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[Crítica] Altered Carbon: a nova série cyberpunk da Netflix
Na última sexta (02), estreou no catálogo da Netflix a série cyberpunk do momento, Altered Carbon – inspirada no livro lançado em 2002, Carbono Alterado, de Richard K. Morgan. Ambientada em uma sociedade futurista, altamente tecnológica e distópica, a trama conta a história de Takeshi Kovacs (Joel Kinnaman), um ex-rebelde que, após passar 250 anos inconsciente, desperta em um novo corpo; ou melhor, em uma nova capa (como é chamada na série).
Contratado pelo magnata Laurens Bancroft (James Purefoy), Kovacs é “ressuscitado” para ajudá-lo a descobrir quem o matou. A partir daí, o destino do ex-Emissário (termo usado para identificar a posição política e filosófica de um antigo grupo rebelde, do qual o protagonista fizera parte) cruza inúmeras vezes com o da enigmática policial Kristin Ortega (Martha Higareda) e, assim, os demais eventos se desenrolam.
No universo da história, a morte integral de um ser humano – ou seja, aquela que determine a não-existência não somente de uma capa, mas sim da consciência de um indivíduo – só é possível a partir da destruição dos denominados cartuchos: aparelhos eletrônicos instalados no organismo de todas as pessoas, desde seus nascimentos, a fim de gravar as suas experiências e ser passível da realização de backups. Sendo assim, qualquer capa danificada poderá ser substituída por outra que estiver disponível e, nessa sociedade, quanto mais pobre alguém for, menos liberdade para escolher um novo corpo essa pessoa terá.
É simplesmente impossível não lembrar de Blade Runner (1982), assistindo à série. Os cenários externos, produzidos por técnicas de CGI, parecem ter saído diretamente de um spin-off do filme de Ridley Scott. Inicialmente, a original Netflix revela-se uma
homenagem a produções como, além do próprio Blade Runner, o anime japonês Ghost in the Shell
Crítica: Mindhunter
Mindhunter, nova série original Netflix, estreou no dia 13 de outubro com dez episódios e já conquistou muitos fãs – principalmente aqueles que já tinham proximidade com as séries policiais. No entanto, ao contrário do que se poderia esperar de uma série chamada “caçador de mentes” (tradução livre para o português), a criação de Joe Penhall, que conta com produção do diretor David Fincher (Zodíaco, Seven e Clube da Luta), se distancia um pouco das séries policiais mais comuns e que contam com muitas cenas de ação, como perseguições e tiroteios.
Inspirada em relatos dos ex-agentes John E. Douglas e Mark Olshaker, autores do livro Mind Hunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit, a série se passa no final da década de 70 e acompanha os agentes Bill Tench (Holt McCallany) e Holden Ford (Jonathan Groff), em suas entrevistas com assassinos em série da época. O intuito da dupla é, através da psicoterapia e de análises comportamentais, traçar perfis desses homens super perigosos e, assim, criar um banco de dados no FBI que sirva para evitar crimes cometidos por pessoas com tais características, ou minimizar seus danos.
Se você já assistiu à série Criminal Minds (exibida originalmente pela CBS), deve se lembrar das cenas sempre muito bem articuladas, em que os agentes elaboram o perfil do criminoso em questão, conseguindo, então, “prever” seus próximos passos e capturá-lo. Sendo assim, Mindhunter poderia ser considerada como uma antecessora de Criminal Minds, dentro desse nicho ficcional.
A série aborda o início dos trabalhos com perfis de assassinos, da psicologia criminal até o nascimento do termo “serial killer”. O FBI de Tench e Ford trabalha apenas para prender criminosos, e não para evitar que crimes aconteçam. A psicologia é vista como “coisa de mulher”, e, a princípio, os esforços dos agentes são incompreendidos. Isso acontece até o momento em que, aplicando seu conhecimento teórico na prática, resultados começam a aparecer e a dupla consegue algum tipo de prestígio.
O papel das mulheres dentro da obra também merece ser comentado. Logo nos primeiros episódios, nota-se que são raras as mulheres que trabalham no FBI. Durante as aulas de Ford na academia, a câmera mostra apenas uma mulher na turma. Nos corredores da instituição o cenário não é diferente. As duas personagens mulheres que se destacam são Debbie (Hannah Gross), namorada de Ford, que, com sutileza, explicita como é lidar com o ego de um homem – por mais “bonzinho” que ele seja –, e Wendy (Anna Torv), psicóloga convidada pelo FBI para integrar o time de Ford e Tench, e que, por mais bem sucedida que seja, esconde sua relação homossexual para evitar possíveis prejuízos à carreira.
Sem dúvidas, o trunfo de Mindhunter é ser rebuscado, ao mesmo tempo em que é sutil, apostando em roteiros bem costurados, personagens aprofundados – com diversas nuances – e diálogos bem elaborados. Essa combinação, somada a figuras reais de assassinos, instaura um clima no qual a ação não faz falta.
Em entrevista ao El País, Fincher comentou sobre o fascínio que assassinos em série despertam na TV e no cinema: “acho que, em parte, nós temos fomentado isso. Na narrativa cinematográfica e televisiva sempre precisamos de um bom homem do saco; de Michael Myers a Hannibal Lecter, os apresentamos como sofisticados gênios do mal. Mas, na vida real, não são assim. São seres tristes, muitas vezes patéticos, que tiveram experiências de vida terríveis e que cometeram atos horrendos.” E é exatamente pelo fascínio do público que Mindhunter joga. E joga muito bem.
*Texto originalmente publicado em 19/10/17
Ficha técnica
Criação: Joe Penhall
País: EUA
Ano: 2017
Elenco: Anna Torv, Jonathan Groff, Holt McCallany
Gênero: Policial, Drama
Distribuição: Netflix