Estreia dos cinemas da última quinta (01), o mais recente longa-metragem do polêmico diretor dinamarquês, Lars von Trier, é violento e repulsivo – tal como o resto de sua filmografia. A Casa Que Jack Construiu é, no entanto, apenas um filme de psicopata “comum”. E, lembremos que, nas obras de von Trier, a normalidade é sinônimo de fracasso.
Não entenda mal; é claro que a coprodução entre Dinamarca, Suécia, França e Alemanha contém cenas de mutilação, sadismo e todas as outras bizarrices violentas “a la Trier”. Mas, por seu tema policial, um tanto quanto batido, diga-se de passagem – que retrata os crimes de um serial killer norte-americano entre as décadas de 1970 e 1980 –, o longa perde força no quesito originalidade.
Quantos filmes sobre psicopatas você já viu ou ouviu falar? Talvez, e no mínimo, muitos, certo? Assim, já é esperado que todo aquele sangue e maldade apareçam durante boa parte da produção, independentemente de quem compôs a obra. Para um filme de Lars von Trier, a expectativa geral dizia respeito à uma abordagem diferente do comum; mas, não é isso o que acontece.
A Casa Que Jack Construiu não tem muita história, nem nada de inovador. Excluindo seu último capítulo e seu epílogo – cujas ambientações destoam propositalmente do restante da obra –, o filme não passa de uma sequência de esquetes chocantes, e tediosamente apelativas, sobre os crimes de Jack (Matt Dillon), o sociopata com TOC. Sim, como se não bastasse a complexidade de sua doença, popularmente chamada de “psicopatia”, Jack também apresenta transtorno obsessivo-compulsivo (o famigerado TOC). E, não, isso sequer é explorado pela produção.
A atuação de Dillon é, de fato, competente. Pelo grau de dificuldade do personagem, é admirável o que o ator consegue fazer, e com um roteiro tão limitado. Ou melhor, para que uma figura como a de Jack convença, ou traga algo de novo ao público, sua construção psicológica é bastante necessária. Mesmo que o enredo do filme não contribua para isso, Dillon trabalha intensamente a expressividade de seu personagem.
Além do protagonista, nomes como Uma Thurman, Riley Keough e Bruno Ganz integram o elenco do longa-metragem. Mas, diferentemente de Dillon, nenhuma outra atuação ganha espaço o suficiente na produção para marcar o público.
Em contrapartida à sua obra anterior, Ninfomaníaca (2013), e à mais antiga Melancolia (2011), Lars von Trier entrega, em a A Casa Que Jack Construiu, um projeto frustrado e pouco curioso. Incomodamente literal em certos momentos, o filme poderia ter sido muito mais do que é – tanto no quesito autoral quanto pelo tema, batido mas potencialmente interessante. Infelizmente, tanto potencial não vinga. E, mesmo com um final ousado, o longa-metragem termina do mesmo modo com que começa: passando-nos a sensação de insuficiência narrativa.
Assim, os pontos positivos da produção, presentes principalmente na construção de seu suspense – gênero bastante familiar a von Trier –, são ofuscados pela falta de propósito da história. Qual seria o argumento do filme? Há, de fato, algum? Sendo impossível de responder a essas perguntas, o que nos resta é o esvaziamento de sentido e um monte de esquetes ultraviolentas. Mais do mesmo para von Trier; e mais do mesmo ao público.
Ficha técnica
Direção: Lars von Trier
Duração: 2h35
País: Dinamarca, Suécia, França e Alemanha
Ano: 2018
Elenco: Matt Dillon, Uma Thurman, Bruno Ganz
Gênero: Drama, Suspense
Distribuição: California Filmes
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