Orgulho e Paixão, a nova novela das 18h da Rede Globo, estreou na última terça (20) e já matou parte da curiosidade de muitos fãs da escritora britânica Jane Austen. Orgulho e Preconceito, Emma, Razão e Sensibilidade, A Abadia de Northanger, Mansfield Park e Lady Susan foram as seis obras escolhidas para dar corpo ao texto do folhetim.
Escrita por Marcos Bernstein e dirigida por Fred Mayrink, Orgulho e Paixão se passa no início do século XX e tem como núcleo principal a família Benedito (adaptada da original família Bennet, de Orgulho e Preconceito). Os Benedito são Felisberto (interpretado por Tato Gabus Mendes e inspirado no Sr. Bennet), Ofélia (Vera Holtz, a Sra. Bennet), Elisabeta (Nathalia Dill; a protagonista Elizabeth), Jane (Pâmela Tomé), Mariana (Chandelly Braz), Cecília (Anaju Dorigon) e Lídia (Bruna Griphao).
Assim como o casal do romance, o Sr. e a Sra. Benedito são, respectivamente, um bom homem e uma mulher espalhafatosa que sonha em casar as cinco filhas. Elisabeta, a mais velha das irmãs, é uma mulher de personalidade mais forte e ousada que a da protagonista do livro. Na história original, Lizzy (como é chamada por familiares e amigos) é uma mulher do século XIX, muito centrada e que adora ler; e também a segunda filha Bennet (na obra de Austen, a primogênita é Jane). Na novela, a jovem Jane tem personalidade igual à da personagem na qual fora inspirada.
Lídia (“Lydia”, na grafia do livro) é a caçula e, tal como no romance, é uma garota espevitada e inconsequente. Quanto à Mariana e Cecília, ambas as personagens foram escritas por Bernstein como forma de substituir as irmãs Bennet menos importantes, e a fim de abordar mais duas obras da autora britânica. Excluindo Mary e Kitty Bennet, a novela transformou Marianne Dashwood (uma das protagonistas de Razão e Sensibilidade) em Mariana; uma das filhas Benedito. Dessa forma, Catherine Morland (de A Abadia de Northanger) tornou-se Cecília, outra Benedito.
Enquanto isso, Emma Woodhouse, a personagem principal de Emma, é vivida na televisão brasileira por Agatha Moreira (cujo nome original fora adaptado para Ema Cavalcante). Aqui, Ema, com um “m”, não é muito diferente de Emma, com dois “m”; a não ser por sua relação com Elisabeta. Bernstein, em sua novela, uniu em uma bela amizade duas protagonistas de obras distintas; além de outras duas (Mariana e Cecília) como irmãs.
NÚCLEOS FORMADOS POR OBRAS DIFERENTES
Sem contar Jane e Lídia Benedito – que seguem os mesmos destinos de suas equivalentes Bennet no romance –, Elisabeta, Ema, Mariana e Cecília traçam, cada uma, enredos baseados em quatro obras diferentes. Elisabeta conhece Darcy Williamson (vivido por Thiago Lacerda e inspirado no personagem Fitzwilliam Darcy, ou somente Sr. Darcy) e, após muitas desavenças e mal-entendidos, os dois acabam se apaixonando.
Em Orgulho e Preconceito, Elizabeth e seus pensamentos são o ponto de partida que Austen encontrou para construir a história. Por isso, a partir da leitura, é muito mais fácil sentir empatia pela mocinha do que por seu “par romântico e antagonista”, o Sr. Darcy. Inicialmente, ele é mostrado como um homem muito preconceituoso, que julga a todos por suas posições sociais e aparências. Sendo assim, e graças a eventos pontuais que contribuem para a construção de uma imagem equivocada de Darcy, Lizzy acaba por desprezá-lo. Portanto, quando ele se declara apaixonado pela protagonista, ela sofre um verdadeiro “choque”.
