Tag: Oscar de Melhor Atriz
As mulheres indígenas do cinema latino-americano nas premiações hollywoodianas
6 momentos do Oscar 2018 que fizeram a cerimônia valer muito a pena
Estreia: Com ritmo frenético, ‘Eu, Tonya’ mostra lado humanizado da ex-patinadora
Em 1994, a mídia esportiva contemplou um de seus maiores trunfos noticiosos até hoje: o escândalo que envolvia a então patinadora artística Tonya Harding, seu ex-marido Jeff Gillooly e a também esportista Nancy Kerrigan. Assim, Harding viu seu breve estrelato despencar de vez para as páginas policiais. Em Eu, Tonya, que estreia no Brasil nesta quinta (15), o incidente com Kerrigan é só mais um dos tantos episódios violentos abordados sobre a vida da ex-patinadora.
A protagonista (interpretada por Margot Robbie, em sua melhor performance nos cinemas) nos é mostrada sob um ponto de vista totalmente diferente da imagem que os jornais têm estampado de Harding desde 1994; como uma jovem cruel que, motivada por uma suposta inveja de sua colega Nancy, teria tramado um ataque para tirá-la do Campeonato dos Estados Unidos daquele ano. Ao contrário disso, o longa de Craig Gillespie fornece ao espectador todo o contexto de violência no qual a jovem Tonya esteve inserida desde a infância, visando desmistificá-la do papel de bandida calculista, para, finalmente, revelar uma figura humanizada.
A montagem do filme é, com certeza, um de seus diferenciais. Tendo alçado a produção ao “título” de concorrente em três categorias do Oscar 2018 – incluindo a de Melhor Atriz, para Robbie, e a de Atriz Coadjuvante, para a ótima Allison Janney, que interpreta LaVona Golden, mãe de Tonya –, o formato de Eu, Tonya (uma mistura de pseudodocumentário, graças às entrevistas encenadas e à quebra da “quarta parede”, com flashbacks dramatizados) mantém o ritmo frenético, assustador e, simultaneamente, cômico do filme.
Grande parte das cenas de brutalidade, que nos fazem querer virar o rosto da tela, é consequência da insensibilidade extrema de LaVona para com a filha, assim como do temperamento do marido criminoso de Harding, Jeff (Sebastian Stan). Entre uma faca de cozinha arremessada no braço e um soco no olho, a excelente patinadora mostra-se uma frágil jovem adulta que, após se livrar da mãe abusiva, passa a viver dentro de um casamento instável – no qual, de uma hora para a outra, o humor de Jeff o transforma de um homem gentil em um verdadeiro monstro. Enquanto isso, somos guiados pelo cinismo narrativo do longa, cujo intuito é, na verdade, prender a atenção do espectador e despertar sua empatia com a (real) personagem principal, que sofreu com a espetacularização de sua vida de forma degradante.
Para compor esse tom cínico, o diretor optou por adicionar clássicos empolgantes do rock’n’roll em meio a sequências de tensão, como as de agressões físicas e morais contra Tonya. Inicialmente, somos apresentados a uma menina pressionada pela mãe a ser a melhor patinadora artística de sua categoria e, ao longo de seu crescimento pessoal e profissional, começamos a perceber as inseguranças e obsessões de Harding como totalmente fundamentadas. Afinal, e como a própria personagem diz, violência foi somente o que ela conheceu durante a vida. Tachada de “redneck” (termo pejorativo em inglês para se referir aos norte-americanos considerados “caipiras”), Tonya tem de se provar, desde sempre, à família e aos jurados das competições.
Somente em 1991, aos 20 anos, o talento da jovem patinadora fora reconhecido em âmbito internacional, após realizar o salto denominado triple axel – elevando-a ao título de primeira mulher estadunidense a executar o triple de forma bem-sucedida em uma apresentação. E, mesmo assim, a rejeição por parte do público, e da própria Associação de Patinação dos Estados Unidos, continuou a pôr os talentos de Tonya em segundo plano, já que
os estereótipos de beleza e comportamento da época a tratavam como uma competidora de imagem inferior
A Corrida para o Oscar 2018 de Melhor Atriz
Na última segunda-feira (11), foram divulgados os indicados ao Globo de Ouro 2018. Nas categorias de Melhor Filme (Drama e Comédia ou Musical) destacam-se Me Chame Pelo Seu Nome, Dunkirk, A Forma da Água, The Post – A Guerra Secreta, Corra! e Lady Bird – Hora de Voar. Na quarta (13), dois dias depois da divulgação, os indicados ao SAG Awards 2018 também foram anunciados.
