Tag: comédia nacional
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Crítica: Ninguém Tá Olhando (Netflix)
Samantha!: 2ª temporada estrutura um futuro promissor para a série e não abandona as boas doses de humor ácido
A cruzada da Record TV pela conquista de mercado e narrativa no cinema brasileiro
Em qualquer lugar do mundo, dominar o mercado cinematográfico e seu discurso é tão importante economicamente quanto ideologicamente. Sem ter cativado o imaginário de gerações de crianças, a Disney não viveria de remakes em live-action de suas antigas animações infantis – dentre elas, filmes de princesas que moldaram comportamentos femininos durante décadas, por exemplo. Estamos em 2019 e a cada novo trailer da empresa uma comoção é gerada, movimentando o mercado.
Eu Sou Mais Eu, novo trabalho de Kéfera no cinema, repete fórmula de É Fada!
Em 2016, Kéfera estreava como atriz de cinema com o longa É Fada!, interpretando Geraldine, uma fada atrapalhada designada a ajudar a jovem Luna (Klara Castanho) com seus problemas de autoconfiança e com o bullying que sofria no colégio. Agora, em 2019, algo bastante semelhante acontece no novo trabalho cinematográfico de Kéfera, Eu Sou Mais Eu, filme dirigido por Pedro Amorim.
Mulheres Alteradas poderia ter sido, mas não foi
Mulheres Alteradas, comédia brasileira que estreou no último dia 5, começa sua projeção explicando o próprio título: mulheres alteradas não são “loucas”, são mulheres modificadas. Mulheres que mudam. Esse é um esclarecimento necessário, principalmente se considerarmos o contexto de comédias nacionais que constantemente apelam para títulos e narrativas sobre mulheres desequilibradas.
Samantha! é irônica e bem-humorada ao tratar da toxicidade do espetáculo brasileiro
Criada por Felipe Braga, a série acompanha Samantha (Emanuelle Araújo), uma ex-estrela mirim da TV brasileira que integrava o grupo musical infantil Turminha Plimplom. Agora adulta, a protagonista lida com problemas pessoais e profissionais. Frustrada por nunca mais ter conseguido emplacar um sucesso, Samantha se divide entre criar dois filhos, perseguir a fama a todo custo e reatar seu casamento com o ex-jogador de futebol Dodói (Douglas Silva), que passou 12 anos preso.
Abraço Infinito, hit da pequena Samantha (Fonte: Netflix Brasil / Youtube)
Muito tem se falado – nas críticas, principalmente – sobre Samantha! ser uma sitcom politicamente incorreta. Isso com certeza varia de acordo com a definição de politicamente incorreto adotada por cada pessoa, mas parece injusto classificar a produção assim se levarmos em conta que, em nenhum momento, ela soa desrespeitosa. Muito pelo contrário, o sub-texto – atualizado, responsável e até dramático – de
Samantha!
Alce e Alice: uma websérie sobre como (não) fazer webséries
Crítica: Duas de Mim
Não é de hoje que os filmes comerciais de comédia nacional têm fama de carregar multidões aos cinemas, mas isso começou a variar de acordo com o contexto sociocultural do momento. Em 2015, Loucas Pra Casar foi o filme nacional de maior bilheteria. Já em 2016, o polêmico e religioso Os Dez Mandamentos ficou em primeiro lugar. Agora, em 2017, Polícia Federal – A Lei é Para Todos fez grandes números, vendendo mais de 400 mil ingressos no primeiro fim de semana.
Tais números, que demonstram a preferência do público geral por filmes nacionais com conteúdos problemáticos – como piadas preconceituosas, estereótipos machistas e temáticas das religiões dominantes – são um reflexo da manifestação do conservadorismo em nosso país, que não é recente, mas que avança.
Ainda que filmes religiosos e politicamente conservadores tenham fincado seu lugar no cinema nacional, as comédias são sempre lançadas com alguma frequência e apresentam números bastante expressivos. Duas de Mim é um desses casos. Sua estreia no dia 28 de setembro rendeu mais de 80 mil ingressos vendidos no primeiro fim de semana.
Com direção de Cininha de Paula – experiente em produções televisivas da Rede Globo, como Escolinha do Professor Raimundo, Sai de Baixo e Pé na Cova – seu novo filme se propõe a retratar, de forma divertida, a vida de Suryellen (Thalita Carauta), uma mulher que vende marmitas pela manhã, trabalha lavando louça para um restaurante à noite e mantém sozinha o filho, a mãe (Maria Gladys) e a irmã mais nova (Letícia Lima), representando, assim, a dura rotina de muitas mulheres brasileiras.
Até certo ponto, tratar dos problemas do dia a dia e dos sonhos que uma mulher não consegue realizar – porque a sociedade não permite – de forma engraçada, parece ser uma proposta com muito potencial. Até mesmo o humor contido no fato de o cantor Latino interpretar um cover de si próprio chega a funcionar. No entanto, quando a protagonista come um “bolo dos desejos” e pede para se dividir em duas, as coisas começam a desandar. Isso acontece não apenas na qualidade do filme em si, mas atrapalha também a mensagem que ele poderia transmitir aos espectadores.
Quando a outra Suryellen surge, idêntica fisicamente, mas com uma personalidade completamente diferente da original, poderia ter surgido também uma demonstração de solidariedade da duplicata para com aquela mulher que tinha uma vida tão atribulada. Inicialmente, isso até acontece, mas a clone da protagonista logo se transforma no clichê da vilã que precisa ser derrotada, e qualquer chance de falar sobre sororidade – o apoio mútuo entre mulheres –, em uma comédia que conversa com milhares de pessoas, vai direto para o buraco.
A partir daí, diversos clichês de baixa qualidade são simplesmente jogados no filme; como a vilã louca que quer tomar o lugar de outra mulher, o machismo textual reproduzido em várias cenas, a mulher rica que não trabalha e só quer glamour e as piadas inaceitáveis com anões, em pleno 2017. Tudo isso para terminar com o Latino cantando algo chamado por ele de “reggaeton abrasileirado”, mas que de reggaeton não tem nada.
Duas de Mim poderia ser uma aposta interessante na mudança de rumo das comédias nacionais escrachadas. Em determinados momentos, algumas mensagens importantes até conseguem ser lançadas, mas, infelizmente, não é um filme que entrega o potencial que aparentava ter. Trata-se de mais uma comédia que tenta flertar com pautas que estão em alta no momento, mas que por vezes se perde no pior do humor conservador.
*Texto originalmente publicado em 12/10/2017
**Dados sobre bilheterias foram retirados do site AdoroCinema
Ficha técnica
Ano: 2017
Duração: 1h22
Direção: Cininha de Paula
Elenco: Thalita Carauta, Latino, Letícia Lima, Márcio Garcia
Distribuidora: Paris Filmes
País: Brasil