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Por que Persépolis é uma obra cada vez mais atual
A animação francesa Persépolis – baseada nos quadrinhos autobiográficos e homônimos de Marjane Satrapi –, estreou no Festival de Cannes de 2007 e, tão logo, despertou um crescente interesse internacional. No festival, o filme recebeu o prêmio do júri; já no Oscar do ano seguinte, foi indicado na categoria de Melhor Animação, o que contribuiu para a fama relativamente popular do longa-metragem.
Escrito e dirigido pela própria Satrapi, ao lado de Vincent Paronnaud, a produção conta os momentos mais marcantes da infância e da juventude da iraniana Marjane. Em meio às atribulações do instável e violento governo do Irã setentista, a menina luta para manter-se bem e vivenciar tudo aquilo que fora restringido ao sexo masculino. Uma feminista “de coração” desde sempre, a protagonista da vida real vem de uma família de idealistas comunistas, com figuras extremamente interessantes e corajosas.
Ainda uma criança que sonha em se tornar vidente, Marjane perde seu querido tio, executado como inimigo do Estado. Com a passagem dos anos e o aumento das repressões (principalmente de gênero), a adolescente rebelde, que passa a curtir punk e, depois, heavy metal ocidental, entra em conflito com suas condições de vida limitadas e, como medida de proteção por parte de seus pais, é enviada à Áustria para terminar os estudos.
Na nova realidade, a jovem tem de lidar com uma comunicação diferenciada, novas companhias, outros hábitos alimentares e modos de enxergar a vida, em geral. O início é difícil, o meio é um pouco mais fácil e o final de temporada, em terras austríacas, é ainda mais cruel do que seu começo. Pulando de casa em casa e, posteriormente, vivendo nas ruas geladas do país europeu, Marjane retorna à casa dos pais, no Irã, após anos de “exílio”.
A animação em preto em branco é – infelizmente – cada vez mais atual no cenário contemporâneo. Isso, porque as guerras no Oriente Médio, a crise dos refugiados, a chamada islamofobia (medo ou aversão à comunidade muçulmana) e as discussões sobre feminismo são temas atualíssimos. Marjane, além de forte mulher, empoderada e de enorme consciência social, representa o que há de mais humano em um cidadão.
A honestidade do texto de Satrapi é admirável e, por mais duro que seja acompanhar a vida nada fácil da personagem, sentimos uma grande identificação com momentos pontuais de sua narração. Percebemos, a certa altura, que Marjane poderia ser qualquer garota, de quaisquer lugares do mundo. E, quanto mais bradamos por nosso direito de equidade social com o sexo masculino, mais nos aproximamos de jovens como a protagonista de Persépolis.
Por mais simples que seu traço seja, por mais única que sua história pareça ser e por melhor que seu destino tenha sido no futuro (nosso atual presente), a juventude de Marjane é um verdadeiro ensinamento sobre ética e a idealização de uma sociedade mais justa. Se você ainda não assistiu a Persépolis, dê uma chance e contemple essa breve – e intensa – história do início de uma vida.
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