[Estreia] ‘Amante por um Dia’ é mais do mesmo na filmografia de Philippe Garrel

Mantendo a tradição de escalar os filhos para atuar em seus filmes, o cineasta francês Philippe Garrel estreia agora o longa-metragem Amante Por Um Dia, tendo como uma das protagonistas Esther Garrel (Me Chame pelo Seu Nome). A atriz dá vida à Jeanne, uma jovem que, ao ser deixada pelo namorado com quem vivia e por quem é profundamente apaixonada, volta para a casa de Gilles (Eric Caravaca), seu pai, em busca de colo e abrigo. Logo, porém, a jovem descobre que ele está se relacionando com Ariane (Louise Chevillotte), uma garota que tem a sua idade e é aluna dele.

Não chegamos a saber de detalhes do histórico familiar de Jeanne ou sobre como era a relação entre ela e o pai antes dela chegar aos prantos em sua casa, contando do término do namoro. Aqui, o diretor – e também roteirista – optou por focar em como se dá a dinâmica de convivência entre Jeanne, Gillies e Ariane. Esse tipo de recorte pontual, que busca investigar a melancolia, insegurança e o lado obscuro e passional das relações humanas, é constante no trabalho de Garrel.

Ariane (Louise Chevillotte) e Jeanne (Esther Garrel) / Divulgação

Além disso, a técnica também muito se assemelha ao seu trabalho anterior, O Ciúme (2013). Os dois filmes foram gravados em preto e branco e possuem cortes secos, que colaboram para “objetivar” a narrativa, impondo um ritmo um tanto quanto autoral às obras do francês. No entanto, se no longa de 2013 Garrel tende a fazer um retrato mais, digamos, sutil e contido dos conflitos, em Amante Por Um Dia ele se entrega a uma abordagem repleta de clichês no mínimo curiosos para um filme de 2018.

Vários dos primeiros minutos do filme são tomados por Jeanne desolada, chorando sem parar e suspirando. Aliás, a personagem, claramente desequilibrada, histérica e incapaz de lidar com um término, passa tempo considerável choramingando e se lamentando. Em contrapartida, Ariane é delineada como uma mulher sedutora, dona de um “espírito livre, jovem e inconstante”: o estereótipo de fêmea fatal.

A amizade que surge entre as duas protagonistas até apresenta momentos relevantes, mas nada, absolutamente nada, anula o desconforto que é presenciar dois estereótipos de mulher tão apelativamente retratados. Enquanto Gilles parece ser o personagem com mais camadas psicológicas (ainda que não muitas), as atuações de Esther Garrel e Louise Chevillotte são o ponto alto do filme. Mesmo interpretando personagens estereotipadas ao limite, fica nítido o esforço das duas atrizes.

É visível que o diretor quis, mais uma vez, usar seu trabalho como lente de aumento frente a um estudo atemporal a respeito de relações humanas – baseado em personagens cujos únicos problemas são seus relacionamentos. Neste caso, são abordados os relacionamentos entre homem e mulher e entre pai e filha. Porém, Amante Por Um Dia não traz grandes novidades em relação ao que já foi retratado no cinema pelo próprio Garrel. Não se trata de um filme péssimo, mas também não é indispensável.

Ficha técnica

Direção: Philippe Garrel

Duração: 1h16

País: França

Ano: 2018

Elenco: Eric Caravaca, Esther Garrel, Louise Chevillotte

Gênero: Drama

Distribuição: Fênix Filmes

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