Os melhores sci-fi dos últimos 25 anos (pt. 2)

Atenção: Confira aqui a primeira parte desta matéria, publicada em 03/07/19.

Nos últimos 25 anos, muitos filmes em live-action de ficção científica (“science fiction” ou sci-fi, em tradução para o inglês) estrearam no cinema e/ou na televisão. No entanto, poucos deles agradaram o público e a crítica especializada, simultaneamente.

Inclusive, há certa confusão quanto aos títulos que pertencem, de fato, ao gênero cinematográfico; uma vez que alguns longas-metragens, que têm ambientação similar a de demais produções sci-fi, são representantes de outros gêneros de filme. Um exemplo clássico disso são os longas da série Star Wars. Mesmo que estes relacionem-se a universos futuristas e tecnológicos, seus enredos são tão fantasiosos que eles acabam por distanciarem-se de hipóteses científicas reais.

Outros exemplos de títulos com ambientação similar, e das últimas décadas, são Mad Max: Estrada da Fúria (2015), Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) e Gravidade (2013). Todos estes apresentam algum cenário ou artifício de roteiro que associe-os ao sci-fi. Ainda assim, seus gêneros principais são, respectivamente, Ação, Romance e Drama. Então, tais filmes não entrarão na lista deste texto.*

Veja, abaixo, outros cinco live-actions de uma série (em duas partes) sobre os melhores sci-fi dos últimos 25 anos:

Perdido em Marte (2015)

De Ridley Scott, Perdido em Marte parte do princípio de que, com recursos o suficiente, é possível colonizar um ambiente completamente deserto e quase desconhecido como o planeta Marte. É claro que, dentro dos limites da ficção, o protagonista vivido por Matt Damon consegue, sozinho, chegar à fórmula da água e passar anos alimentando-se somente de batatas.

No enredo, o astronauta Mark Watney (Damon) encontra-se isolado em Marte, após um acidente espacial impedi-lo de retornar de uma expedição. Assim, o homem tem duas opções: estabelecer condições mínimas de sobrevivência, até seus colegas resgatarem-no, ou morrer. O problema é que, com a considerável distância entre o planeta vermelho e a Terra, localizar Mark é uma tarefa difícil até mesmo para a agência espacial da NASA. Logo, todos assumem a morte precoce do astronauta.

Imagem: divulgação

Em contrapartida, Mark, como botânico graduado, improvisa uma estufa em seu alojamento; reaproveita as fezes armazenadas de seus colegas, e produz água através do composto químico hidrazina; com o intuito de cultivar batatas para sua precária alimentação. Posteriormente, o astronauta consegue chamar a atenção do centro de comando da NASA; o que serve como ponto de partida para uma longa missão de resgate.

O sci-fi, inspirado no romance homônimo de Andy Weir, foi um sucesso de crítica e público. Tanto que, em 2016, Perdido em Marte foi indicado a sete prêmios Oscar; incluindo Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Ator (para Damon). Além disso, o enredo verossímil, a trilha sonora divertida (com canções de ABBA, David Bowie e Donna Summer) e a direção de arte primorosa são fortes qualidades do filme.

Filhos da Esperança (2006)

Adaptado do romance de P. D. James e dirigido por Alfonso Cuarón (Gravidade, Roma), Filhos da Esperança é uma produção grandiosa. Em 2027, a pessoa mais jovem do mundo, de 18 anos de idade, acaba de morrer. Nessa realidade, Theo (Clive Owen) é um solitário burocrata do Reino Unido, que lida com o luto pela morte do filho há vinte anos. Já sua ex-esposa Julian (Julianne Moore) tornou-se, depois da perda do menino, a líder de Os Peixes, um grupo de ativistas a favor da imigração.

Em contrapartida aos ideais do grupo, no entanto, as Forças Armadas britânicas tentam impedir a nacionalização de refugiados no país. A partir disso, Os Peixes sequestram Theo e oferecem-lhe dinheiro em troca de um favor: conseguir os papéis de imigração da jovem Kee (Claire-Hope Ashitey). Então, o protagonista é convencido pelo aumento de seu pagamento a acompanhar a jovem ao longo de um trajeto.

‘Filhos da Esperança’/ Universal Studios

Mas, o que Theo sequer imagina é que Kee guarda um segredo que afetará toda a Humanidade: uma gravidez. Em seguida, e ao descobrir as reais intenções d’Os Peixes, o protagonista opta por guiar a jovem até o Projeto Humano; um grupo de cientistas, nos Açores, que buscaria por uma cura para a infertilidade mundial.

Como se não bastasse o rico roteiro, o filme de Cuarón é dotado de uma direção brilhante. Seus belos planos-sequências trazem o suspense necessário às inúmeras cenas de ação. Filhos da Esperança foi indicado ao Oscar 2007 de Roteiro Adaptado, Fotografia e Montagem.

