Faltando pouco mais de um mês para a data da cerimônia de premiação do Oscar 2020, todos os países que tentam uma indicação na categoria de Melhor Filme Internacional já escolheram seus representantes. Ao todo foram 93 filmes pré-selecionados. Dentre eles, 15 títulos latino-americanos.
Neste período, cada país aproveita para destacar o que acredita ser o melhor de sua safra cinematográfica do ano correspondente. Pensando, então, em aumentar o contato do público brasileiro com o tem sido feito de melhor no cinema da região, organizamos uma lista com breves comentários sobre os filmes latinos que estão na corrida pela estatueta dourada. Acompanhe:
ARGENTINA – A Odisseia dos Tontos (Sebastián Borensztein)
Ambientado na Argentina do início dos anos 2000, em plena crise econômica, A Odisseia dos Tontos narra as desventuras de um grupo de amigos que leva um golpe dos funcionários de um banco, perdendo, assim, todo o dinheiro que havia juntado para reformar uma cooperativa agrícola. Misturando comédia com drama e ação, o longa consegue ser divertido e, ao mesmo tempo, dialogar com a crise argentina atual.
A Odisseia dos Tontos conta com Chino Darín, Ricardo Darín e Luis Brandoni no elenco, está indicado ao Goya de Melhor Filme Ibero-Americano e já estreou nos cinemas brasileiros. Leia nossa crítica aqui.
BOLÍVIA – Tu me Manques (Rodrigo Bellott)
Gabriel e Sebastián são dois jovens bolivianos que se conhecem em Nova York. Apaixonado e sem saber como lidar com a cultura homofóbica de seu país de origem e de sua família, Gabriel chega ao limite de decidir tirar a própria vida.
Depois da morte do filho, Jorge viaja aos EUA para conhecer Sebastián. Começa aí um processo de enfrentamento do luto e de compreensão sobre a diversidade do amor.
Tu me Manques conta com a espanhola Rossy de Palma e o argentino Oscar Martínez no elenco e ainda não tem previsão de estreia no Brasil.
BRASIL- A Vida Invisível (Karim Aïnouz)
Autodeclarado melodrama tropical, A Vida Invisível acompanha as jornadas de Guida (Julia Stockler) e Eurídice (Carol Duarte), duas irmãs que enfrentam o machismo do Rio de Janeiro dos anos 1950.
O filme é inspirado no livro “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Martha Batalha, conta com participação especial de Fernanda Montenegro e foi vencedor da mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes deste ano. Além disso, recebeu recentemente uma indicação a Melhor Filme Internacional no Independent Spirit Awards 2020, o “Oscar” do cinema independente.
O Brasil é, portanto, um dos fortes concorrentes na disputa por uma indicação ao Oscar 2020. Leia nossa crítica de A Vida Invisível aqui.
COLÔMBIA – Monos (Alejandro Landes)
Ambientado nas montanhas da Colômbia, Monos acompanha o cotidiano de um grupo de oito adolescentes armados, apelidados “Los Monos”. Eles têm a missão de vigiar a mulher estadunidense que sequestraram. Durante o dia, são treinados para a guerra. De noite, convivem como uma família disfuncional.
Sem deixar claro se os jovens são guerrilheiros de esquerda ou paramilitares de direita, o diretor, brasileiro filho de mãe colombiana, investiga como é crescer em meio à violência; ou, em outras palavras, como é crescer sob a lei da selva.
O filme já passou pela programação da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas ainda não tem previsão de estreia no circuito comercial brasileiro. Indicado ao Goya de Melhor Filme Ibero-Americano.
COSTA RICA – O Despertar das Formigas (Antonella Sudasassi)
Isabel (Daniela Valenciano) vive com as duas filhas e o marido em uma zona rural da Costa Rica. Ela cumpre com todos os requisitos exigidos pelo padrão de mulher exemplar: é boa esposa e boa mãe. Mas Isabel tem um defeito: ainda não colocou um filho homem no mundo.
Em seu primeiro trabalho como diretora de longas-metragens, Antonella Sudasassi investiga as “micro-opressões” que sofrem as mulheres no ambiente familiar.
O Despertar das Formigas já passou pelo Festival de Gramado 2019 e está indicado ao Goya de Melhor Filme Ibero-Americano, mas ainda não tem data de estreia nos cinemas brasileiros.
CUBA – O Tradutor (Rodrigo Barriuso y Sebastián Barriuso)
O ano é 1989. Malin (Rodrigo Santoro) é professor de literatura russa na Universidade de Havana e leva uma vida tranquila com a esposa e o filho. Tudo muda, porém, quando ele e outros membros do departamento são designados a trabalhar como tradutores das crianças vítimas do desastre nuclear de Chernobyl, que foram enviadas a Cuba para receber tratamento médico.
O Tradutor já passou pelos cinemas brasileiros e está disponível no Telecine.
