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Sete anos sem Amy Winehouse e a importância de sua cinebiografia
No dia 23 de julho de 2011, o mundo recebia uma triste notícia: a cantora britânica Amy Winehouse, de 27 anos, havia sido encontrada morta em sua casa em Londres. Deixando um imenso legado artístico – tanto na indústria musical quanto na moda –, Amy perdera a batalha não somente contra o abuso de álcool e entorpecentes, mas, principalmente, contra o sensacionalismo midiático e a exploração por pessoas muito próximas.
É sobre a ascensão da carreira de Winehouse, assim como sobre o declínio de sua vida privada, que o documentário Amy, de 2015, fala sobre. De Asif Kapadia (Senna: O Brasileiro, O Herói, O Campeão), o longa-metragem reúne arquivos do acervo pessoal da cantora, além de entrevistas com seus parentes e amigos, e um material de apoio inédito, como forma de reconstruir momentos marcantes da vida da britânica.
A primeira cena do filme resume muito bem o talento da futura estrela do soul: Amy, então com 14 anos, canta Happy Birthday to You, a la Marilyn Monroe, para sua amiga Lauren Gilbert. O carisma e a potencialidade vocal da adolescente anônima levam, até mesmo os fás mais fiéis de Winehouse, ao choque. Afinal, a maturidade psicológica de uma pessoa tão jovem, tal como seu tamanho vozeirão, é algo incomum.
Assim, segue-se uma série de cenas casuais da cantora em sua intimidade. Por mais que o diretor retome filmagens já mostradas em partes diferentes do filme, a montagem da narrativa acompanha a carreira meteórica da estrela musical de modo cronológico; sendo iniciada com suas primeiras apresentações em público, e terminando com sua morte.
Desde muito cedo, Amy teve de lidar com a separação dos pais e com a distância deixada pela figura paterna. Mitch Winehouse, o controverso pai da artista, aparece no documentário de maneira essencialmente crítica – mostrando como, através de certo descaso e ambição por parte do mesmo, a jovem Winehouse, com sua extrema sensibilidade, mergulhou cada vez mais fundo em um sofrimento extenso.
Não bastasse a carência afetiva que sentia em relação ao pai, Amy, como canta em What is It About Men (de seu primeiro álbum, Frank, de 2003), “Eu não posso lhe ajudar, mas posso demonstrar meu destino freudiano“. Logo, como uma profetiza, Winehouse previu a infelicidade amorosa de seu primeiro, e único, casamento. Em 2007, após o lançamento do álbum mais vendido do mundo naquele ano, Back to Black, Amy casou-se com Blake Fielder-Civil.
Seu então marido era, na verdade, o destinatário de todas as músicas do sofrido Back to Black. Tirando o single Rehab, as outras faixas do álbum são uma lamentação de Amy por sua decepção amorosa. Logo após Frank, a cantora perdera a querida avó e fora preterida por Blake, que optou por ficar com sua namorada (Amy era, na época, a amante do futuro marido). Por essas dificuldades e uma bulimia nervosa, a artista perdeu tanto peso que começou a chamar a atenção da imprensa britânica.
Seu vício em drogas já se encontrava tão avançado que os produtores e empresários da gravadora Universal Records aconselharam a reabilitação. Dessa história, nasceu a letra da icônica Rehab (“Tentaram me mandar para a reabilitação, mas eu disse ‘não, não, não‘”). A partir de tantos problemas, Back to Black veio como um cometa: rápido e avassalador. Até sua morte, Amy dizia ser muito difícil, emocionalmente, cantar músicas como Love is a Losing Game e a própria Back to Black.
Quanto a seu casamento, exposto no documentário como uma conveniência financeira para Blake, a convivência diária com o marido fez com que Amy voltasse a usar drogas de forma compulsiva. Daí em diante, os momentos de felicidade foram breves e pontuais na vida da cantora.
Além de suas canções, a trilha sonora do brasileiro Antonio Pinto acompanha a jornada de Winehouse, ao longo da produção. Tanto cuidado e atenção do diretor à figura da cantora fizeram com que o documentário fosse aclamado por crítica e público, e levasse inúmeros prêmios; dentre eles, o Oscar 2016 e o BAFTA de Melhor Documentário, além do Grammy Award de Melhor Vídeo Musical Longo.
