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Crítica: Jessica Jones – 2ª temporada
Na última quinta (08), em pleno Dia Internacional da Mulher, estreou na Netflix a segunda temporada de uma das séries mais queridas da Marvel: Jessica Jones. Krysten Ritter retorna como a protagonista Jones, a investigadora particular mais durona de Nova York, nesta temporada cheia de surpresas e reviravoltas.
Agora, trabalhando com um novo parceiro, seu vizinho Malcolm Ducasse (Eka Darville), Jessica é induzida por sua irmã adotiva, a celebridade Trish Walker (Rachael Taylor), a investigar um caso de interesse estritamente pessoal. Como nos é mostrado na primeira temporada, depois do acidente que matou sua família, e do qual Jones também participou, a então adolescente adquiriu novas habilidades. No entanto, sua super-força – o maior dentre os atributos – não teve origens naturais, como pensávamos. E é a partir daí que o enredo central dos novos episódios é construído.
Além do trio principal, a ambiciosa Jeri Hogarth (interpretada pela veterana Carrie-Anne Moss) está de volta, protagonizando um núcleo à parte. Como no início, seus interesses amorosos e sua sede por poder são a grande razão de seus problemas. Enquanto isso, Janet McTeer dá vida a uma personagem misteriosa e ambígua, que pode ser a ruína ou a salvação de grandes conflitos.
Ao mesmo tempo em que esta temporada segue o familiar clima de suspense noir – com seus casos extraordinários, humor ácido, fotografia arroxeada e trilha sonora instigante –, desta vez, Jessica Jones apresenta subtramas mais complexas e diversificadas. É claro que, em um primeiro momento, a presença do vilão Kilgrave (David Tennant) faz falta. Afinal, sua forte personalidade, motivações cruéis e escabrosas, além da ótima atuação de Tennant, marcaram bastante a primeira temporada da série.
Conscientes disso, a Marvel Television, juntamente com a Netflix, elaborou uma trama na qual, durante a primeira metade da temporada, o maior objetivo do espectador é desvendar quem seria o novo grande vilão. Será que há mesmo um personagem tão emblemático como o repugnante Kilgrave? Ou será que o suposto antagonista não é páreo para a vilania de seu antecessor? Ou ainda, e se o vilão tiver dado espaço a figuras pouco metafóricas de opressores reais (como Kilgrave faz), focando em situações mais verossímeis?
Para descobrir o intuito dos roteiristas, você precisa assistir à série. E, acredite ou não, mesmo ao término de seu 13º episódio (o último da temporada), não temos todas as respostas a essas perguntas – o que chega a ser algo positivo, já que obviedade e rotulação não são tão bem-vindas em produções televisivas. Talvez, o único rótulo relevante de Jessica Jones diz respeito à representatividade de seus personagens.
Mais uma vez, e como era de se esperar, o feminismo da protagonista nos é escancarado com destreza – assim como através de mulheres extrema e psicologicamente fortes: Trish e Hogarth. Esta última, inclusive, vivida pela grandiosa Moss, representa com naturalidade a homossexualidade, ao nos entregar uma advogada bem-sucedida, rica e assumidamente lésbica. Por falar em Hogarth, a personagem fora adaptada de um – originalmente – masculino, dos quadrinhos.
Simultaneamente, no decorrer dos episódios, percebemos Jessica cada vez mais tramitada à decadência e à destruição de pessoas próximas. Sua dedicação ao buscar por verdade, e para manter inabaláveis seus valores éticos, é realmente admirável – ainda mais se considerarmos todo o sofrimento ao qual uma mulher tão jovem já foi submetida: perdas enormes, experimentação ilegal do próprio corpo, exploração de menor, abuso sexual, controle da mente, culpa, renegação, alcoolismo e, mais recentemente, dúvidas sobre fatos dolorosos de seu passado.
Ainda assim, as muitas reviravoltas da trama acabam por deixá-la sem um propósito esclarecido. O fato de Jessica buscar por detalhes de seu passado é, de fato, interessante, mas, o modo como as coisas se dão, nem tanto. E, ao mesmo tempo em que a grande quantidade de cenários explorados é uma boa ideia, o rápido vai e vem dos personagens parece um tanto confuso a quem maratona a temporada.
