As peripécias da família De la Mora chegaram ao fim. Depois de uma segunda temporada de reajustes por conta da inesperada saída de Verónica Castro do elenco e um episódio extra divertidíssimo sobre o funeral da matriarca Virginia, A Casa das Flores retorna para seu encerramento.
Com ares retrô e marcantes novos personagens – destaque para Pato (Christian Chávez) -, a terceira e última temporada da exitosa série mexicana original Netflix estreou no último dia 23. Dessa vez, o presente e o passado dos De la Mora são postos em tela. Deste modo, as peças sobre as origens da família e o destino de seus membros começam a se encaixar simultaneamente. Além disso, nos são dadas respostas muito bem-vindas sobre perguntas que sequer imaginávamos fazer.
Sem explorar misérias humanas com tacanhice, mesmo que sempre fazendo humor ácido a respeito de assuntos delicados, a produção termina em excelentes condições. Ela entrega desfechos coerentes, faz jus à sua trajetória, evita enrolações e mantém a autenticidade que a fez tão popular. E tudo isso com direito a muitas performances drag, podres de família ainda mais escandalosos, musicais e bordões eternizados e até uma alfinetada no presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Finaliza-se assim a avalanche de confusões de família que se iniciou com a morte de Roberta (Claudette Maillé) no episódio de estreia e deixa-se um recado: é possível apropriar-se do melodrama e do humor para criar com espontaneidade, inteligência e frescor. O melodrama é brega, sim; mas é também um universo de possibilidades.
ESPECIAL DE TV
Como parte da divulgação de sua última temporada, A Casa das Flores teve um “Especial de TV” de 40 minutos lançado no canal de Youtube da Netflix América Latina.
No programa, o criador da série, Manolo Caro, apresenta erros de gravação, intermedeia uma lavação de roupa suja entre os personagens, revela os resultados de enquetes feitas nas redes sociais sobre os melhores momentos da produção e agradece os espectadores. Há ainda simulações de intervalos comerciais que debocham de propagandas de “cura gay” e da compra desenfreada de papel higiênico durante a pandemia da Covid-19.
Honrando e ressignificando a tradicional linguagem melodramática e midiática das telenovelas até mesmo nos detalhes, portanto, a série tornou-se um marco cultural importante do entretenimento mexicano. Da mesma forma, a mocinha às avessas Paulina de la Mora (Cecilia Suárez), com sua fala afetada e “despacita”, foi alçada com pompa e glória ao panteão das grandes personagens mulheres da dramaturgia de seu país.
UM MARCO PARA O MELODRAMA
Manolo Caro reinventou a novela mexicana, homenageou as convenções das fórmulas e as aproximou de nossos tempos. Debochou da hipocrisia moral dos conservadorismos comportamentais das elites brancas latino-americanas, brincou o tempo todo com caricaturas críticas aparentemente esdrúxulas, tratou de identidade de gênero e orientação sexual, criou personagens memoráveis – tão contraditórios quanto extraordinários – e trabalhou bem seu recorte de classe.
Proporcionando ao espectador um final digno de novela millennial, então, Caro também demonstra como é importante saber a hora de parar. Existe, agora, um antes e um depois de A Casa das Flores na história das telenovelas. Única, “polêmica” e com forte apelo popular, a produção conseguiu questionar comportamentos no entretenimento e na sociedade e inaugurar uma nova era para o dramalhão.
Por fim, resta dizer que foi realmente satisfatório ver um criador trabalhar de maneira tão autoral, provocadora e bem-humorada. Foi um prazer passar três anos com os De la Mora, a família mais tresloucada da Netflix.
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A Casa das Flores reinventa o dramalhão mexicano na Netflix
Crítica: A Casa das Flores (2ª temporada)
Ficha técnica – 3ª temporada
Criação: Manolo Caro
País: México
Ano: 2020
Elenco: Cecilia Suárez, Aislinn Derbez, Dario Yazbek Bernal, Paco León, Arturo Ríos, Juan Medina, Mariana Treviño, Eduardo Rosas, Christian Chávez, Isabel Burr, Ximena Zariñana, Javier Jattin, Tiago Correa
Gênero: Comédia, Drama
Distribuição: Netflix
Adorei a série, e preciso dar os parabéns a essa produção no que se refere a caracterização dos personagens: quando mais novos, são muuuuito parecidos com os atuais, são 100% convincentes. Curti demais este excelente trabalho. Que pena que foram apenas 3 temporadas!