Na novela, em contrapartida, Elisa (como Elisabeta é chamada por pessoas íntimas) e Darcy parecem mascarar um sentimento romântico à primeira vista, através de xingamentos aleatórios e discussões bastante tolas – algo que é totalmente sutil no livro. Por mais que Elizabeth e o Sr. Darcy sejam ambos orgulhosos, o toque de poesia e dramaticidade da obra original é essencial para a validação da relação. Já no folhetim da Globo, o texto é baseado principalmente em humor, o que contribui de forma negativa para a composição dos personagens. Afinal, quem ainda aguenta uma novela em que há um casal que briga comicamente e depois se apaixona?
PERSONAGENS NOVOS E ADAPTADOS
Outros personagens que foram adaptados são Camilo Bittencourt (Maurício Destri), o Sr. Bingley de Orgulho e Preconceito; Jorge Nascimento (Murilo Rosa), o George Knightley de Emma; Coronel Brandão (Malvino Salvador), o Coronel Brandon de Razão e Sensibilidade; Rômulo Tibúrcio (Marcos Pitombo), o Henry Tilney de A Abadia de Northanger; Diogo Uirapuru (Bruno Gissoni), uma fusão entre o Sr. Wickham de Orgulho e Preconceito e o Willoughby de Razão e Sensibilidade; Fani Pricelli (Tammy Di Calafiori), uma releitura de Fanny Price de Mansfield Park; e Susana (Alessandra Negrini), interpretação da protagonista de Lady Susan.
Este último – um curto romance, por sinal –, tem como personagem principal uma mulher ambiciosa e inescrupulosa. Para a nova novela das 18h, Marcos Bernstein tirou Susana de sua história original e a colocou em outro contexto. Além das características negativas da protagonista vilanesca, a personagem substitui a função narrativa da irmã do Sr. Bingley em Orgulho e Preconceito (Caroline Bingley), cujo interesse amoroso é o Sr. Darcy.
Além disso, novos personagens foram adicionados à mistura de obras de Jane Austen. Como, por exemplo, a Rainha do Café e mãe de Camilo, Julieta Bittencourt (Gabriela Duarte); ou o idealista irmão de Fani, Ernesto Pricelli (Rodrigo Simas), que se apaixonará por Elisabeta. Será que Ernesto cumprirá a função de Edward Ferrars (de Razão e Sensibilidade) na novela, ao sofrer pelo amor de uma jovem sensata como Elisa?
PROBLEMAS NO TEXTO
Por mais que o enredo de Orgulho e Paixão seja, de fato, interessante, o humor e o texto simplificado pecam ao destoar dos romances originais. Aparentemente, a homenagem à obra de uma das escritoras mais célebres de todos os tempos não é o suficiente. O design de produção, com cenários detalhistas –, e o figurino colorido e uma “pitada” de fantasia –, é mesmo impecável. Mas, como uma boa produção não se faz somente de aparências…
Até o momento, as únicas atuações dignas de um romance de Jane Austen são as de Vera Holtz e Anaju Dorigon. Talvez, isso deva à uma má direção de núcleo. Um exemplo disso foi a cena de Elisa e Darcy fazem cabo de guerra com uma calça, no primeiro capítulo. A cena tenta um tom cômico, mas está claramente mal dirigida e pareceu forçada.
Sem falar que, atores notoriamente talentosos, como Nathalia Dill, Thiago Lacerda e Agatha Moreira, têm realizado interpretações sofríveis. Ema e Elisa parecem exageradas, e Darcy não apresenta nem um décimo da fibra e da pose do personagem original.
O que sustenta Orgulho e Paixão é o bom entrelace entre personagens de histórias diversas. Mas, enquanto o texto der prioridade à galhofa, a novela soará mais como uma fanfic dos livros de Austen. Esperemos pelos próximos capítulos.
Crítica péssima a de vocês, a novela é leve e divertida as atuações de Nathalia, Agatha e Thiago estão excelentes.