Lançado no Brasil em 2004 e considerado um clássico do cinema uruguaio, Whisky agora está disponível no catálogo da Netflix. Na trama, dirigida por Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, Jacobo (Andrés Pazos) é um homem de 60 anos solitário, introspectivo e metódico – principalmente por ter passado muito tempo dedicando-se a cuidar de uma mãe doente. Dono de uma pequena fábrica de meias, ele preenche os dias com a rotina de trabalho.
A inércia do cotidiano do personagem é interrompida, porém, quando seu irmão Herman (Jorge Bolani) avisa que está chegando a Montevidéu para uma cerimônia judaica de colocação da lápide do túmulo da mãe. Há 20 anos sem pisar em seu país de origem, Herman construiu família no Brasil, abriu sua própria fábrica de meias e não compareceu ao velório da progenitora.
Então, crente de que o irmão vive muito melhor que ele e disposto a não deixar transparecer sua solidão e o conservadorismo com que conduz os negócios, Jacobo decide pedir a Marta (Mirella Pascual), funcionária e braço direito na fábrica, que finja ser sua esposa durante a estadia de Herman.
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LETARGIA E SOLIDÃO
Embora Herman demonstre ter mais desenvoltura com interações sociais, os dois homens são bastante parecidos. Por isso, o reencontro revela haver certa rivalidade infantil entre eles. Resistente em abandonar o isolamento autoimposto, os próprios sentimentos de frustração e os ressentimentos que nutriu pelo irmão, Jacobo sente um profundo desconforto ao perceber qualquer mínima ameaça à sua zona de conforto e letargia.
Para dar o tom singular da narrativa, Whisky insiste em enquadramentos tão estáticos quanto a mediocridade da vida do protagonista; bem como na repetição de sua rotina. Assim, desenvolve-se uma atmosfera propensa a tornar quase palpável o marasmo esmagador que envolve Jacobo. Completamente sisudo e desgostoso, o personagem oferece até alguns singelos momentos embaraçosos como alívio cômico para o espectador.
No resultado final, o tragicômico da vida estabelece o intimismo do longa uruguaio. E sem optar por respostas fáceis sobre rumos e escolhas, o filme prefere adotar os silêncios como forma de expressão; retratando, através do não dito e dos impulsos de permanecer ou partir, as performances de convívio que estamos todos sujeitos a interpretar em algum momento.
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Ficha Técnica:
Direção: Juan Pablo Rebella, Pablo Stoll
Duração: 1h38
País: Uruguai
Ano: 2003
Elenco: Andrés Pazos, Mirella Pascual, Jorge Bolani
Gênero: Drama
Distribuição: Disponível na Netflix
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