Por falar em Grammy, Amy foi premiada como Artista Revelação, Melhor Álbum Vocal pop, Canção do Ano (Rehab) e Gravação do Ano (Rehab), em 2008; já em 2012, a cantora foi homenageada postumamente por sua Performance pop Por Duo, em Body and Soul, com Tony Bennett.
A cerimônia de 2008, aliás, aparece em uma das cenas mais divertidas e doces do longa-metragem, uma vez que a cantora mal sabe como conter a emoção ao vencer o prêmio mais importante da noite. Naquele mesmo dia, no entanto, momentos depois de levar o prêmio, a artista confessa à sua amiga, Juliette Ashby, que tudo aquilo era “muito chato sem drogas”.
Não bastasse ter de lutar para parecer bem em frente às telas,
Amy enfrentava os olhos curiosos e mal-intencionados da mídia
Em evidência por sua passagem no Brasil, Malala Yousafzai é a estrela de documentário de 2015
Enquanto voltava para casa em seu ônibus escolar, Malala Yousafzai, de apenas 15 anos, foi surpreendida por um ataque brutal. A paquistanesa, que repercutiu no mundo todo ao falar pelo direito das mulheres à educação, foi baleada no rosto por um terrorista do Talibã.
Tendo sobrevivido à tentativa de assassinato, e continuamente ameaçada de morte, a jovem deixou o Paquistão com a família, tornou-se uma ativista mundialmente reconhecida e venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2014. Atualmente, a muçulmana de 21 anos faz uma passagem diplomática pelo Brasil.
“Não foi um homem [que atirou em Malala]”, pontua seu pai, o educador e também ativista Ziauddin Yousafzai; “…foi uma ideologia”, completa. A fala é uma das mais marcantes do documentário de mesmo nome da brava jovem, dirigido por David Guggenheim e lançado em 2015.
Malala acompanha a rotina da família Yousafzai, em sua nova morada na Inglaterra, e alterna momentos de simplicidade caseira com arquivos sobre a vida pré e pós-ataque contra a paquistanesa. Descrita por si mesma como “uma garota comum”, a protagonista é representada no longa-metragem pela essência nobre e rara bravura.
Seja pelo destino ou forte coincidência, Malala leva o nome de uma personagem com história bastante similar à sua própria. Malalai foi, segundo uma lenda famosa no Paquistão, uma menina que incentivou soldados paquistaneses a não recuarem diante de uma batalha. “É melhor viver um dia como leão do que cem anos como escravo”, teria dito a jovem aos guerreiros já conformados. Mesmo sendo capaz de reacender seu ânimo, a garota, então, leva um tiro de arma de fogo, e morre.
É com a representação da lenda que o filme começa. Feita toda em animação – e tal como em alguns outros momentos da produção –, a cena de introdução transmite ao espectador um sentimento que permanece durante quase todo o longa: o de extrema sensibilidade.
A diferença entre Malala e Malalai (da lenda) consiste justamente no tamanho do legado que a primeira – ainda – constrói. Milagrosamente, a menina da vida real sobreviveu, e deixa-nos lições tão valiosas que é difícil de acreditar que uma pessoa tão jovem tenha um caráter tão grandioso e sábio.
Eu, Malala, livro escrito pela mesma em sua adolescência, atingiu sucesso global. Tal como tudo o que a ativista faz ou comenta, o mundo tem sede em conhecê-la cada vez mais. Sua alta capacidade de compaixão e disposição para lutar são o que há de mais admirável em um ser humano. Logo, com uma protagonista tão incrível quanto a paquistanesa, o documentário de Guggenheim não poderia ser menos do que interessantíssimo. Disponível na Netflix.
Trailer:
(Fonte: FilmIsNow Movie Trailers International)
Ficha técnica
Direção: David Guggenheim
Duração: 1h27
País: EUA
Ano: 2015
Elenco: Malala Yousafzai, Ziauddin Yousafzai, Toor Pekai Yousafzai
Gênero: Documentário
Distribuição: Fox Film do Brasil