A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro, o idealizador do jornal Pasquim

Tarso de Castro morreu aos 49 anos. Por unanimidade, ninguém é capaz de afirmar que sua vida tenha sido ordinária. Mas, por inúmeras divergências, não há consenso sobre sua personalidade. Uma coisa é certa: o jornalista marcou a história da imprensa nacional em plena ditadura civil-militar, quando idealizou o jornal Pasquim e o caderno Folhetim da Folha de S.Paulo.

Em A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro, os diretores Leo Garcia e Zeca Brito buscam, por meio de entrevistas informais e um rico material de arquivo, redescobrir a trajetória de um dos grandes jornalistas dos anos 60, 70 e 80.

Boêmio, provocador, politicamente incorreto e apaixonado pela profissão, Tarso de Castro foi, aos poucos, deixado de lado pela história recente do país. De fato, quando fala-se em Pasquim, fenômeno de resistência em meio a ditadura, os nomes mais lembrados são Jaguar ou Millôr Fernandes. Pouco ouve-se falar do homem que viabilizou o jornal que ria na cara do autoritarismo, que driblou a censura e que chegou a superar as vendas da revista Veja.

No filme, diversas pessoas que conviveram com Tarso são convidadas a compartilharem suas memórias, entre elas: seu filho, João Vicente de Castro, Caetano Veloso, o cartunista Jaguar e José Trajano. Assim – e junto das imagens de arquivo – a vida do jornalista vai se tornando um livro quase aberto. Quase porque, pelos relatos, Tarso de Castro era praticamente uma lenda, uma figura singular, revolucionária e pouco dada a formalidades. Muitas histórias circulam sobre ele, mas nem tantas podem ser provadas.

O longa aborda diversas facetas de seu personagem principal. O jornalista, sedutor, inconsequente, inspirador, pai. E isso só é possível porque, apesar dos diversos relatos, o documentário não é engessado. Característica que, com certeza, iria contra tudo que Tarso acreditava. Tanto a dinâmica descontraída do compartilhamento de memórias, quanto a edição do material de arquivo e a montagem são fundamentais para dar o tom irreverente do registro, que tanto combina com a personalidade de seu “protagonista”.

Tarso de Castro / Divulgação

Na medida em que remontam a figura de Tarso de Castro, surgem as questões: que tipo de pessoa era Tarso? Era machista? Inconsequente? Alguns falam a seu favor, outros contra. Neste caso, o importante é que falem. Diante de um documentário que homenageia um homem tão controverso, esse tipo de situação inusitada torna-se a alma da crônica.

Tarso morreu jovem, devido a uma cirrose hepática conquistada pelo alcoolismo. Dizem que viveu tudo que queria, que revolucionou o jornalismo e que nunca compactuou com nenhum tipo de mediocridade. Conviveu com figuras importantes de sua época – de Chico Buarque a Glauber Rocha e Samuel Wainer. Jornalista romântico, se comprometeu com o ofício, ainda que não houvesse retorno financeiro.

Redescobrir Tarso de Castro é ter acesso a parte fundamental das engrenagens da imprensa brasileira, da dinâmica entre mídia tradicional e mídia alternativa, e, principalmente, das disputas narrativas que se estendem com força desde a ditadura e que se transformaram ao longo dos anos por conta dos avanços tecnológicos.

“O Tarso foi um personagem fascinante e muito complexo. E nunca foi tão urgente falar e discutir sobre o jornalismo como hoje.  Muita gente se esforçou para tentar apagar o Tarso da história (e isso é abordado no nosso filme), então espero que ele seja redescoberto, principalmente por parte das novas gerações. Tentamos fazer jus ao nosso personagem, realizando um documentário que aborda temas sérios, mas de uma maneira bem despojada engraçada – no melhor estilo Tarso de Castro”, afirma o diretor e roteirista Leo Garcia, no material de divulgação do filme.

Longe de ser uma obra que conversa exclusivamente com jornalistas, A Vida Extra- Ordinária de Tarso de Castro  dialoga com  qualquer pessoa que esteja disposta a abrir mão de dualismos simplistas para conhecer um pouco do percurso da disputa de forças ideológicas e midiáticas do país.

Encerrado ao som de Cálice, de Chico Buarque,  o filme sobre o homem que não se calava não sobe os créditos sem antes deixar no ar um questionamento importante: como o Brasil de hoje lidaria com a personalidade de Tarso de Castro?

 

Trailer de A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro:

(Fonte: BoulevardFilms / Youtube) 

 

Ficha técnica

Ano: 2018

Duração: 1h30

Direção: Leo Garcia, Zeca Brito

Elenco: João Vicente de Castro, Jaguar, Caetano Veloso, José Trajano

Gênero: Documentário, Biografia

Distribuição: Boulevard Filmes

País: Brasil

 

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