CHILE – Aranha (Andrés Wood)
No início dos anos 1970, Inés (Mercedes Morán), seu marido Justo (Felipe Armas) e Gerardo (Marcelo Alonso) formam parte de um violento grupo nacionalista de extrema direita que atua contra o governo de Allende. Vivendo um triângulo amoroso, eles acabam participando dos eventos que mudaram os rumos da história chilena.
Depois de quarenta anos longe de Inês e Justo, Gerardo reaparece, numa situação que ameaça revelar os segredos do passado dos três.
Aranha conta com o brasileiro Caio Blat no elenco e está indicado ao Goya de Melhor Filme Ibero-Americano. Ainda sem previsão de estreia no Brasil.
EQUADOR – La Mala Noche (Gabriela Calvache)
Para sobreviver e cuidar da filha doente, Dana (Nöelle Schönwald) recorre à prostituição. A maior parte do dinheiro que recebe, entretanto, deve ser entregue ao homem que a protege e a explora, um chefe do tráfico de pessoas. Quando uma situação inusitada acontece, Dana encontra a oportunidade que precisava para se livrar de sua difícil realidade e buscar justiça.
La Mala Noche já passou pela programação da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São, mas ainda não tem data para estrear em circuito comercial.
HONDURAS – Café con Sabor a mi Tierra (Carlos Membreño)
Baseado na história de sua própria família, o diretor Carlos Membreño faz uma ode ao trabalho dos cafeicultores hondurenhos. Seu filme gira em torno de uma família de produtores de café que perde toda a colheita por conta de uma praga e da baixa dos preços do produto. Para sobreviver, a migração torna-se uma opção para eles.
Sem previsão de estreia no Brasil.
MÉXICO – A Camareira (Lila Avilés)
Eve (Gabriela Cartol) é uma jovem mãe solo de ascendência indígena que enfrenta longas jornadas de trabalho para dar algum conforto ao filho. Nos bastidores de um hotel de luxo da Cidade do México, ela realiza atividades árduas e invisíveis. Solitária e retraída, Eve transita pelos corredores do hotel, sempre atravessando situações que a diretora desenvolve para tecer comentários sobre maternidade e trabalho feminino.
A Camareira já estreou no Brasil e você pode ler nossa crítica aqui.
PANAMÁ- Todos Cambiamos (Arturo Montenegro)
Tratando de transexualidade e questionando o conceito de família tradicional, Todos Cambiamos acompanha uma família que parece “perfeita”, mas que, por medo de preconceitos, mantém segredos.
O filme sofreu rechaço de grupos conservadores no Panamá, e foi chamado por eles de “propaganda transgênero”.
Ainda não há previsão de estreia no Brasil.
PERU – Retablo (Alvaro Delgado-Aparicio)
Retablo marca a estreia de Álvaro Delgado-Aparício na direção de longas-metragens e propõe questionamentos bastante contemporâneos sobre tradição, conservadorismo e masculinidade.
Na trama, Segundo (Junior Bejar) é um menino de 14 anos que valoriza muito o trabalho de artesão de seu pai Noé (Amiel Cayo) e pretende, inclusive, seguir a tradição familiar na confecção de retábulos. Mas quando um segredo de Noé é revelado, a admiração de Segundo fica abalada.
O filme já estreou no Brasil. Confira nossa crítica aqui.
REPÚBLICA DOMINICANA – El Proyeccionista (José María Cabral)
Eliseo Layo (Félix Germán) é um homem solitário que trabalha como projecionista num pequeno cinema. Obcecado, todos os dias ele observa a mesma mulher gravada em imagens de um dos rolos de filmes. Depois de um acidente que destrói o rolo, Eliseo decide aventurar-se pelos rincões da República Dominicana para encontrar pessoalmente a tal mulher.
Sem previsão de estreia no Brasil.
URUGUAI – Así Habló el Cambista (Federico Veiroj)
Humberto Brause (Daniel Hendler) é um cambista. Durantes os anos 1970, sob uma ditadura militar, a economia uruguaia torna-se atrativa para os oportunistas do mercado financeiro mundial; aqueles que querem fazer dinheiro desaparecer. Isso torna Humberto cada vez mais ambicioso, até o ponto de ele arriscar lavar a maior quantidade de dinheiro que já viu na vida.
Sem previsão de estreia no Brasil.
VENEZUELA – Eu, Impossível (Patricia Ortega)
Ariel (Lucía Bedoya) é uma jovem costureira religiosa. Quando sua primeira relação sexual com um garoto se transforma em uma experiência desconfortável, ela procura um médico. No consultório, recebe um diagnóstico inesperado: nasceu intersexual. Ainda bebê, Ariel passou por diversas cirurgias e foi criada pela família como menina.
O filme integrou a programação do 14º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, mas ainda não tem data de estreia no Brasil.
*Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Paraguai e Porto Rico não enviaram representantes à competição. Os cinco finalistas do Oscar 2020 de Melhor Filme Internacional serão revelados no dia 13 de janeiro.
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