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Os 4 filmes da Pixar que trabalham melhor a representatividade feminina
Como era de se esperar, o lado machista da internet – que não é nada sutil – bradou contra o protagonismo feminino do novo longa-metragem. O filme estreia em 14 de junho deste ano (trailer aqui) e, para te ajudar a entrar no clima, a gente preparou uma listinha com os filmes da Pixar que trabalham melhor a representatividade feminina. Olha só!
1. VALENTE (2012)
Merida (voz original de Kelly Macdonald) é a rebelde princesa de um clã escocês. Extremamente corajosa e determinada a seguir seus sonhos, ela está em constante conflito com a mãe, a Rainha Elinor (Emma Thompson), que preza pelos bons modos da filha. Contra um casamento arranjado, Merida, então, decide se consultar com uma senhora idosa e cheia de poderes. Dirigido por Brenda Chapman e Mark Andrews, o longa está disponível na Netflix.
Trailer de Valente (Fonte: Walt Disney Studios BR / YouTube)
2. DIVERTIDA MENTE (2015)
Riley (Kaitlyn Dias) é uma garota comum de onze anos, que acaba de se mudar para São Francisco (Califórnia). Tomada por suas emoções – representadas pelas figuras animadas Alegria (Amy Poehler), Tristeza (Phyllis Smith), Raiva (Lewis Black), Medo (Bill Hader) e Nojinho (Mindy Kaling), que vivem dentro de sua mente – a menina passa por uma série de questões importantes ao próprio amadurecimento.
Dirigido por Pete Docter e Ronaldo Del Carmen, Divertida Mente conta com o protagonismo de Riley, uma garota que joga hóquei e super complexa; Alegria, uma figura feminina altamente determinada, e Tristeza, uma personagem extremamente profunda.
Trailer de Divertida Mente (Fonte: Walt Disney Studios BR / YouTube)
3. PROCURANDO DORY (2016)
Continuação de Procurando Nemo (2003), esta produção foca na história da peixinha com problemas de memória, Dory (Ellen DeGeneres). Na trama, Dory embarca em uma jornada para encontrar seus pais, dos quais se perdera ainda pequena. Além do retorno de Nemo (Hayden Rolence) e Marlin (Albert Brooks), Procurando Dory introduz novos personagens, como o polvo Hank (Ed O’Neill).
Dirigido por Andrew Stanton e Angus MacLane, o filme apresenta Dory como uma peixe fêmea muito mais independente e complexa do que aquilo que vimos em Procurando Nemo. Além do que, a continuação trata de forma sensível sobre a questão de deficiências mentais e físicas. Disponível no
NET NOW
De acordo com dados, mulheres são destinadas a dirigirem filmes de menor orçamento
Há alguns anos, felizmente, o assunto cinema e mulheres na direção tem rendido boas discussões. Em 2016, Anna Muylaert fez barulho no cinema nacional com seu filme Que Horas Ela Volta?, e também com seu posicionamento de enfrentamento perante os entraves que a indústria cinematográfica coloca no caminho de profissionais femininas. Já em 2017, Patty Jenkins entrou para a história como a primeira mulher a dirigir um filme de super-herói. Além disso, a diretora também contou com um grande orçamento – raramente destinado a mulheres – para fazer o seu Mulher-Maravilha. Antes dela, apenas Kathryn Bigelow havia trabalhado com uma verba acima de 100 milhões de dólares.
No Brasil, Muylaert já vinha usando debates e exibições de seu filme para discutir como as mulheres são sempre obrigadas a provarem uma maior qualificação, antes de conseguirem trabalhos no cinema, e como as produções com grandes orçamentos são sempre “naturalmente” destinadas a homens. Tal dinâmica funciona como se dinheiro fosse automaticamente sinônimo de direção masculina. Por isso, Jenkins ter conseguido fazer um filme tão grandioso de uma super-heroína serviu para levantar o debate acerca dessas questões a nível mundial.
Fazer filmes de ficção custa muito caro e, se a indústria não coloca dinheiro na mão das mulheres, por sempre pensarem primeiro em nomes masculinos, fica complicado que elas mostrem seu trabalho para o grande público. Dessa dinâmica, surge a necessidade do maior envolvimento de mulheres com produções de menor orçamento – como os filmes independentes ou os documentários. Essa realidade não seria ruim se acontecesse por opção, mas parece ser trajeto determinado quando o assunto é mulher e cinema.
Em 2014, a New York Film Academy divulgou um infográfico cujos dados, analisando os 500 filmes mais vistos no período entre 2007 e 2012, revelavam que, apesar de mulheres serem responsáveis por comprarem metade dos ingressos vendidos nos EUA, elas ainda estão pouco presentes atrás das câmeras – além de dirigirem mais documentários (34.5%) do que ficções (16.9%). No Brasil, o boletim “Raça e gênero no cinema brasileiro”, do Instituto GEMAA, revela que, entre os anos de 1970 e 2016, os filmes com grande público (acima de 500.000 espectadores) foram predominantemente dirigidos por homens (98%). Um diretor não-branco sequer foi identificado, assim como, entre os 2% de diretoras mulheres, nenhuma é negra.
