Trapped: a série de TV mais cara da Islândia

Ao pensar em produções audiovisuais islandesas, que títulos passam pela sua cabeça? Provavelmente, não muitos. Nosso conhecimento sobre filmes e séries dos países escandinavos é restrito, quando não inexistente. Mas, nessas horas, o catálogo da Netflix pode revelar gratas surpresas e proporcionar quebras na barreira do desconhecido. Esse é o caso da série Trapped. Embora esteja disponível há algum tempo no serviço de streaming, a produção islandesa pode ter passado batido por muita gente.

Ambientada em uma pequena cidade afastada na Islândia, a trama começa quando os únicos três policiais do lugar, acostumados a lidar somente com multas e brigas de vizinhos, precisam investigar um crime que, a princípio, envolve um corpo mutilado encontrado no mar. Isolados por uma forte nevasca e a sem ajuda da polícia da capital, o delegado Andri (Ólafur Darri Ólafsson) e seus dois companheiros, Hinrika (Ilmur Kristjánsdóttir) e Ásgeir (Ingvar Eggert Sigurðsson), se deparam com segredos há muitos anos escondidos pela hipócrita elite do vilarejo.

Os policiais Ásgeir, Andri e Hinrika / Divulgação

Entre dramas familiares, farsas e aparências, disputas de poder econômico e político, e belas e cruéis paisagens gélidas, Trapped se mostra uma excelente série policial. Ao mesmo tempo em que a produção vai bem como um jogo cheio de obstáculos – por vezes perversos com os envolvidos –, ela também é eficaz como registro de uma cultura muito diferente da nossa.

Vários dos elementos da série podem causar algum tipo de estranhamento inicial. Não é necessário muito tempo para percebermos que não só o idioma nos parece inusitado, mas o alfabeto também. Ainda assim, assistir a produção com opção de áudio legendado é parte fundamental da experiência. 

Superado o idioma (e os nomes dos personagens), é provável que o próprio modo de vida islandês pareça “curioso”. Os policiais, por exemplo, nunca andam armados; a líder religiosa da cidade é uma mulher, e a relação de Andri com sua ex-esposa não tem nada de melodramática. Os personagens são contidos, mas não frios.

A série ainda faz questão de mostrar como as cidades não centrais do país são pouco povoadas e como a convivência com a neve e o gelo, que aos nossos olhos parece ser um imenso martírio, é parte do cotidiano daquele povo.

Imagem: divulgação

Sem dúvidas, as belas tomadas das paisagens inóspitas e repletas de mistérios tornam a cidade uma personagem fundamental para a trama, fazendo jus ao orçamento que a elevou ao patamar de série mais cara da Islândia (cada episódio custou aproximadamente 6 milhões de euros). Por isso, é possível caracterizar a produção como uma “série noir nórdica”, na qual o cenário rigoroso interfere diretamente nos rumos da investigação.  

Aos desavisados, Trapped pode parecer uma aposta de risco, mas, no fim das contas, o gênero policial proporciona familiaridade. Graças a popularidade e aos altos índices de audiência que conseguiu, a série foi renovada para uma segunda temporada que deve ir ao ar na TV islandesa em outubro. Essa pode ser  então uma boa hora para começar a assisti-la; afinal, independente de idioma ou das diferenças culturais, uma boa história sempre será uma boa história.

Ficha técnica

Criação: Baltasar Kormákur

País: Islândia

Ano: 2015

Elenco: Ilmur Kristjánsdóttir, Ingvar Eggert Sigurðsson, Ólafur Darri Ólafsson, Nína Dögg Filippusdóttir

Gênero: Policial, Drama, Suspense

Distribuição: Netflix

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