Sendo assim, podemos considerar largada a corrida para a 90ª edição dos Academy Awards. Uma das categorias mais habitualmente comentadas dessas premiações é a de Melhor Atriz Principal. Desta vez, segundo o site Spoiler Movies – que realiza previsões bastante assertivas das indicações ao Oscar –, cinco atrizes estão cotadas para a categoria principal de atuação feminina: Frances McDormand (Três Anúncios para um Crime), Sally Hawkins (A Forma da Água), Margot Robbie (Eu, Tonya), Saoirse Ronan (Lady Bird) e Meryl Streep (The Post).
Das cinco, apenas a veterana Streep não foi indicada ao SAG do ano que vem, sendo “substituída” por Judi Dench (Victoria e Abdul). Quanto ao Globo de Ouro, todas as cinco atrizes foram anunciadas às categorias principais. Mesmo que Streep não tenha levado aquela indicação, considerando seu histórico de “queridinha da Academia”, muito provavelmente a gigante aparecerá entre as disputantes pelo Oscar 2018 – lembrando que Meryl foi indicada 20 vezes à premiação, das quais 16 foram à Atriz Principal, e levou o prêmio três vezes.
Frances McDormand foi anunciada quatro vezes como concorrente aos prêmios de atriz da Academia, tendo vencido em sua única indicação à Principal por Fargo, em 1997. Quanto à jovem de 23 anos, Saoirse Ronan, apesar da pouca idade, já é considerada veterana em Hollywood. Ronan foi indicada ao Oscar pela primeira vez aos 14 anos de idade, pelo drama Desejo e Reparação. Depois, aos 21, foi indicada novamente, pela primeira vez como Atriz Principal, por Brooklyn.
Já a inglesa Sally Hawkins atuou em duas dezenas de filmes, mas apenas em 2014 foi indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante, por Blue Jasmine. Se sua indicação for confirmada para o próximo Academy Awards, essa seria sua primeira nomeação por um papel principal. E, por último, mas não menos importante, temos a popular Margot Robbie. Ao contrário de suas possíveis concorrentes ao Oscar, Robbie é a única a nunca ter sido indicada a um Globo de Ouro ou SAG Awards – até agora. Com sua atuação no filme Eu, Tonya, no qual ela deu vida à real protagonista de um dos maiores escândalos esportivos da história, Margot chamou a atenção da crítica especializada, que logo tratou de especular indicações de Melhor Atriz para a jovem de 27 anos.
Assim como Eu, Tonya, A Forma da Água e Lady Bird têm feito bastante barulho, até mesmo aqui no Brasil. A semelhança entre os três filmes se dá apenas no protagonismo de jovens mulheres: uma patinadora rebelde dos anos 90, uma zeladora muda e sensível na década de 60, e uma adolescente confusa e sonhadora dos anos 2000. Filmes tão diferentes, mas que, com certeza, denotam muita importância para a representação feminina no cinema. Enquanto isso, Streep e McDormand demonstram toda a força de suas atuações, interpretando, respectivamente, uma jornalista disposta a trazer à tona uma verdade escondida por 30 anos e uma mãe desesperada para vingar o assassinato da filha.
Esperemos, então, pelos próximos capítulos da “saga do Oscar”, assim como pela confirmação dessas cinco maravilhas na categoria de Atriz Principal. A Forma da Água tem previsão de estreia no Brasil para 11 de janeiro, The Post para 25 de janeiro, Três Anúncios para um Crime para 8 de fevereiro, Eu, Tonya para 15 de fevereiro e Lady Bird para 5 de abril. Já a 90ª cerimônia do Oscar será realizada em 8 de março de 2018, em Los Angeles (Califórnia), e será transmitida na televisão pelo canal pago TNT.
*Texto originalmente publicado em 14/12/17