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Crítica: Democracia em Vertigem (Netflix)
No documentário nacional, uma produção original da Netflix – que estreou na última quarta-feira (19) –, a diretora Petra Costa esquematiza os motivos que a levam ao atual desamparo político e, em um resumo analítico das duas últimas décadas, parte da história de sua família para estancar uma ferida.
Recife Frio: como o curta-metragem de Kleber Mendonça Filho se encaixa num país que nega o aquecimento global
[Estreia] Excelentíssimos, sobre o impeachment de Dilma Rousseff, é didático e toma partido
[Coluna] O Doutrinador é uma infeliz tentativa de ser “isentão” no cinema nacional
, primeira grande produção sobre um herói brasileiro a chegar aos cinemas, nasceu dos quadrinhos homônimos de Luciano Cunha e estreou no início de novembro. Nenhum outro momento da história do país seria tão conturbado para sua chegada às salas de exibição quanto o que vivemos neste ano de eleição presidencial – coincidência ou não, a data de lançamento do longa foi alterada algumas vezes, e a estreia acabou acontecendo após o segundo turno das eleições.
[Coluna] É tempo de resistir. É tempo de se inspirar no filme Tatuagem
Este texto poderia ser um apanhado de indicações de filmes sobre o período da ditadura civil-militar brasileira, sobre a crueldade das torturas, a brutalidade da vida nos anos de chumbo, a indiferença da população civil diante da barbárie. Conhecer nossa história é fundamental, com certeza. Mas decidi fazer outro tipo de texto. Decidi que este texto seria sobre resistência, sobre como seguir em frente depois de termos eleito o fascismo nas urnas. Depois de termos arriscado nossa jovem e já problemática democracia. É por isso que precisamos falar sobre
[Coluna] Infiltrado na Klan, Donald Trump e o futuro do Brasil
[Estreia] Além do Homem, com Sérgio Guizé, aproveita-se de um Brasil estereotipado
Uma terra quente como o fogo, com vegetação tropical, mulheres sedutoras e malandros bem-humorados. Baseando sua narrativa em cima de uma fotografia colorida e nos elementos descritos, Além do Homem, com Sérgio Guizé, estreou nos cinemas na última quinta-feira (28).
Dirigido por Willy Biondani e, além de Guizé, estrelado por Fabrício Boliveira e Débora Nascimento, o longa-metragem aproveita-se de símbolos da Primeira Geração Romântica (da literatura) para sua composição – na qual o nacionalismo-indianismo buscava uma identidade nacional genuína. Paisagens naturais e paradisíacas, animais exóticos e seres humanos animados, e mal-intencionados, lembram-nos de romances como Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e Macunaíma, de Mário de Andrade; ambos protagonizados pela figura do anti-herói brasileiro.
Alberto Luppo (Guizé) é um tanto como o Leonardinho de Sargento de Milícias, mas em uma versão afrancesada e mais fresca. No filme, quando o jovem escritor, que há anos vive em Paris, tem de retornar ao Brasil à trabalho, ele é gradualmente envolvido pela atmosfera alegórica e arquetípica de sua terra natal.
Inicialmente, vemos Alberto como um homem individualista e eurocêntrico, que desvaloriza completamente a cultura popular brasileira. Já quando chega no Brasil, o protagonista faz questão de demonstrar toda a sua arrogância e opinião a respeito do povo nativo. E esse comportamento problemático do escritor jamais se modifica ao longo da história.
O primeiro personagem que Alberto encontra em seu país é um taxista “com ares de Macunaíma”, chamado Tião (Boliveira). A sensualidade e a sexualidade desta figura são características essenciais de sua personalidade. Durante boa parte do longa, Alberto procura por Tião nos arredores do albergue em que se hospeda; o que chega a ser até mesmo um pouco cansativo, em termos narrativos. A impressão que dá é a de que o taxista é uma figura folclórica, tal como o saci-pererê, que se esconde de forasteiros e os engana o tempo inteiro.
Seguindo essa linha, os demais personagens, como a hipersexualizada e mística Bethânia (Nascimento), e a fogosa Rosalinda (Flávia Garrafa), apresentam-nos pessoas altamente estereotipadas, e refletem uma clara intenção do diretor: a de valorizar todo o lado cultural brasileiro que se assemelhe a esse tipo de representação artística.
O tiro, no entanto, sai pela culatra, uma vez que, em pleno 2018, tais representações de gênero (através de mulheres magras, com quadris largos e seios grandes, e, principalmente, negras), está bastante defasada – e com motivos, diga-se de passagem. Não há como sentir empatia ou encantamento pela história de Alberto, se o enxergamos como um personagem machista e, de certo modo, xenofóbico. E, infelizmente, tal pensamento é inevitável a quem assiste ao filme com um olhar um pouco mais crítico.
É importante ressaltar que toda a composição dos cenários brasileiros, como se tudo aqui fosse exótico e maravilhoso – até mesmo a parte que explora a “malandragem” de nosso povo –, e não somente seu lado sexista, contribui para que vejamos Além do Homem com olhos de mau julgamento. Não é assim que a população nacional gosta de ter sua cultura e hábitos representados, no geral.
É claro que, para um estrangeiro, por exemplo, o filme pode ser mesmo fascinante. Entretanto, por termos plena consciência, aqui, de que
o Brasil é visto apenas como um local exótico, sem memória e muito pouco sério