Crítica: Mãe Só Tem Duas (Netflix)

Ana (Ludwika Paleta) e Mariana (Paulina Goto) são completamente diferentes. A primeira é uma executiva bem sucedida, conservadora, extremamente sistemática e mãe pela terceira vez. A outra, uma universitária de 23 anos de classe média baixa que vive com a mãe, desempregada, desprendida, bissexual e grávida por acidente. Quatro meses após parirem na mesma maternidade, elas descobrem que suas bebês foram acidentalmente trocadas no berçário. A partir daí, decididas a viver juntas por algumas semanas pelo bem da adaptação das meninas destrocadas, as duas protagonistas de Mãe Só Tem Duas (Madre Sólo Hay Dos), série mexicana original Netflix, passarão pelos altos e baixos da maternidade de maneira no mínimo inusitada. 

Imagem: divulgação

Criada por Carolina Rivera e Fernando Sariñana, a produção transita entre a telenovela e a sitcom para tratar de assuntos como maternagem, família, autoestima, trabalho, sexualidade e relacionamentos. E embora a princípio pareça rocambolesca a premissa da troca de bebês, da fusão de famílias e das estripulias do destino, o roteiro se sai bem em elaborar situações genuínas – cômicas ou emocionantes, mas sempre surpreendentemente plausíveis. 

É a partir da superação de diferenças e do compartilhamento de experiências, então, que o choque das realidades de Ana e Mariana dão forma a um enredo contemporâneo e carismático.

MATERNIDADES

Duas mulheres, duas vivências, duas maternidades obrigadas abruptamente a convergir. Aparentemente opostas, as protagonistas de Mãe Só Tem Duas são narrativamente complementares e sintetizam alguns dos inúmeros dilemas impostos pela maternidade. 

Ana, por exemplo, é controladora e extremamente dedicada ao trabalho. Para garantir sua posição de sucesso e as boas aparências num mundo corporativo selvagem e misógino, ela abre mão de estar com os filhos ou de admitir sua crise conjugal. Mariana, por sua vez, precisa se afastar dos estudos por conta de uma gravidez inesperada. Mãe solo e sem nenhuma estabilidade financeira, ela encara as dificuldades de voltar a se entender como indivíduo, agora com uma criança sob sua responsabilidade.

Descontraída, a trama flui entre drama e bom humor, tocando numa porção de questões relevantes com espontaneidade e delineando o rumo dos conflitos com ritmo bastante agradável – sem abrir mão, claro, de leves (e boas) doses do melodrama que só o México é capaz de oferecer. 

Nesse microcosmo onde não existem mocinhas e vilãs, personagens imperfeitos conquistam a afetividade do espectador. O formato sitcom/novela, novo queridinho dos streamings, se beneficia dos clichês da comédia e do melodrama, embora, aqui, a essência de um universo criativo original fique muito clara. Enriquecendo a experiência, há ainda a trilha sonora, composta em grande parte por canções mexicanas, como “Eres para Mí”, de Julieta Venegas.

Outra grande qualidade da produção é o elenco. Além de Paleta e Goto, que entregam ótimas performances em seus papéis de mulheres que têm muito para ensinar, muito para aprender e ainda mais para confrontar, todo o elenco coadjuvante impressiona. 

Despretensiosa e cativante, Mãe Só Tem Duas já se destaca entre os lançamentos Netflix de 2021. 

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Trailer:
(Fonte: Netflix Latinoamérica/ YouTube)

Ficha técnica 

Criação: Carolina Rivera, Fernando Sariñana

País: México

Ano: 2021

Elenco: Ludwika Paleta, Paulina Goto, Martín Altomaro, Liz Gallardo, Javier Ponce, Oka Giner, Christian Chávez

Gênero: Comédia, Drama

Distribuição: Netflix

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