Em junho, a Netflix somou mais uma série francesa de investigação policial e suspense ao seu catálogo. Repetindo elementos de suas antecessoras A Louva-a-Deus e Glacé, O Bosque estreou como produção original da plataforma de streaming trazendo ao centro de sua narrativa desaparecimentos e crimes que acontecem num pequeno vilarejo do interior da França, onde todos se conhecem e estão, de certa forma, conectados por mistérios, mentiras e traições.
Aos 16 anos, Jennifer (Isis Guillaume), desaparece no meio da noite depois de entrar numa floresta. Logo em seguida, o capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe) passa a liderar a investigação sobre o sumiço da jovem com a policial local Virginie Musso (Suzanne Clément), que conhecia bem a moça. Eles são ajudados por Eve (Alexia Barlier), uma mulher solitária e com o passado enigmático.
Esse tipo de premissa é bastante semelhante a de Glacé, por exemplo. Um novo policial chega à pequena cidade remota do interior, um crime serve como gatilho para outros, o policial novo passa a trabalhar com a policial da cidade, a investigação desenterra segredos do passado dos moradores que, antes, acreditavam conhecer bem uns aos outros e a paisagem é fundamental para a trama – no caso de Glacé a paisagem glacial e aqui o bosque.
Logo após sua estreia, a série francesa também passou a ser comparada com Dark e Stranger Things. Essas comparações já soam um pouco mais forçadas, mas é possível compreender que elas surgem pela afeição que o público desenvolveu com tramas de suspense onde jovens desaparecem e personagens se relacionam misteriosamente com uma floresta.
Em O Bosque, entretanto, não há viagens no tempo, laboratórios secretos ou mundos invertidos – e nem crianças e jovens muito carismáticos. A série até tenta inserir algo simbolicamente sobrenatural na figura de um lobo branco que guia a professora Eve até as respostas que a floresta tem a lhe oferecer, mas esse elemento é conduzido mais como facilitação narrativa do que como componente imprescindível para a atmosfera misteriosa da produção.
Na verdade, o lobo chega a ser até destoante do resto da obra. Os seis episódios se enveredam totalmente pelo caminho do drama, sem viabilizar espaços para ficções científicas ou simbolismos. Resta para o lobo, então, apenas a função de ajudar a levar a personagem até onde for necessário para que a história caminhe como o planejado.
As motivações, protagonismos e envolvimentos dos personagens também são um pouco problemáticos. A princípio acreditamos que Jennifer seria a personagem principal e ficamos sem entender exatamente o porquê do interesse de Eve no caso. Claro que o mistério é solucionado, mas nada explica a proximidade entre as personagens. O desenvolvimento da policial Virginie também é negligente. Nunca sabemos que tipo de pessoa ela realmente é ou o que pensa.
No geral, O Bosque é uma boa série policial. Apesar de ser pouco autêntica, cometer alguns deslizes e de não contar com os personagens mais cativantes (ou desenvolvidos) das séries de TV, o roteiro é eficiente em manter a tensão ao longo de todos os episódios, as boas reviravoltas são convincentes e a investigação caminha com fluidez.
Não espere por inovações e muito menos por uma revolução no gênero. O Bosque não se equipara a Dark ou Stranger Things, mas segue uma cartilha que acaba funcionando, envolvendo e servindo como bom passatempo.
Ficha técnica
Criação: Delinda Jacobs
País: França
Ano: 2018
Elenco: Alexia Barlier, Frédéric Diefenthal, Martha Canga Antonio, Nicolas Marié, Samuel Labarthe
Gênero: Suspense, Policial
Distribuição: Netflix
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