Crítica: O Duplo, curta nacional de terror dirigido por Juliana Rojas

“Doppelgänger é um monstro ou ser fantástico que tem o dom de se tornar idêntico a alguém que ele passa a acompanhar. Considerado como presságio de má sorte, há quem diga que ele assume o negativo da pessoa, de modo a conduzi-la a fazer coisas cruéis que ela não faria naturalmente.Aqueles que tentam comunicar-se com seu próprio Doppelgänger são tidos como imprudentes e malfadados”.

Essa é a mensagem que ocupa a tela nos primeiros segundos de O Duplo, curta brasileiro de terror dirigido e roteirizado por Juliana Rojas. Na trama, a professora de matemática Silvia (Sabrina Greve) passa a se comportar de maneira estranha depois de ver seu “duplo” pela janela da sala de aula. Com o passar dos dias, Silvia se torna mais fechada e agressiva com alunos, colegas e até com o namorado.

A sinopse por si só já é atraente, mas engane-se quem espera que a diretora conduza sua história de horror como o genérico das narrativas do gênero. Em O Duplo não há explicações sobre quem é a criatura, de onde ela vem ou o que ela quer. Juliana Rojas não se obriga a ser expositiva e ainda assim consegue realizar um curta de terror absolutamente bem sucedido, equilibrado e funcional.

Silvia (Sabrina Greve) e Vanda (Gilda Nomacce), personagens destaque do curta de Juliana Rojas / Divulgação

Toda a narrativa se estrutura a partir de uma atmosfera de suspense constante e envolvente, interrompida apenas duas vezes: a primeira durante a única cena que realmente provoca um susto surpresa e a segunda durante a cena mais violenta do curta.

Aqui, os recursos sonoros, tão comumente usados para assustar o público, são parte da composição dessa atmosfera sufocante de horror, como na cena em que Sílvia, durante sua fala numa reunião pedagógica, puxa o elástico de uma pasta sem parar, aumentando a velocidade do movimento e do barulho, como se estes fossem seus batimentos cardíacos (e os nossos).

O uso moderado desse tipo de elemento é exatamente o que faz com que as cenas onde eles estão presentes sejam tão eficientes. Afinal, levar susto o tempo todo ou presenciar violência com frequência banaliza a interação entre público e obra, tornando-a medíocre. Adjetivo que definitivamente não cabe ao trabalho de Rojas.

Além da elevada qualidade técnica (cinematográfica, tratamento de cor, figurinos, cenários, edição e mixagem de som), o curta ainda conta com elenco majoritariamente feminino.

O Duplo pode não ser um filme de terror de sustos, mas seus ares de suspense sobrenatural são únicos. Ainda que tenha apenas 24 minutos de duração, ele é capaz de guiar o espectador por uma imersão mórbida pelo universo do desconhecido (graças ao excelente roteiro). Algo semelhante ao que acontece em outro curta da diretora, Um Ramo. Nos dois casos, as protagonistas não possuem controle algum sobre o que lhes acontece, e ao público resta apenas aceitar, conjecturar, remoer e apreciar o belo cinema de horror de Juliana Rojas.

Assista a O Duplo:

Curta ‘O Duplo’ (Fonte: Canal Hysteria / Youtube)

 

Ficha técnica

Direção: Juliana Rojas

Ano: 2012

Duração: 24 min

País: Brasil

Elenco: Sabrina Greve, Gilda Nomacce, Majeca Angelucci, Henrique Rabelo,Daniel Ribeiro

Gênero: Terror

Distribuição: Disponível no Youtube/ Canal Hysteria

 

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