Alto Mar, da Netflix, é a série novelão espanhol da vez

A Espanha acaba de lançar mais uma produção original Netflix. Dessa vez trata-se da série Alto Mar, ambientada nos anos 40, no período pós-guerra. O navio Bárbara de Braganza zarpa de um porto espanhol rumo ao Rio de Janeiro. Nele estão passageiros de todas as classes, que viajam da Europa para a América em busca de um futuro melhor.

Já nos primeiros segundos do programa, o capitão do luxuoso transatlântico (Eduardo Blanco) nos informa que alguns assassinatos aconteceram durante a viagem. Em seguida, voltamos ao momento de embarque, quando a obra começa a nos apresentar os passageiros e a explicar como uma jornada tão promissora transformara-se na sequência de tragédias que provocou a busca por um assassino.

‘Alto Mar’/ Divulgação

Alto Mar tem tudo aquilo que um clássico novelão pode oferecer: intrigas, romances, segredos de família, mistérios, perseguições, crimes, reviravoltas e até tempestades. No centro da trama estão as irmãs Villanueva, Eva (Ivana Baquero; a Ofélia, de O Labirinto do Fauno) e Carolina (Alejandra Onieva). As duas perderam o pai há pouco tempo, e Carolina está noiva de Fernando (Eloy Azorín), dono do Bárbara de Braganza.

O casal planeja fazer da primeira viagem do navio um sucesso, casar-se em alto mar e começar uma vida nova no Brasil. É por isso que Carolina leva com ela a irmã Eva, o tio Pedro (José Sacristán) e as empregadas. Mas Carol e Eva, duas jovens destemidas e inseparáveis, logo descobrirão, com a ajuda do primeiro-oficial Nicolás Vázquez (Jon Kortajarena),  que uma porção de segredos familiares mudarão os ares festivos e otimistas da viagem de suas vidas.

Alto Mar, criada por Ramón Campos e Gema R. Neira, é realizada pela mesma produtora de As Telefonistas. Assim, não é de se estranhar que o lançamento tenha aproveitado a fórmula de sucesso de sua conterrânea para apostar também tanto em tons novelescos, que cativam a audiência, quanto em elementos que já se tornaram marcantes no mundo das séries espanholas lançadas pela Netflix: protagonistas mulheres fortes, denúncias sobre violência de gênero e até retratos superficiais de desigualdades sociais.

Eva (Ivana Baquero; a Ofélia, de O Labirinto do Fauno) e Carolina (Alejandra Onieva) / Divulgação

A série, distribuída em oito episódios de aproximadamente 40 minutos cada, não nega suas raízes melodramáticas. Os mocinhos, vilões e conflitos motivados por poder, dinheiro, relacionamentos amorosos e familiares estão todos ali. São elementos repetidos do formato, mas reorganizados e acrescidos. Por isso, pode-se dizer que Alto Mar é uma produção honesta, que assume suas intenções de ser novelão e acaba exitosa.

Mas se por um lado as partes românticas e policiais não têm muito de inovador a apresentar – mesmo sendo muito eficientes em chamar atenção com uma aparente infinita cadeia de segredos -,  por outro alguns personagens fogem de seus prováveis estereótipos e surpreendem. É o caso, por exemplo, de Carolina. A moça tinha tudo para ser representada como uma tola que só pensa em casar-se com um noivo que lhe garanta futuro, fazendo oposição direta à engenhosidade e independência da irmã, mas não é isso que acontece. As duas acabam formando uma boa dupla, e cada uma contribui com o melhor de si.

Entre os homens há estereótipos de machões misóginos e de mocinhos completamente carismáticos, mas também há variações de masculinidades que são pontos importantes de atenção. Nesse sentido,  Fernando aparece como figura interessante.

Fernando (Eloy Azorín) com a cunhada Eva e a noiva Carolina / Divulgação

Além dos personagens, o que mais se sobressai na produção é a quantidade de reviravoltas. São elas que dão agilidade à narrativa – e incentivam maratonas-, mas são tantas e tão frequentes que chegam a perder força. Não há tempo hábil para que o espectador absorva as informações a ponto de ser de fato impactado por elas.

Posta numa balança, Alto Mar mostra equilibrar seus pratos positivos e negativos com alguma segurança. A experiência da produtora em trabalhos anteriores com a Netflix certamente é parte fundamental da equação. Daí a eficiência em criar histórias simples ou batidas e incrementá-las com segmentos anteriormente bem sucedidos, peças que garantem bons resultados. Essa é a essência das fórmulas das boas novelas, afinal: base simples, execução segura.

Alto Mar, no fundo, não passa de resultado das análises de preferências do público sobre séries espanholas. Não é a primeira e nem será a última vez que veremos uma produção do país com “estética Netflix genérica” tratando de conflitos de relacionamentos, conflitos de classe, amores à primeira vista e mulheres destemidas lutando por espaço. Em todo caso, a série é um resultado divertido e envolvente, que marca mais um ponto para a Espanha e seguramente tem potencial para virar nova sensação de audiência. A segunda temporada já está garantida.

Trailer:

(Fonte: Netflix Brasil/ YouTube)

Ficha técnica

Criação: Ramón Campos e Gema R. Neira

País: Espanha

Ano: 2019

Elenco: Alejandra Onieva, Ivana Baquero, Jon Kortajarena, Eloy Azorín, José Sacristán

Gênero: Drama, Mistério

Distribuição: Netflix

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