O anuário da Ancine de 2016 ainda indica que, no Brasil, apenas 20.4% dos títulos lançados no cinema foram dirigidos por mulheres. Além disso, em 2015, o percentual de público dos lançamentos de filmes feitos por diretoras era de 27.7%, número que caiu para 8.8% em 2016. Dos 20,4 % dos títulos lançados e dirigidos por mulheres, 48.3% eram documentários. Enquanto que, dos 78.2% dos títulos dirigidos por homens, apenas 25.2% eram documentários.
Todos esses dados expõem condições que há muito tempo são naturalizadas no meio cinematográfico. O cinema ainda é um cenário no qual os homens carregam consigo o poder econômico e ideológico. Claro que nem toda diretora mulher quer dirigir um filme milionário, mas é necessário que mulheres passem a também serem uma opção de escolha dos grandes estúdios. Talvez, as
movimentações dos últimos anos
Crítica: Duas de Mim
Não é de hoje que os filmes comerciais de comédia nacional têm fama de carregar multidões aos cinemas, mas isso começou a variar de acordo com o contexto sociocultural do momento. Em 2015, Loucas Pra Casar foi o filme nacional de maior bilheteria. Já em 2016, o polêmico e religioso Os Dez Mandamentos ficou em primeiro lugar. Agora, em 2017, Polícia Federal – A Lei é Para Todos fez grandes números, vendendo mais de 400 mil ingressos no primeiro fim de semana.
Tais números, que demonstram a preferência do público geral por filmes nacionais com conteúdos problemáticos – como piadas preconceituosas, estereótipos machistas e temáticas das religiões dominantes – são um reflexo da manifestação do conservadorismo em nosso país, que não é recente, mas que avança.
Ainda que filmes religiosos e politicamente conservadores tenham fincado seu lugar no cinema nacional, as comédias são sempre lançadas com alguma frequência e apresentam números bastante expressivos. Duas de Mim é um desses casos. Sua estreia no dia 28 de setembro rendeu mais de 80 mil ingressos vendidos no primeiro fim de semana.
Com direção de Cininha de Paula – experiente em produções televisivas da Rede Globo, como Escolinha do Professor Raimundo, Sai de Baixo e Pé na Cova – seu novo filme se propõe a retratar, de forma divertida, a vida de Suryellen (Thalita Carauta), uma mulher que vende marmitas pela manhã, trabalha lavando louça para um restaurante à noite e mantém sozinha o filho, a mãe (Maria Gladys) e a irmã mais nova (Letícia Lima), representando, assim, a dura rotina de muitas mulheres brasileiras.
Até certo ponto, tratar dos problemas do dia a dia e dos sonhos que uma mulher não consegue realizar – porque a sociedade não permite – de forma engraçada, parece ser uma proposta com muito potencial. Até mesmo o humor contido no fato de o cantor Latino interpretar um cover de si próprio chega a funcionar. No entanto, quando a protagonista come um “bolo dos desejos” e pede para se dividir em duas, as coisas começam a desandar. Isso acontece não apenas na qualidade do filme em si, mas atrapalha também a mensagem que ele poderia transmitir aos espectadores.
Quando a outra Suryellen surge, idêntica fisicamente, mas com uma personalidade completamente diferente da original, poderia ter surgido também uma demonstração de solidariedade da duplicata para com aquela mulher que tinha uma vida tão atribulada. Inicialmente, isso até acontece, mas a clone da protagonista logo se transforma no clichê da vilã que precisa ser derrotada, e qualquer chance de falar sobre sororidade – o apoio mútuo entre mulheres –, em uma comédia que conversa com milhares de pessoas, vai direto para o buraco.
A partir daí, diversos clichês de baixa qualidade são simplesmente jogados no filme; como a vilã louca que quer tomar o lugar de outra mulher, o machismo textual reproduzido em várias cenas, a mulher rica que não trabalha e só quer glamour e as piadas inaceitáveis com anões, em pleno 2017. Tudo isso para terminar com o Latino cantando algo chamado por ele de “reggaeton abrasileirado”, mas que de reggaeton não tem nada.
Duas de Mim poderia ser uma aposta interessante na mudança de rumo das comédias nacionais escrachadas. Em determinados momentos, algumas mensagens importantes até conseguem ser lançadas, mas, infelizmente, não é um filme que entrega o potencial que aparentava ter. Trata-se de mais uma comédia que tenta flertar com pautas que estão em alta no momento, mas que por vezes se perde no pior do humor conservador.
*Texto originalmente publicado em 12/10/2017
**Dados sobre bilheterias foram retirados do site AdoroCinema
Ficha técnica
Ano: 2017
Duração: 1h22
Direção: Cininha de Paula
Elenco: Thalita Carauta, Latino, Letícia Lima, Márcio Garcia
Distribuidora: Paris Filmes
País: Brasil