Jessica Jones é realmente uma série que merece a devida atenção (às duas temporadas). A manutenção de sua qualidade demonstra que a Marvel está mesmo empenhada em produzir conteúdo televisivo desse tipo – e não somente cinematográfico. Enquanto temos todo o misticismo de seu universo nos cinemas, na Netflix,
temos urbanismo e proximidade com a vida real
O trio – de ouro – dos filmes solos de super-heroínas (Marvel e DC)
Das maiores super-heroínas das indústrias Marvel e DC que foram retratadas no cinema, pouquíssimas são lembradas por seus fiéis espectadores. Viúva Negra, Gamora, Elektra, Mulher-Maravilha e Mulher-Gato – esta que, seguindo fielmente os quadrinhos, seria categorizada como super-vilã – são as figuras femininas mais populares desses universos ficcionais. Algumas outras personagens saíram diretamente da literatura geek para as telonas, como Nebula (Guardiões da Galáxia), Feiticeira Escarlate (Vingadores), heroínas X-Men (como Jean Grey, Vampira, Tempestade e Mística), Hera Venenosa (Batman & Robin), Batgirl (Batman & Robin) e Arlequina (Esquadrão Suicida).
Passando para as séries de televisão, temos Agente Carter, Supergirl e Jessica Jones como protagonistas femininas em séries homônimas. Isso nos leva à uma simples reflexão: assim como na TV, no cinema, temos apenas três live-actions solos de super-heroínas dos quadrinhos mais famosos (até o momento desta matéria). Vamos, portanto, focar em nosso “trio de ouro”: Mulher-Gato (2004), Elektra (2005) e Mulher-Maravilha (2017).
1. MULHER-GATO (2004)
Primeiro, precisamos dizer que esse filme não agradou muita gente – incluindo a crítica especializada. Mas, considerando que ele é um dos únicos filmes solos de super-heroína, a gente põe, sim, dentro do quesito “de ouro”, assim como os outros dois debaixo. Pronto, agora podemos seguir.
Em meio às falhas sucessivas no roteiro e problemas de execução, Mulher-Gato conta com uma forte representatividade. O longa-metragem foi a terceira adaptação cinematográfica da antagonista de Batman, que ganhou seu próprio filme no início dos anos 2000. Halle Berry deu vida à Patience Phillips – uma releitura de Selina Kyle (a Mulher-Gato dos quadrinhos) –, protagonista do filme cuja história não tem nada a ver com o enredo original da personagem.
Berry foi a primeira e única mulher negra da História a ganhar o Oscar de Melhor Atriz, dois anos antes do lançamento de Mulher-Gato. Após anunciarem sua escalação para o papel principal, as expectativas da crítica para o filme não poderiam ter sido mais altas. Quanto ao público, os fãs mais fervorosos e conservadores com certeza sentiram insatisfação ao se depararem com uma Mulher-Gato negra. Um fato interessante é que Berry não foi a primeira atriz negra a interpretar a personagem; em 1966, a cantora Eartha Kitt encarnou Selina na televisão.
Voltando ao longa de 2004, apesar do ótimo elenco (além de Berry, Sharon Stone foi escalada para viver a vilã), a história fraca não é capaz de sustentar o filme. Os efeitos especiais de CGI pecam bastante em qualidade e as sequências de ação não têm nada de especial. Algumas cenas, entretanto, demonstram bem o poder feminino da protagonista – como quando ela luta com bandidos em uma joalheria. Além da Mulher-Gato e da vilã de Stone, a melhor amiga interpretada por Alex Borstein integra o time de mulheres cheias de personalidade.
Mesmo assim, o suposto “girl power” do filme fica ofuscado pela hiperssexualização da personagem-título. Não é novidade que a Mulher-Gato é sexualizada desde os quadrinhos, mas, como protagonista do filme em questão, tal representação deveria, no mínimo, ter sido reduzida – mas parece que aumenta. A roupa de couro e o chicote não poderiam remeter mais a fetiches masculinos; o sentimento de revanchismo da vilã não poderia ser por um motivo mais fútil (aparência), e o par romântico de protagonistas não poderia ser mais insosso. Failed.