Os Doze Macacos (1995)

Os Doze Macacos, de Terry Gilliam, é um sci-fi de mais de vinte anos, inspirado em um curta-metragem francês (La Jetée) de 1962. Assim, sua história e artifícios de roteiro podem ser considerados inovadores para a época de lançamento. O prisioneiro James Cole (Bruce Willis) vive nos subsolos de um futuro distópico; no qual um vírus mortal dizimou quase toda a população humana. Para diminuir a sua pena por assassinato, James voluntaria-se para alguns trabalhos na superfície deserta e contaminada.

Até que, em um dia, os cientistas que comandam suas missões oferecem-lhe viajar no tempo para tentar conter a contaminação viral. Na primeira viagem, James conhece a psiquiatra Kathryn Railly (Madeleine Stowe) e o interno de um hospital psiquiátrico, Jeffrey Goines (Brad Pitt). Logo, o protagonista associa a pandemia e o chamado Exército dos Doze Macacos, que teria permitido o contágio viral, com Jeffrey e seu pai, o virologista Leland Goines (Christopher Plummer).

Indicado ao Oscar de 1996, nas categorias de Ator Coadjuvante (Pitt) e Figurino, Os Doze Macacos é surpreendente. Isso porque o longa-metragem explora as consequências e as inevitabilidades de uma viagem temporal; considerando que, talvez, naquele universo, o tempo seja mesmo circular e/ou implacável. Além do que, a produção aborda a questão da sanidade mental e o que pode, de fato, garanti-la.

‘Os Doze Macacos’/ Universal Studios

Divino Amor (2019)

O único filme nacional desta lista é também o mais atual. Atual não somente pelo ano de lançamento, mas principalmente pela correlação metafórica com a realidade brasileira. No longa-metragem de Gabriel Mascaro (Boi Neon), Joana (Dira Paes) é a escrivã de um cartório, em um Brasil futurista. Uma mulher bastante religiosa, a protagonista enfrenta o divórcio de seus clientes levando-os a uma espécie de culto terapêutico; na esperança de reconciliá-los antes que tomem a decisão final de separação.

Simultaneamente, Joana tem de lidar com a infertilidade do marido, Danilo (Júlio Machado), com quem sonha em ter um filho. A partir daí, o casal inicia uma série de tratamentos para engravidar – e de cunho religioso. Longe de retratar a política vigente daquele cenário, Divino Amor foca muito mais na subjetividade da protagonista. Naturalmente, qualquer traço narrativo da produção contribui para a história de Joana.

Imagem: divulgação

Apesar disso, alguns elementos destacam-se independentemente da trama central; como a fotografia fluorescente e as imersões no cenário do filme. Um exemplo direto disto são as máquinas que detectam nome, estado civil e situação gestacional dos indivíduos. Outros, são o drive-thru de oração e a Festa do Amor Supremo (o festival cultural mais importante do país).

Portanto, mesmo que faça um recorte específico do próprio enredo, o longa de Mascaro representa uma nova leva do cinema nacional político. Divino Amor foi exibido e prestigiado no Festival de Sundance (EUA), tal como no Festival de Berlim (Alemanha) deste ano.

Planeta dos Macacos: O Confronto (2014)

Este é o segundo filme da trilogia iniciada em 2011, que é também uma prequela do sci-fi original de 1968. O primeiro Planeta dos Macacos, de Franklin J. Schaffner e inspirado no romance de Pierre Boulle, teve quatro sequências; lançadas entre 1970 e 1973. Já em 2001, Tim Burton encabeçou um remake malsucedido do original.

Agora, nesta década, a 20th Century Fox investiu em uma nova série de filmes. Dividida entre A Origem (2011), O Confronto e A Guerra (2017), a trilogia mais recente de Planeta dos Macacos foi um sucesso. Em A Origem, de Rupert Wyatt, o chimpanzé Caesar (Andy Serkis) sofre uma alteração neurológica; ao servir como cobaia no teste de uma droga contra o mal de Alzheimer. Em seguida, revoltado contra maus tratos, o macaco aplica a droga em companheiros da própria espécie e começa uma rebelião.

Imagem: divulgação

Por conseguinte, em O Confronto, de Matt Reeves, Caesar é o líder de milhares de símios. Enquanto isso, a raça humana – ou, o que restou dela – padece com os dez anos de uma pandemia viral; cujo vírus é o mesmo que modificou os macacos. Caesar firma, então, um acordo de paz com um grupo de humanos, liderado por Dreyfus (Gary Oldman). Mas, as intenções belicosas deste último e do bonobo Koba (Toby Kebbell) despertam um embate entre as raças.

O Confronto é, juntamente com sua sequência (também de Reeves), a obra com a maior média de avaliação da série; com 89% de aprovação no Rotten Tomatoes e 79 de nota geral no Metacritic. De qualquer forma, mesmo uma indicação ao Oscar (de Efeitos Visuais) não traduz suficientemente a qualidade do longa-metragem; que é das mais altas.

*Texto de introdução publicado originalmente em Os melhores sci-fi dos últimos 25 anos (pt. 1) – matéria de 03/07/19 do Francamente, querida!.

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