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Indianara: ser mulher e ativista trans no Brasil
Negritudes Brasileiras, de Nátaly Neri, explora o formato documentário no Youtube para falar de racismo
No último dia 12, os youtubers Nátaly Neri (do canal Afros e Afins) e Murilo Araújo (do canal Muro Pequeno) lançaram, em seus próprios canais, o fruto do trabalho que realizaram como embaixadores do programa Creators for Change, um apoio do YouTube Brasil para o fomento de produções audiovisuais que tenham impactos sociais na plataforma.
Nátaly Neri, cientista social, youtuber, militante negra e feminista, acostumada a gravar vídeos de aproximadamente 20 minutos para o Afros e Afins, produziu, dessa vez, o documentário em longa-metragem Negritudes Brasileiras, sobre colorismo e racismo estrutural no Brasil. Murilo Araújo também inovou e produziu uma série de vídeos sobre as masculinidades do homem negro.
Com a ajuda de profissionais audiovisuais do grupo Gleba do Pêssego, formado por jovens negros e LGBT+ das periferias de São Paulo, Neri tocou seu projeto: um filme didático, rico em informações, visualmente harmônico e que conversa não somente com a história do Brasil e nossa formação enquanto nação, mas também com questões identitárias que ainda hoje são entraves sociais.
Em Negritudes Brasileiras, mulheres e especialistas negros dão depoimentos sobre suas vivências e compartilham conhecimento com imensa generosidade. O filme abre com falas de mulheres sobre suas aparências físicas. Depois, ele se preocupa em explicar como as questões raciais se estabelecem no Brasil, desde o período da escravidão, passando pela miscigenação ligada à valoração do embranquecimento, colorismo e construção de identidades ao longo da história do país, até chegar no mito da democracia racial, na pluralidade da negritude e das vivências do que é ser negro no Brasil de hoje.
O protagonismo dos relatos femininos no filme obviamente tem muito a ver com o posicionamento político essencialmente feminista da idealizadora, mas também é fundamental para que o filme alcance níveis de discussões que só as experiências dessas mulheres negras, representantes da camada mais vulnerável da sociedade, são capazes de acessar.
Em sua conta no Twitter, Nátaly Neri agradeceu pelo carinho das pessoas que elogiavam o filme e falou um pouco sobre sua primeira experiência como realizadora de um longa-metragem. “Foi a experiência mais intensa, enriquecedora, exaustiva, brilhante e dolorosa da minha vida na internet e no ativismo”, desabafou. E completou dizendo: “esse documentário é uma grande fala em primeira pessoa, de nós, para nós mesmos, sobre nós. Estou feliz com todas as devolutivas de vocês”.
(Fonte: Afros e Afins / YouTube)
O documentário também impressiona pelo seu cuidado estético. Todos os elementos postos em cena conversam, de alguma forma, com o tema proposto e com a personalidade da idealizadora; desde as roupas dos entrevistados até a ambientação feita por cenários simples, mas funcionais e bonitos. Para os que acompanham o trabalho da youtuber, fica nítida a preocupação que ela teve em transferir sua essência à nova empreitada.
São muitas as qualidades de Negritudes Brasileiras, mas ele é, antes de mais nada, um filme autoral, fundamental e redondo. Neri e os jovens da Gleba do Pêssego trabalharam com primor e realizaram um filme único, equilibrando conteúdos, sendo flexíveis num formato que cai bem tanto numa tela de cinema quanto numa reprodução do YouTube, passando a mensagem de forma clara, prezando pela estética e deixando até uma bibliografia no final dos créditos.
Se você ainda não assistiu ao documentário, corra para o YouTube. Em um momento de retrocessos como o que o Brasil vive hoje, a pluralidade de narrativas e os refrescos de formatos incentivados por um programa como o Creators for Change são absolutamente necessários. Negritudes Brasileiras é conteúdo de extrema qualidade, e está disponível gratuitamente.
Leia também: Juily Manghirmalani, co-diretora da paródia de ‘Vai Malandra’, fala sobre audiovisual, feminismo e YouTube
Ficha técnica
Idealização: Nátaly Neri
Duração: 58 min
País: Brasil
Ano: 2018
Gênero: Documentário
Distribuição: YouTube Brasil
Em evidência por sua passagem no Brasil, Malala Yousafzai é a estrela de documentário de 2015
Enquanto voltava para casa em seu ônibus escolar, Malala Yousafzai, de apenas 15 anos, foi surpreendida por um ataque brutal. A paquistanesa, que repercutiu no mundo todo ao falar pelo direito das mulheres à educação, foi baleada no rosto por um terrorista do Talibã.
Tendo sobrevivido à tentativa de assassinato, e continuamente ameaçada de morte, a jovem deixou o Paquistão com a família, tornou-se uma ativista mundialmente reconhecida e venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2014. Atualmente, a muçulmana de 21 anos faz uma passagem diplomática pelo Brasil.
“Não foi um homem [que atirou em Malala]”, pontua seu pai, o educador e também ativista Ziauddin Yousafzai; “…foi uma ideologia”, completa. A fala é uma das mais marcantes do documentário de mesmo nome da brava jovem, dirigido por David Guggenheim e lançado em 2015.
Malala acompanha a rotina da família Yousafzai, em sua nova morada na Inglaterra, e alterna momentos de simplicidade caseira com arquivos sobre a vida pré e pós-ataque contra a paquistanesa. Descrita por si mesma como “uma garota comum”, a protagonista é representada no longa-metragem pela essência nobre e rara bravura.
Seja pelo destino ou forte coincidência, Malala leva o nome de uma personagem com história bastante similar à sua própria. Malalai foi, segundo uma lenda famosa no Paquistão, uma menina que incentivou soldados paquistaneses a não recuarem diante de uma batalha. “É melhor viver um dia como leão do que cem anos como escravo”, teria dito a jovem aos guerreiros já conformados. Mesmo sendo capaz de reacender seu ânimo, a garota, então, leva um tiro de arma de fogo, e morre.
É com a representação da lenda que o filme começa. Feita toda em animação – e tal como em alguns outros momentos da produção –, a cena de introdução transmite ao espectador um sentimento que permanece durante quase todo o longa: o de extrema sensibilidade.
A diferença entre Malala e Malalai (da lenda) consiste justamente no tamanho do legado que a primeira – ainda – constrói. Milagrosamente, a menina da vida real sobreviveu, e deixa-nos lições tão valiosas que é difícil de acreditar que uma pessoa tão jovem tenha um caráter tão grandioso e sábio.
Eu, Malala, livro escrito pela mesma em sua adolescência, atingiu sucesso global. Tal como tudo o que a ativista faz ou comenta, o mundo tem sede em conhecê-la cada vez mais. Sua alta capacidade de compaixão e disposição para lutar são o que há de mais admirável em um ser humano. Logo, com uma protagonista tão incrível quanto a paquistanesa, o documentário de Guggenheim não poderia ser menos do que interessantíssimo. Disponível na Netflix.
Trailer:
(Fonte: FilmIsNow Movie Trailers International)
Ficha técnica
Direção: David Guggenheim
Duração: 1h27
País: EUA
Ano: 2015
Elenco: Malala Yousafzai, Ziauddin Yousafzai, Toor Pekai Yousafzai
Gênero: Documentário
Distribuição: Fox Film do Brasil