2. ELEKTRA (2005)
Tal como Mulher-Gato, o filme solo da Elektra não foi – e não é – visto com bons olhos. Mas, diferentemente do primeiro, esse aqui abraça a galhofa ainda mais. Jennifer Garner foi a escolhida para viver a personagem do mundo do Demolidor, em uma época em que as noções de empoderamento feminino não eram tão exploradas quanto atualmente. E, seguindo a onda de Mulher-Gato, Elektra foi vendido como um filme “daquela namorada sexy do Demolidor”.
Garner já havia interpretado a personagem no filme do Demônio de Hell’s Kitchen em 2003, mas, mesmo com a desaprovação do longa por grande parte do público, a 20th Century Fox decidiu lançar um filme solo da heroína em 2005. O resultado foi ainda pior do que o de Demolidor – O Homem Sem Medo.
Em Elektra, a personagem-título – que se tornou uma assassina profissional após a própria ressurreição – tem como tarefa acabar com a vida de Mark (Goran Višnjić) e de sua filha adolescente, Abby (Kirsten Prout). Sensibilizada pela família, Elektra acaba por não cumprir sua missão e, ainda mais, passa a ter uma relação com os dois. A princípio, o envolvimento afetivo da heroína com a jovem de treze anos poderia ter sido algo bom para a história, mas isso remete muito mais à ideia de que as mulheres teriam o dom natural para lidar com crianças, do que o contrário – vulgo, maternidade compulsória.
Ou seja, no primeiro filme solo da personagem, o conflito principal é desencadeado por seu afeto nutrido por uma menina. Quantas vezes já vimos isso durante a jornada de um super-herói masculino? Pouquíssimas, não é? Mas, Elektra não é homem, ela é mulher, portanto, bondade não basta para ser uma “verdadeira super-heroína”. Também é preciso um corpo torneado e vestido por trajes colados, decotados e que deixem a barriga de fora. Super prático, não é mesmo? – não. Tudo para agradar a audiência masculina.
Não precisamos nem comentar sobre as sequências de ação clichês e sobre os efeitos especiais mal feitos. Galhofada completa.
3. MULHER-MARAVILHA (2017)
Mulher-Maravilha foi um dos filmes mais bombados deste ano. O longa-metragem foi um sucesso de bilheteria e de crítica. “Finalmente!”, podemos ouvir o público ecoar. Finalmente a DC acertou em um filme de seu universo cinematográfico, e finalmente uma super-heroína ganhou um live-action solo digno de sua incrível personalidade.
Toda a origem de Diana Prince é mostrada, desde sua infância na ilha de Themyscira, até sua participação na Primeira Guerra ao lado de soldados norte-americanos. As cenas de luta foram muito bem elaboradas e conduzidas, e não há closes constrangedores no corpo da protagonista. Gal Gadot trouxe uma Diana sensível e determinada, disposta sempre a lutar pelos ideias mais nobres.
Na primeira parte, o núcleo das Amazonas é visualmente deslumbrante, retratando de forma bastante apropriada o poder e a independência das deusas da ilha – o que já traz fôlego o suficiente para o espectador acompanhar o resto do filme com gosto. Alguns diálogos feministas de Diana dão um gás ainda maior à produção, demonstrando a naturalidade das noções de equidade entre os gêneros. Já no terceiro ato, o longa perde um pouco de sua força por causa de um vilão mal introduzido, mas isso não é o suficiente para desvalorizar a história.
Rompendo com vários estereótipos explorados em Mulher-Gato e em Elektra, Mulher-Maravilha traz um novo olhar sob as heroínas dos quadrinhos, de forma a reinventar toda a sua representação nas telonas. Mesmo assim, precisamos destacar que há, sim, problemáticas envolvendo a padronização da beleza de quase todo o elenco (mulheres brancas e magras, principalmente).
Seguindo a linha desse filme, os próximos longas de heroínas da Marvel e da DC a serem lançados são, fora de ordem: Capitã Marvel, um filme sobre as super-vilãs da DC Comics (com o título provisório de “Sereias de Gotham”), um filme da Batgirl e a sequência de Mulher-Maravilha. Esperemos que os roteiristas e diretores adaptem essas personagens de forma cada vez menos estereotipada. Sigamos, assim, evoluindo continuamente.