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[Crítica] Sharp Objects é assustadoramente fascinante
[NÃO contém spoilers!]
No último domingo (26), foi ao ar o oitavo e último episódio de Sharp Objects, minissérie da HBO estrelada por Amy Adams. A produção – inspirada no romance homônimo de Gillian Flynn (autora de Garota Exemplar), dirigida por Jean-Marc Vallée (de Big Little Lies) e produzida por Jason Blum (de Corra!) – conta a história de uma jornalista que volta à sua cidade natal; com o intuito de investigar o assassinato de duas adolescentes.
De família rica e influente, na interiorana Wind Gap, Camille Preaker (Adams) sofrera uma série de traumas quando adolescente (Sophia Lillis, em flashbacks) – o que culminou em sua depressão, alcoolismo e automutilação. Com o corpo completamente coberto por cicatrizes de palavras (aparentemente) aleatórias, a protagonista revela um passado bastante sombrio.
Anos atrás, ela e sua mãe, Adora Crellin (Patricia Clarkson), tiveram de passar pelo luto de perder a caçula da família repentinamente. Desde então, a primogênita vive em um ciclo de autodepreciação, já tendo sido até mesmo internada em uma clínica de reabilitação. Agora, Camille retorna à sua antiga casa, à pedido do chefe, e tem de conviver com a mãe distante, o apático padrasto, Alan (Henry Czerny), e a instável meia-irmã, Amma (Eliza Scanlen).
Tal como em Big Little Lies, a direção de Vallée é impecável. A sincronia e a naturalidade com as quais os atores trabalham é essencial em uma obra como essa – na qual a sutileza é a verdadeira essência de seu suspense. Quase não há cenas de violência explícita na série e, as que chegam mais perto disso, são mostradas apenas sob rápidos flashes. O clima de estranhamento é tão presente, e em tudo, que fica difícil apostarmos em um assassino específico e de primeira. Até mesmo nos últimos minutos da minissérie, pegamo-nos questionando a verdadeira identidade do(a) criminoso(a).
E isso se deve, também, a atuações memoráveis. Eliza Scanlen é a verdadeira revelação de Sharp Objects. Sua interpretação destaca-se entre nomes de peso como Adams e Clarkson – com quem atua na maior parte de suas cenas. O trio de protagonistas, aliás, representa o que há de mais tóxico em um núcleo familiar. A obsessão de Adora pelas filhas e a rebeldia preocupante de Amma não ajudam, nem um pouco, na recuperação de Camille.
Uma das cenas mais marcantes da série é o momento em que a personagem de Adams revela suas cicatrizes para a família. Para isso, foram feitas 350 tatuagens temporárias de palavras rabiscadas, produzidas pelo maquiador Adrien Morot (franquia X-Men). Como um todo, a relação de Camille com objetos pontudos e/ou cortantes é bastante explorada pelo enredo – aparecendo, inclusive, no contato da ponta de seu dedo com cílios postiços.
Cada atitude dos personagens, por mais tardiamente que sejam reveladas, estão de acordo com aquilo que fora mostrado antes; e, o mais interessante disso é que, mesmo as ações menos humanizadas (as mais brutais), entregam o cuidado e os detalhes do roteiro da produção. Apesar de a história ser baseada em um livro já finalizado, o modo como as coisas acontecem é inteligente e totalmente claro.
Sharp Objects é, com certeza, uma obra que merece a sua atenção. Vallée traz, novamente, um trabalho de altíssima qualidade para a televisão – um que supera, até mesmo, o seu último. Seja pela reviravolta no final, pelas atuações grandiosas ou pela montagem de extrema precisão, a minissérie é um dos melhores programas televisivos deste ano. Disponível na HBO Go e no Net Now.
Ficha técnica
Criação: Gillian Flynn, Marti Noxon
País: EUA
Ano: 2018
Elenco: Amy Adams, Patricia Clarkson, Eliza Scanlen, Sophia Lillis
Gênero: Drama, Suspense
Distribuição: HBO
Crítica: A Louva-a-deus, nova série original Netflix
O ano de 2017 acabou com um balanço bastante positivo em relação às séries originais estrangeiras (não americanas) da Netflix. Mesmo que as produções em língua não inglesa não tenham chegado à plataforma de streaming com o mesmo hype de uma Stranger Things, elas se saíram muito bem diante do público e da crítica.
