalhar. Já Florencia, ou apenas Flor, espalhafatosa e egocêntrica, não se importava em dar umas escapulidas para namorar.
Ainda que suas personalidades tão diferentes pudessem lhes afastar, isso apenas uniu as amigas. Assim, a relação de proximidade entre ambas não deixou de existir, quando adultas. Seguindo caminhos cada vez mais distintos, por exigências profissionais e familiares, Flor e Romina sempre tiveram algo em comum: sua carência afetiva.
A produção argentina de Constanza Novick não chega a ser um filme altamente reflexivo, mas é mais do que uma tragicomédia feminina – e, por “feminina”, leia-se “sobre mulheres”. Afinal, na história, a relação entre as amigas não é retratada de maneira convencional. Flor sempre trouxe preocupações às pessoas mais próximas. Quando adolescente, sumia de casa sem avisar a mãe. Agora adulta, some sem avisar Romina; a quem pede ajuda quando a situação econômica aperta.
Dividido em três fases principais, O Futuro Adiante começa muito bem. Ver as amigas, tão jovens, em situações cotidianas e, a princípio, banais, traz um clima de coming-of-age que é raro em produções latinas – e o que é bastante divertido. Já na segunda fase, e na casa dos trinta anos, Flor e Romina são apresentadas ao espectador como mulheres de pouco sucesso profissional e amoroso. A primeira, uma solteirona freelancer e metida a escritora; a segunda, uma esposa, dona de casa e mãe extremamente frustrada.
O que mais chama a atenção, durante essa fase, é o comportamento de Flor em relação àqueles que mais lhe querem bem. Para se ter uma ideia, ela chega a sair para pagar uma corrida de táxi de Romina, e simplesmente não retorna. Mais de 24 horas depois, Flor volta para a casa da amiga, e conta ter passado a noite com o taxista desconhecido.
Além disso, as transições entre as diferentes fases do longa, totalmente sutis, são um ponto bastante positivo; ao sequer percebemos que uma cena conseguinte marca a longa passagem de anos. E isso dá a sensação de que vivemos tal passagem em maior plenitude; maior do que se fosse representada por uma transição mais explícita, pelo menos.
Já na terceira fase, quando acompanhamos as protagonistas mais amadurecidas e em momentos bastante diferentes, a produção perde um pouco a força. Romina, mesmo que bem mais empoderada do que antes, é envolvida em uma subtrama desinteressante. Isso, porque Flor, em um novo delírio tóxico para com a amiga, insiste em lhe apresentar a um homem – e garante que isso resolverá os seus problemas.
Ao final de tudo, temos a confirmação sobre o quão tóxica a amizade entre as duas personagens é; e sobre o quanto isso se intensificou ao longo do tempo. Mesmo estabilizada e aparentemente feliz, Flor consegue trazer mais dores de cabeça à Romi do que qualquer outra coisa. E esta sempre opta por perdoar a amiga.
Em geral, O Futuro Adiante é competente ao humanizar suas protagonistas – e também ao deixar o espectador refletir sobre a amizade entre as mesmas. Sem falar que, uma direção feminina é sempre bem-vinda. Mas, ainda assim, a produção poderia ter investido mais nos desdobramentos que a relação entre as amigas implica, principalmente, para Romina.
Se você já viveu uma amizade tóxica, talvez possa se identificar com a personagem. Ou, quem sabe, possa estar mais familiarizado com a intempestividade de Flor. E, talvez, isso diga muito sobre si próprio.
Ficha técnica
Criação: Constanza Novick
País: Argentina
Ano: 2018
Elenco: Pilar Gamboa, Dolores Fonzi, José Maria Yazpik
Gênero: Drama
Distribuição: Supo Mungam Films