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Estreia: Com ritmo frenético, ‘Eu, Tonya’ mostra lado humanizado da ex-patinadora
Em 1994, a mídia esportiva contemplou um de seus maiores trunfos noticiosos até hoje: o escândalo que envolvia a então patinadora artística Tonya Harding, seu ex-marido Jeff Gillooly e a também esportista Nancy Kerrigan. Assim, Harding viu seu breve estrelato despencar de vez para as páginas policiais. Em Eu, Tonya, que estreia no Brasil nesta quinta (15), o incidente com Kerrigan é só mais um dos tantos episódios violentos abordados sobre a vida da ex-patinadora.
A protagonista (interpretada por Margot Robbie, em sua melhor performance nos cinemas) nos é mostrada sob um ponto de vista totalmente diferente da imagem que os jornais têm estampado de Harding desde 1994; como uma jovem cruel que, motivada por uma suposta inveja de sua colega Nancy, teria tramado um ataque para tirá-la do Campeonato dos Estados Unidos daquele ano. Ao contrário disso, o longa de Craig Gillespie fornece ao espectador todo o contexto de violência no qual a jovem Tonya esteve inserida desde a infância, visando desmistificá-la do papel de bandida calculista, para, finalmente, revelar uma figura humanizada.
A montagem do filme é, com certeza, um de seus diferenciais. Tendo alçado a produção ao “título” de concorrente em três categorias do Oscar 2018 – incluindo a de Melhor Atriz, para Robbie, e a de Atriz Coadjuvante, para a ótima Allison Janney, que interpreta LaVona Golden, mãe de Tonya –, o formato de Eu, Tonya (uma mistura de pseudodocumentário, graças às entrevistas encenadas e à quebra da “quarta parede”, com flashbacks dramatizados) mantém o ritmo frenético, assustador e, simultaneamente, cômico do filme.
Grande parte das cenas de brutalidade, que nos fazem querer virar o rosto da tela, é consequência da insensibilidade extrema de LaVona para com a filha, assim como do temperamento do marido criminoso de Harding, Jeff (Sebastian Stan). Entre uma faca de cozinha arremessada no braço e um soco no olho, a excelente patinadora mostra-se uma frágil jovem adulta que, após se livrar da mãe abusiva, passa a viver dentro de um casamento instável – no qual, de uma hora para a outra, o humor de Jeff o transforma de um homem gentil em um verdadeiro monstro. Enquanto isso, somos guiados pelo cinismo narrativo do longa, cujo intuito é, na verdade, prender a atenção do espectador e despertar sua empatia com a (real) personagem principal, que sofreu com a espetacularização de sua vida de forma degradante.
Para compor esse tom cínico, o diretor optou por adicionar clássicos empolgantes do rock’n’roll em meio a sequências de tensão, como as de agressões físicas e morais contra Tonya. Inicialmente, somos apresentados a uma menina pressionada pela mãe a ser a melhor patinadora artística de sua categoria e, ao longo de seu crescimento pessoal e profissional, começamos a perceber as inseguranças e obsessões de Harding como totalmente fundamentadas. Afinal, e como a própria personagem diz, violência foi somente o que ela conheceu durante a vida. Tachada de “redneck” (termo pejorativo em inglês para se referir aos norte-americanos considerados “caipiras”), Tonya tem de se provar, desde sempre, à família e aos jurados das competições.
Somente em 1991, aos 20 anos, o talento da jovem patinadora fora reconhecido em âmbito internacional, após realizar o salto denominado triple axel – elevando-a ao título de primeira mulher estadunidense a executar o triple de forma bem-sucedida em uma apresentação. E, mesmo assim, a rejeição por parte do público, e da própria Associação de Patinação dos Estados Unidos, continuou a pôr os talentos de Tonya em segundo plano, já que
os estereótipos de beleza e comportamento da época a tratavam como uma competidora de imagem inferior