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[Coluna] mãe! – amor vs. ódio pelo filme de Darren Aronofsky
mãe! (em letra minúscula mesmo) estreou em setembro de 2017, dividindo grande parte da crítica especializada e do público. Com aprovação de 69% da crítica e exatos 50% dos espectadores no site Rotten Tomatoes, o longa-metragem do cultuado Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho, Cisne Negro) é uma grande alegoria sobre passagens marcantes da Bíblia.
Com personagens sem nome (em cena), um cenário propositalmente limitado e atuações viscerais – de Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Michelle Pfeiffer e Ed Harris –, mãe! conta a história de um casal que vive em uma casa afastada de qualquer outro traço de civilização; e que, após receber a visita inusitada de um casal mais velho, tem sua vida alterada para sempre.
A cena de introdução já intriga os espectadores: o rosto de uma mulher jovem, em meio a um misterioso incêndio ao fundo. De repente, há um brusco corte e o personagem de Bardem aparece segurando uma pedra de cristal. Mais um corte, e as cinzas do incêndio reconstituem-se em um sobrado de cores claras.
A protagonista (Lawrence) desperta, então, de um sono tranquilo, e logo chama pelo marido (o próprio personagem de Bardem). A ausência de trilha sonora, ao mesmo tempo em que permite a máxima contemplação de sons comuns a uma residência isolada, deixa-nos tensos com o suspense interminável. Pode-se dizer que há três atos em mãe!: um início assustador, um meio absurdo e um final te-ne-bro-so (principalmente aos amantes da produção, e no melhor sentido possível, diga-se de passagem).
A temática do feminismo é a primeira a ser entregue de acordo com o andamento da narrativa. Além das histórias cristãs, a questão do ambientalismo também dá as caras no longa-metragem. Representada segundo uma figura feminina, a Mãe Natureza fora sempre violentada por nossas guerras, desuniões e excessos, em geral. Distante da necessidade de sobrevivência dos seres humanos, ela (a natureza) é negligenciada e aloprada por nossa espécie, tão (auto)destrutiva.
Ao mesmo tempo em que idolatramos figuras místicas, temos o mínimo cuidado possível para com nossa morada compartilhada: o planeta Terra. Segundo o principal livro sagrado cristão, a Humanidade fora originada com a chegada de Adão, o primeiro homem, e Eva, a primeira mulher, ao Jardim do Éden. Depois que Eva, advinda de uma costela de Adão, come o fruto proibido, tudo começa a desandar no Paraíso. E, a partir da famosa história, mãe! constrói sua primeira metade.
Graças à cinematografia essencialmente metafórica e expositiva do filme, sua interpretação positiva chega a ser tão relevante quanto a negativa. mãe! divide o público justamente pelo ineditismo com o qual nos atinge. Todas as pessoas são livres e têm o direito de acharem o que quiser sobre a produção de Aronofsky, mas o interesse que o filme despertou é inegável – e sem ter de ofender grupos sociais oprimidos para ocasionar discussões, como muitas histórias infelizmente ainda fazem.
Talvez, essa constatação seja um dos principais pontos para não invalidar a obra em questão. A violência do longa-metragem não é nada recente no cinema, por mais explícita que seja – e, ainda assim, é consideravelmente criticada por parte do público. Mas, para além do choque proposto pelo diretor, as reflexões discutidas em mãe! são bastante válidas.
O personagem de Bardem, por exemplo, é
um retrato digno de todos os defeitos da supremacia cristã na História