Produzido por Spike Lee (Infiltrado na Klan) e dirigido e roteirizado por Stefon Bristol, A Gente se Vê Ontem, filme adolescente original Netflix, estreou no último dia 17 no catálogo da plataforma. No centro da trama estão os amigos Claudette ‘CJ’ Walker (Eden Duncan-Smith) e Sebastian J. Thomas (Dante Crichlow), dois jovens extremamente inteligentes do ensino médio, que enxergam a ciência como porta de entrada para boas universidades e futuros promissores.
A dupla está na fase de testes de um experimento chamado mochila de deslocamento temporal – objeto que, na teoria, possibilitaria viagens no tempo- , quando o irmão mais velho de CJ, Calvin (Brian Bradley), é confundido com um assaltante e depois assassinado à queima roupa por policiais. Seu único crime: ser um homem jovem negro.
Incapaz de lidar com o luto e a injustiça social, CJ decide que ela e Sebastian precisam usar a mochila de deslocamento temporal para voltar no tempo e salvar Calvin. O experimento funciona, mas lidar com o espaço-tempo não é tão simples quanto parece. Por causa do tempo limitado de viagem, os dois adolescentes fracassam na primeira tentativa e são obrigados a viajar mais vezes, sempre tentando novas estratégias para concluir a tarefa diante dos imprevistos das diferentes linhas temporais. O problema é que o grau de dificuldade da missão aumenta à medida em que eles interferem mais no passado.
A Gente se Vê Ontem poderia ser ‘só’ mais um filme genérico sobre viagens no tempo protagonizado por jovens, mas ele constrói suas doses de personalidade e importância conforme revira as brutalidades da violência policial e do racismo institucionalizado e emprega desdobramentos imprevisíveis e corajosos para cada nova rodada de viagem no tempo. Assim, comentário social e ficção científica caminham sempre juntos, se retroalimentam e são indissociáveis.
Aventura e drama também são elementos trabalhados com equilíbrio na trama. O roteiro não apela para a tragédia, mas também não se omite de encarar os pesares do tema proposto. Geralmente é impossível ir contra a morte, mas algumas mortes não poderiam ser evitadas se alvos não fossem postos sempre sobre determinados corpos e contextos sociais não fossem combinados para fazer sempre o mesmo tipo de vítimas, uma e outra vez, repetidamente? O racismo por si só é trágico; mesmo num filme de aventura.
O final de A Gente se Vê Ontem é controverso e com certeza deixará muita gente frustrada pela quebra do clímax. Mas é preciso entender a escolha de Bristol: optar por não estabelecer finais felizes ou tristes funciona como uma fuga do óbvio. Deixar os personagens concluírem ou não a tarefa provocaria dois tipos de finais absolutamente previsíveis, e o diretor não quis assim.
Por isso, tal é como é direcionado, o final escolhido opta por uma terceira via. Ele usa a viagem no tempo como plataforma para deixar a mensagem de que certos estragos, frutos de estruturas sociais opressivas e desumanas, não podem ser facilmente solucionados, mas que, de qualquer forma, não se dar por vencido é sempre uma questão de sobrevivência.
Trailer:
Ficha técnica
Direção: Stefon Bristol
Duração: 1h26
País: Eua
Ano: 2019
Elenco: : Eden Duncan-Smith, Danté Crichlow, Brian Bradley
Gênero: Aventura, Drama, Ficção Científica
Distribuição: Netflix
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