Crítica: Mindhunter
Mindhunter, nova série original Netflix, estreou no dia 13 de outubro com dez episódios e já conquistou muitos fãs – principalmente aqueles que já tinham proximidade com as séries policiais. No entanto, ao contrário do que se poderia esperar de uma série chamada “caçador de mentes” (tradução livre para o português), a criação de Joe Penhall, que conta com produção do diretor David Fincher (Zodíaco, Seven e Clube da Luta), se distancia um pouco das séries policiais mais comuns e que contam com muitas cenas de ação, como perseguições e tiroteios.
Inspirada em relatos dos ex-agentes John E. Douglas e Mark Olshaker, autores do livro Mind Hunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit, a série se passa no final da década de 70 e acompanha os agentes Bill Tench (Holt McCallany) e Holden Ford (Jonathan Groff), em suas entrevistas com assassinos em série da época. O intuito da dupla é, através da psicoterapia e de análises comportamentais, traçar perfis desses homens super perigosos e, assim, criar um banco de dados no FBI que sirva para evitar crimes cometidos por pessoas com tais características, ou minimizar seus danos.
Se você já assistiu à série Criminal Minds (exibida originalmente pela CBS), deve se lembrar das cenas sempre muito bem articuladas, em que os agentes elaboram o perfil do criminoso em questão, conseguindo, então, “prever” seus próximos passos e capturá-lo. Sendo assim, Mindhunter poderia ser considerada como uma antecessora de Criminal Minds, dentro desse nicho ficcional.
A série aborda o início dos trabalhos com perfis de assassinos, da psicologia criminal até o nascimento do termo “serial killer”. O FBI de Tench e Ford trabalha apenas para prender criminosos, e não para evitar que crimes aconteçam. A psicologia é vista como “coisa de mulher”, e, a princípio, os esforços dos agentes são incompreendidos. Isso acontece até o momento em que, aplicando seu conhecimento teórico na prática, resultados começam a aparecer e a dupla consegue algum tipo de prestígio.
O papel das mulheres dentro da obra também merece ser comentado. Logo nos primeiros episódios, nota-se que são raras as mulheres que trabalham no FBI. Durante as aulas de Ford na academia, a câmera mostra apenas uma mulher na turma. Nos corredores da instituição o cenário não é diferente. As duas personagens mulheres que se destacam são Debbie (Hannah Gross), namorada de Ford, que, com sutileza, explicita como é lidar com o ego de um homem – por mais “bonzinho” que ele seja –, e Wendy (Anna Torv), psicóloga convidada pelo FBI para integrar o time de Ford e Tench, e que, por mais bem sucedida que seja, esconde sua relação homossexual para evitar possíveis prejuízos à carreira.
Sem dúvidas, o trunfo de Mindhunter é ser rebuscado, ao mesmo tempo em que é sutil, apostando em roteiros bem costurados, personagens aprofundados – com diversas nuances – e diálogos bem elaborados. Essa combinação, somada a figuras reais de assassinos, instaura um clima no qual a ação não faz falta.
Em entrevista ao El País, Fincher comentou sobre o fascínio que assassinos em série despertam na TV e no cinema: “acho que, em parte, nós temos fomentado isso. Na narrativa cinematográfica e televisiva sempre precisamos de um bom homem do saco; de Michael Myers a Hannibal Lecter, os apresentamos como sofisticados gênios do mal. Mas, na vida real, não são assim. São seres tristes, muitas vezes patéticos, que tiveram experiências de vida terríveis e que cometeram atos horrendos.” E é exatamente pelo fascínio do público que Mindhunter joga. E joga muito bem.
*Texto originalmente publicado em 19/10/17
Ficha técnica
Criação: Joe Penhall
País: EUA
Ano: 2017
Elenco: Anna Torv, Jonathan Groff, Holt McCallany
Gênero: Policial, Drama
Distribuição: Netflix