Ao contrário do que a mídia tradicional brasileira dá a entender, o Dia Internacional da Mulher não é uma data comemorativa. É um dia que simboliza toda a luta das mulheres que vieram antes de nós e das que estão ao nosso lado; dia de reflexão. Sendo assim, uma ótima maneira de passar por essa semana especial é valorizando o trabalho das pessoas que são as mais invisibilizadas no nosso cinema nacional: as mulheres negras.
De acordo com o boletim “Raça e gênero no cinema brasileiro”, do Instituto GEMAA, entre os anos de 1970 e 2016, os filmes com grande público (acima de 500 mil espectadores) foram predominantemente dirigidos por homens (98%). Um diretor não-branco sequer foi identificado, assim como, entre os 2% de diretoras mulheres, nenhuma é negra. Já segundo a Ancine, nenhuma mulher negra dirigiu ou roteirizou um longa-metragem nacional em 2016.
Em relação às histórias narradas nos filmes brasileiros de grande público, os dados do Instituto GEMAA também revelam que existe protagonismo maior de homens (60%), e quase todos brancos (50%). Numericamente, a participação das mulheres nos papéis de protagonismo é inferior (39%), porcentagem que piora, se analisarmos a variável raça. Nesse caso, enquanto que, a cada seis homens protagonistas, apenas um é negro, a proporção entre as mulheres é ainda maior, indicando que, a cada 18 mulheres protagonistas, apenas uma é negra.
Mesmo sem enormes audiências, essas diretoras estão aí, resistindo à indústria cinematográfica que as exclui, propondo narrativas e estéticas diversas, e fazendo belíssimos filmes. Por isso, selecionamos três ótimos curtas-metragens dirigidos por mulheres negras para você assistir gratuitamente no YouTube. Curtiu? Indique para os amigos.
1. AS MINAS DO RAP
Dirigido por Juliana Vicente, este curta documental traz entrevistas com importantes nomes do rap feminino nacional, e traça um panorama histórico muito significativo. Entrelaçando a trajetória do gênero musical com a participação das mulheres, o filme dá espaço para que essas artistas falem sobre as particularidades de suas carreiras, os obstáculos que enfrentam e a importância da coletividade feminina. Entre as entrevistadas estão: Karol Conka, Negra Li e MC Soffia.
(Fonte: pretaportefilmes / YouTube)
2. O DIA DE JERUSA
Em O Dia de Jerusa, a diretora Viviane Ferreira retrata, com imensa sensibilidade, as diferentes solidões que envolvem as mulheres negras jovens e idosas. No filme, Sílvia (Débora Marçal) é uma jovem pesquisadora de opinião que circula pelo bairro do Bixiga, em São Paulo, tentando fazer com que os moradores respondam a uma pesquisa sobre sabão em pó. Quando bate à porta de dona Jerusa (Léa Garcia), Sílvia é carinhosamente convidada para entrar e, a partir daí, as duas desconhecidas compartilham uma tarde de momentos felizes e muitas memórias.
(Fonte: Odunfp / YouTube)
3. A BONECA E O SILÊNCIO
A Boneca e o Silêncio, dirigido por Carol Rodrigues, é daqueles filmes que não acabam quando terminam. Seus 20 minutos são o suficiente para fazer faltar o ar.
Na trama, a atriz Morgana Naughty interpreta Marcela, uma garota de 14 anos que, de forma solitária e silenciosa, precisa decidir se segue com a gravidez e fica com o namorado, ou se interrompe a gestação mesmo sem ter dinheiro para um procedimento seguro.
A diretora, também roteirista, executa aqui um filme brilhante. Duro, mas necessário. Cada detalhe da narrativa e da direção são impressionantes. Além disso, várias questões são trazidas à tona, como a necessidade da legalização do aborto – principalmente para mulheres pobres e periféricas que não têm como pagar pela interrupção segura da gravidez –, o tabu que é falar sobre o assunto, a solidão de passar por um momento como esse, os riscos à vida das mulheres e a negligência masculina.
Observação: Se sangue ou aborto forem gatilho emocional pra você, não assista. Trata-se de um filme belíssimo, mas profundamente intenso.
(Fonte: Carol Rodrigues / YouTube)
(Para saber mais sobre direção cinematográfica feminina, clique aqui).
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