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Há algum tempo O Bar, filme do espanhol Álex de la Iglesia, foi adicionado ao catálogo brasileiro da Netflix e causou uma certa divisão de opiniões entre a audiência. A princípio, o elenco conhecido do público que tem alguma proximidade com o cinema espanhol pode ser um atrativo. Entre os atores estão: Blanca Suárez (As Telefonistas), Carmen Machi (Volver, Amantes Passageiros, Namoro à Espanhola) e Mario Casas (Contratempo). Mesmo assim, há quem acredite que o filme seja um dos piores do diretor – que tem no currículo obras como O Dia da Besta, A Comunidade e Balada do Amor e do Ódio.
O longa começa com várias pessoas seguindo suas vidas normalmente pelas ruas de Madri, até que algumas delas, por coincidência do destino, entram num mesmo bar. Momentos depois, um dos clientes sai do estabelecimento e leva um tiro. Num piscar de olhos, seu corpo e seu sangue somem da calçada. A rua fica deserta e as pessoas que entraram no bar seguem lá dentro sem saber o que está acontecendo, estabelecendo o dilema: se saírem, podem levar um tiro também, mas se ficarem não saberão o que se passa e por quanto tempo devem ficar.
A primeira metade de O Bar é promissora. Ela nos apresenta, rapidamente, a todos os personagens confinados. Desde a dona do bar e seu funcionário (Terele Pávez e Secun de la Rosa, respectivamente), até Elena (Blanca Suárez), que iria a um encontro e só parou para carregar a bateria do celular. Juntos, eles se dedicam a criar teorias sobre o que fez a região ser evacuada, porquê ninguém aparece para ajudá-los e por qual razão nada é dito na televisão. A partir desse ponto, o filme dá início a sua proposta: destrinchar o comportamento humano em situações extremas.
De cara, essa premissa pode fazer com que a produção seja comparada com o também espanhol Relatos Selvagens (2014), de Damián Szifron. Realmente, no que diz respeito a situações extremas, reações desumanas, emoções irracionais e absurdo, a comparação até que faz sentido. Entretanto, como o próprio Iglesia chegou a dizer, O Bar seria mais como uma comédia de terror/ suspense.
Na segunda metade, o filme se torna apelativo, violento e até um pouco escatológico. Fica difícil assistir sem se incomodar. Mas aí está o ponto. É parte do objetivo do diretor apelar, ser desconfortável, ser caricatural, contar sua história a partir de personagens absolutamente clichês, usufruir do absurdo mais escrachado possível e beirar o gênero trash para construir sua crítica social. Crítica essa que se encerra como conclusão um tanto quanto pessimista, praticamente dizendo: não importa o que aconteça e pelo que você passe, o mundo vai seguir.
Ainda que as transições entre comédia, suspense e trash não sejam feitas de forma sutil – tornando o roteiro quase tão caótico quanto a premissa do longa-, o diretor consegue construir e controlar exatamente a atmosfera desejada por contar com ótimas atuações e por usufruir de seus poucos cenários com naturalidade. Se era caos que Iglesia queria, foi caos que Iglesia conseguiu (e isso não é exatamente bom ou ruim).
As obras do espanhol não são muito fáceis de encontrar no Brasil, mas na própria Netflix há dois outros títulos do diretor:
A Minha Grande Noite