Crítica: ‘Mudo’, um filme original Netflix

Na última sexta (23), estreou na Netflix mais um filme original: Mudo. O longa-metragem conta a história de um homem que perdeu a voz em um acidente durante a infância e, já adulto, busca encontrar sua namorada, que desapareceu misteriosamente.

Não bastasse a sinopse repetitiva em uma produção norte-americana (paradeiro de um ente querido do personagem principal), a ambientação cyberpunk mais uma vez dá as caras em um original Netflix e, ainda mais – ou ainda pior –, não apresenta qualquer relevância para a história. Alexander Skarsgård cumpre bem seu papel como o protagonista Leo, assim como Paul Rudd entrega um trabalho competente como o vilão Cactus; um médico suspeito pelo desaparecimento da namorada de Leo, Naadirah (Seyneb Saleh). Ainda assim, o elenco do filme parece ser seu único ponto positivo.

Naadirah (Seyneb Saleh) / Divulgação

O roteiro de Mudo contém tantas falhas que chega a ser incompreensível que uma empresa do tamanho da Netflix tenha aceitado bancá-lo. O excesso de elementos postos em tela – o acidente que culminou na mudez de Leo, o desaparecimento de Naadirah, o negócio de prostituição, o futuro distópico, a fusão cultural em Berlim, a patologia do parceiro de Cactus (Duck, interpretado por Justin Theroux)… – atrapalha completamente a fluidez da narração. Não há razão alguma para um enredo que fala sobre relações afetivas e desaparecimento, sem que contenha qualquer interferência tecnológica expressiva para seu andamento, ter como cenário a capital alemã de um futuro cyberpunk.

Assistir à Mudo é como assistir a um episódio extra e piorado de Altered Carbon – série que estreou no começo deste mês –, ou seja, à mais uma produção inspirada no universo de Blade Runner, ou a algo semelhante à Onde Está Segunda? – outra recente produção Netflix que aborda o sumiço de uma pessoa e é ambientada em uma distopia futurista. A plataforma de streaming tem investido em conteúdo monotemático nos últimos tempos. Talvez, isso seja um reflexo da demanda calculada através dos algoritmos do sistema, mas, o fato é que a qualidade, especialmente, dos longas Netflix tem apresentado expressiva queda.

Cactus (Paul Rudd) / Divulgação

Não há nada de especial na estética de Mudo. A direção de Duncan Jones não aparenta consistência e o péssimo roteiro defasa qualquer possibilidade de sucesso do filme. Nos primeiros vinte minutos somos levados a questionar a relevância do ambiente no desenrolar dos eventos, ou como a condição de Leo o impediria de encontrar Naadirah, mas, no final, nada disso importa. A impressão que fica é a de que os roteiristas (dos quais o próprio Jones faz parte) “jogaram” características geralmente interessantes para enriquecer uma história batida. No entanto, o tiro saiu pela culatra quando tal tentativa culminou em falta de sentido e de graça.

Mudo marca mais um episódio de insucesso das produções Netflix – assim como os recentes Bright (estrelado por Will Smith) e O Paradoxo Cloverfield (a terceira parte de uma série de filmes que arruinou a possibilidade de uma trilogia inteiramente cultuada). O que nos resta é aguardar que o streaming reconheça e aprenda com os próprios erros.

 

Ficha técnica

Ano: 2018

Duração: 2h06

Direção: Duncan Jones

Elenco: Alexander Skarsgård, Paul Rudd, Justin Theroux

Gênero: Suspense, Suspense sobre crimes, Filmes sobre máfia

Distribuidora: Netflix

País: EUA

 

COMENTÁRIOS

2 comentários em “Crítica: ‘Mudo’, um filme original Netflix”

  1. Acho que um filme com começo (a paixão revelada), meio (o sequestro) e fim (o corpo encontrado) bem definidos resumem uma obra de arte de qualidade. Se o ambiente futurista não acrescenta em termos de roteiro, também não atrapalha o enredo (deixando o filme com um ar de sofisticação). É uma história de “detetive” como várias. Ninguém falou mal de The Fall, em que o auge da série é o serial killer ligar pra polícia e confessar os crimes, trazendo um ep. inteiro com o clichê da amnésia pra história não acabar alí. Evidentemente estamos fazendo uma crítica com dois pesos e duas medidas e esperando que o Duncan Jones seja um gênio por ser filho do David Bowie.

  2. Péssimo filme. Acredito que esteja entre os três piores que já assisti. Um filme sem lógica, sem sequência, e sem um propósito.
    Se eu tivesse lido a sua crítica antes, com certeza nem teria assistido.

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